A publicação em seu site oficial das Demonstrações Contábeis e Financeiras do 1º semestre de 2014 demonstram que o Flamengo continua fiel aos seguintes postulados:
– aumento das receitas, especialmente nos pilares patrocínio, bilheteria e sócio-torcedor;
– redução contínua do endividamento, principalmente o fiscal e contas a pagar;
– manutenção das certidões que permitem captação de recursos públicos, e;
– captação de empréstimos privados para cobrir as necessidades de caixa.
1 – Receitas
As receitas do clube tiveram um crescimento substancial de 61,5%, quando comparamos o 1º semestre de 2014 com o mesmo período de 2013, conforme demonstrado na tabela abaixo:
Além das rubricas de bilheteria, patrocínio e programa de Sócio-Torcedor, já citadas anteriormente, as receitas oriundas de incentivos fiscais a Esportes Olímpicos e a premiação pelo título do Campeonato Carioca contribuíram para que fosse alcançado esse crescimento. O incremento dessas rubricas contribuiu para a redução na participação da cota de TV no faturamento total: de 57% em 2013, para 38% no último semestre.
O aumento da receita foi substancialmente superior ao da despesa – 16% – e ocorreu, quase em sua totalidade, pelos custos com jogos, em razão dos valores elevados que o clube carrega por mandar seus jogos no Maracanã. Em relação ao orçamento, o CRF atingiu – e superou em 0,9% – o patamar de receita projetado para o semestre.
Se o Flamengo repetir esse desempenho no 2º semestre, e caso não tenhamos nenhuma venda extraordinária de direitos federativos por outro clube grande, provavelmente deverá fechar o ano com o maior faturamento do futebol brasileiro. Desconsiderando arrecadação com direitos federativos, será a segunda vez consecutiva que isso ocorre.
2 – Resultado por atividade
Os Esportes Olímpicos, que historicamente eram deficitários e utilizavam recursos do futebol, contribuindo para o aumento do endividamento, fecharam o 1º semestre de 2014 com superávit de R$ 792 mil, quando tinham sido deficitários em R$ 6,7 milhões no mesmo período de 2013. Até o clube social, que ainda permaneceu deficitário em R$ 1,5 milhão, reduziu esse déficit substancialmente (era de R$ 4,2 milhões em 2013). Isto é, os sócios do clube social ainda são bancados por receitas de outros setores.
O resultado operacional do futebol cresceu 186% em relação a 2013, ou R$ 36,7 milhões. Os três resultados foram suficientes para cobrir as despesas financeiras (juros da dívida) e apresentar um superávit de R$ 39,1 milhões, quando no 1º semestre de 2013 tinha sido um déficit de R$ 11 milhões.
3 – Endividamento
O aumento de receitas em percentual muito superior ao da despesa, contribuiu para a redução do endividamento do clube, movimento que já havia se iniciado em 2013, e no semestre foi de R$ 37,3 milhões (5,8%), conforme demonstrado abaixo:
A composição do Passivo registrou um leve piora, com o Passivo Circulante aumentando sua proporção de 26,8% para 29,1%. As dívidas fiscais, que fecharam o semestre representando 44,5% do passivo do clube, tiveram uma redução de R$ 12,8 milhões, enquanto os empréstimos, 15,2% do passivo, um crescimento de R$ 11,7 milhões. Portanto, se observa que o clube contrata empréstimos para pagar dívidas fiscais, manter as certidões e poder alavancar receitas públicas.
Conclusão
A diretoria do Flamengo vem sendo fiel ao seu discurso, de ser um clube-cidadão. Mesmo que isso custe a necessidade de contrair novos empréstimos, o clube mantém o pagamento de impostos em dia, podendo, assim, captar recursos públicos e evitar penhoras.
O clube não caiu na tentação de se endividar para contratar jogadores ou aumentar outras despesas. Reduzir o endividamento sem ter registrado receita substancial com venda de direitos federativos é um fato inédito no passado recente do futebol brasileiro. Ao contrário, o que mais se observa é o aumento do endividamento dos grandes clubes – em alguns casos, nem a venda de direitos de jogadores consegue reverter isso.
Vale frisar o mesmo ponto de atenção destacado na análise do 1º trimestre de 2014: o clube vem aumentando seu passivo de empréstimos que, em teoria, possuem uma taxa de juros mais alta e, portanto, deveria buscar, como meta, pagar os impostos e demais despesas sem a necessidade de novos financiamentos, o que talvez seja possível com o novo refinanciamento aberto para os clubes.
Resta, agora, conciliar os aspectos financeiros à excelência técnica, isto é, obter dentro de campo os ótimos resultados que vem apurando fora dele.
Fonte: Sócios pelo Flamengo