Quando a escalação inicial do último jogo saiu a primeira reação de todos foi reclamar do excesso de volantes e de não começar com Eduardo em campo, mas após o início do jogo as reclamações pioraram ainda mais e o próprio Luxemburgo reconheceu a necessidade de mudar ao colocar Nixon (muito melhor que Arthur em todos os fundamentos), porém o time só realmente melhorou com a entrada de Eduardo e Mugni, porém a pergunta que fica é: Porque Luxemburgo não começa com eles desde o início?
Para descobrir a resposta precisamos olhar o time como um todo, ver o posicionamento dos jogadores da defesa e, ainda mais importante, buscar análises extracampo para entender a escalação de alguns jogadores e, por isso, resolvi escrever este texto. Por que Léo Moura continua sendo escalado mesmo após vários desempenhos muito ruins em vários jogos e sendo a lateral direita principal via de ataque dos adversários?
Alguns dizem que Léo Moura é a referência do time, que se tirá-lo de campo perderá o grupo, outros falam que possui costas quentes com a diretoria, outros ainda apelam para o mito de que não tem quem pôr no lugar. Algumas dessas possibilidades levantadas pela torcida tem fundamento, mas numa lógica um pouco diferente da que parte da torcida que idolatra o jogador – e não é maioria e está cada vez menor – usa:
A frase mais usada pelos fãs é: Léo Moura é ídolo, ganhou tudo pelo Flamengo. Não ganhou títulos internacionais, tão pouco foi fundamental em algum dos títulos importantes conquistados pelo Flamengo enquanto esteve no clube. Léo Moura estava lá, entre os titulares, e isso é o suficiente para dizer que ele é campeão. Um exemplo parecido, mas em outro nível, é Márcio Braga, considerado o melhor presidente da história do Flamengo pelos títulos conquistados em suas gestões, mas ninguém fala das dívidas e péssimas práticas administrativas, menos ainda dos anos em que o time brigou para não cair ou fez campanhas pífias nesses mesmos mandatos.
Talvez o maior destaque de Léo Moura seja no extracampo, onde não se pode ignorar sua importância no grupo de jogadores e para a diretoria do clube. Durante os anos de sua permanência no clube vários treinadores foram derrubados, principalmente os mais exigentes que cobravam comprometimento e aplicavam muitos treinamentos, tendo mais longevidade os treinadores que baseiam o trabalho em coletivo e rachão, podem dizer que não há provas de Léo Moura tenha feito movimentos para derrubar todos estes treinadores, mas há prova de que ajudou a articular a demissão de Luxemburgo:
“O Flamengo estava na Bolívia. O Leo Moura foi quem me ligou primeiro. O Ronaldinho ligou depois. Eles disseram que o Vanderlei não ficaria e que já tinham falado com a Patricia (Amorim) que me queriam lá.” – Renato Gaúcho
Já nos bastidores do lado inverso do organograma Léo Moura é acusado de ajudar os dirigentes a limar jogadores e a acalmar os ânimos de outros, sendo um dos casos mais polêmicos dos últimos tempos o oferecimento da cabeça de Renato Abreu a atual diretoria.
Não é segredo também que Léo Moura tem fama de X-9, se notarmos bem após as “bombas” divulgadas por alguns jornalistas logo aparece uma ou outra reportagem elogiosa a Léo Moura, geralmente ligada a algo extracampo como visitas a instituições, férias, linhas de roupas ou qualquer outra coisa que promova a imagem dele. Inclusive um caso notório é a surpresa de Patrícia Amorim ao ser questionada sobre a demissão de Luxemburgo e contratação de Joel Santana, quando só havia dito isso ao Léo Moura.
Outro ponto questionado, principalmente após o retorno do Campeonato Brasileiro após a Copa do Mundo e a sequência de humilhações, é que mesmo que a torcida questionasse Ney Franco e culpasse André Santos, Elano, Felipe e Léo Moura pelos sucessivos fracassos, só o último foi poupado dos protestos das organizadas. Não falta quem diga que o capitão é um discreto mecenas das maiores torcidas, as quais volta e meia elogia em seu twitter.
Por fim, o maior mito criado nos últimos tempos é o de que não existe substituto para a lateral direita, mas na história recente o limitado Wellington Silva barrou na bola Léo Moura, resolvendo um grande problema na lateral direita sob o comando de Dorival Júnior. Aliás, realmente é curioso o fato de que Léo Moura não renovou e prolongou ao máximo as negociações, chegando a sair do clube, até que a saída de Wellington Silva estivesse sacramentada. Como único lateral direito do elenco, no ato da negociação já em cima do retorno das atividades de 2013, Léo Moura teve alto poder de barganha para negociar com Pelaipe, cuja competência com contratos é notória como vimos nos casos de Carlos Eduardo, André Santos, Elano e outros com salários completamente compatíveis com seu desempenho em campo.
