O Fluminense – O futebol Carioca ainda não foi infectado pela “síndrome da torcida única”, mas parece ser apenas uma questão de tempo. O mau exemplo do Ministério Público de São Paulo, ao admitir que a partida entre Palmeiras x Corinthians, na Arena Palestra, não tinha condições de comportar as duas torcidas, mostra que o futebol vem sendo minado por uma minoria barulhenta e contagiosa. Uma lógica foi trabalhada pelo órgão: se existe confusão entre as torcidas, que apenas uma esteja no estádio. Seguindo este caminho, tudo caiu por terra no momento em que torcedores de “organizadas” do Vasco, semana passada, precisaram ser separados por um cordão de isolamento, em São Januário, além de torcedores do Corinthians, que trocaram socos entre si, no Derby paulista, neste final de semana. O argumento foi inválido.
Câncer do futebol nacional, ainda defendido por dirigentes e alguns torcedores, as “organizadas” dos clubes incentivam a violência e engrossam o caldo da crescente criminalidade no esporte. As cenas lamentáveis tomam cada dia mais espaço do lugar onde a festa, a alegria e o bom papo eram certezas. A selvageria desta minoria avassaladora afasta pais, filhos e famílias dos estádios, casa do povo, onde a união das pessoas sempre foi um bem intocável. A ideia estabelecida de que o torcedor brigão é sempre o mais fanático, ou que o integrante da organizada “canta mais” é algo a ser transformado. O clima que antes era de celebração no estádio, deu lugar ao ódio, a inimizade. E assumir a incapacidade de reverter esse quadro é passar recibo para violência, para o mau, para o tumor maligno, que mesmo após algumas sessões de quimioterapia, insiste em figurar no corpo de nosso futebol.
Em um país relativamente sério, quando existe agressão contra alguém, a prisão seria o caminho natural para o agressor. Agora, uniformizado e dentro de um estádio, as punições parecem ser diferentes, vide os 12 corinthianos presos em Oruro, na Bolívia, acusados de matar o jovem Kevin Espada, com um rojão, e que hoje estão em liberdade. É inconcebível pensar que não se pode colocar, juntos, rubro-negros e vascaínos, corintianos e palmeirenses ou atleticanos e cruzeirenses, dentro de um mesmo espaço. Existindo confusão, é cadeia neles amigos!
O torcedor de bem não pode pagar por marginais que insistem em estragar a festa. O equilíbrio que duas torcidas causam dentro de um estádio é imensurável, indescritível, é canto daqui e canto de lá, é união, é celebração. E qualquer um que cogitar acabar com a magia do futebol deve ser combatido com sabedoria e atitude. Não podemos ceder, muito menos sucumbir a violência. E quando a síndrome nos ameaçar, precisamos estar preparados.
David Tavares