Com todo esse suporte extracampo dá para tentar entender melhor os malabarismos feitos para mantê-lo como titular do time. Ney Franco chegou a testar Léo Moura no meio-campo improvisando Márcio Araújo na lateral, onde foi muito bem diga-se, já Luxemburgo superlota o meio-campo de volantes para aumentar o número de “falsos laterais” que jogam pelo Léo Moura, porém comprometendo o funcionamento do meio e, por consequência, do ataque.
Eduardo ainda não pode jogar os 90 minutos, poderia jogar 60 ou 70, porém não adianta colocá-lo em campo sem Mugni, pois sem um meia para ligar a defesa e o ataque ele tem que recuar muito para buscar a bola e articular as jogadas, de modo que ao invés de jogar em 1/3 do campo, ele acaba tendo que correr em 2/3 e isso aumenta muito o seu desgaste físico e faz cair para quase metade do possível seu tempo de jogo em alto nível. Entretanto, para colocar Mugni em campo, passa a ser necessário tirar um volante e, portanto, um dos dois escudeiros que tomam conta dos buracos deixados por Léo Moura tanto a frente quanto atrás.
Geralmente um escudeiro defende mais e outro ataca mais como no jogo passado, em que inicialmente Luiz Antônio e Márcio Araújo jogavam na direita, o primeiro atacando mais e o segundo defendendo mais, porém com a substituição de Luiz Antônio por Nixon, Canteros passou a jogar revezando com Márcio Araújo na região da lateral direita, fazendo com que o lado esquerdo ficasse mais frágil, obrigando João Paulo a subir menos e Éverton a voltar muito mais. Quando Márcio Araújo saiu, Cáceres passou a ter que cobrir mais Léo Moura e o número de faltas dele por ali evidenciou o sacrifício de ter que proteger uma área bem maior do campo com menos apoio. Se ficarem na dúvida, reparem nos próximos jogos, todos tem a mesma dinâmica, mesmo quando Léo Moura aparentemente “joga mais”.
Por fim, além da falta de raça e vontade em campo, notada principalmente no estádio por quem vê o jogador trotar mesmo quando estão atacando pelo seu lado, temos em Léo Moura o anti-capitão. Não o vemos passar qualquer instrução aos companheiros, quando há discussão em campo ele só chega depois que outros separaram, nunca o vemos dar incentivo – o famoso gesto de bater palmas e gritar palavras de apoio aos companheiros após um gol sofrido ou ataque perdido – também é notória sua ausência nas entrevistas na lateral do campo ou após os jogos quando o time está mal, já quando está vencendo ele sempre aparece para dar declarações animadoras e otimistas. Se quiserem ter um ponto de comparação tentem lembrar ou ver VTs de jogos do ano passado e ver o comportamento de Elias em campo e compararem com o de Léo Moura e digam quem era o verdadeiro capitão, hoje Wallace é um dos que tenta em campo exercer a função.
Mesmo estando no banco Léo não entra para jogar, o motivo da obrigatoriedade da escalação do Léo Moura já rendeu a ele o apelido de dono do time. Mas independente dos motivos, temos claro que não importa o que aconteça, enquanto Léo Moura não estiver machucado ou suspenso irá jogar e será insubstituível e, assim, resta a Luxemburgo buscar alternativas para fechar a avenida na lateral direita e o mais intuitivo é colocar muitos volantes para manter a consistência defensiva, porém isso agrava o problema da transição para o ataque e torna o meio incapaz de produzir jogadas ofensivas que não estejam baseadas em lançamentos para alguém correr como um louco até a linha de fundo pra cruzar.
Eu não considero produtivo deixar um armador no banco e ficar 45 a 60 minutos de jogo todo entrincheirado rezando para não sofrer gol e jogar futebol apenas nos vinte minutos finais. Prefiro que haja alguém em campo para manter a posse da bola, tentar diversificar as jogadas de ataque para dificultar a marcação adversária, enfim, criar, tentar um passe diferenciado, surpreender, aparecer de trás e chutar, tabelar e fazer triangulações, função que só Mugni e Mattheus sabem fazer no elenco e, mesmo que estejam longe de serem Zico, D’Alessandro ou Conca, são melhores que nada, qualquer um ali povoando o meio é melhor que absolutamente nada. E não adianta acharem que Canteros pode executar a função, acaba prejudicando a marcação e não funciona na frente já que o jogador vem de um campeonato com um ritmo bem mais cadenciado de jogo, sem a velocidade que temos no futebol brasileiro.
Enfim, entendo que a escolha de Luxemburgo é difícil quando ele não tem o poder de fazer a escolha que realmente importa, porém não se pode sacrificar tanto o time em função de um jogador que é menos um. Eu tentaria usar Wallace, que adora ir à frente no jogo e tem alguma qualidade de passe, como 1° volante –falso 3° zagueiro – e deixaria Cáceres e Canteros jogarem como 2° volante, mais precisamente como os vértices laterais do losango, que teria Mugni na frente, assim Éverton passaria a ser 2° atacante ou lateral esquerdo. Exemplo para o próximo jogo:
No 1° tempo: Paulo Victor – Léo Moura, Marcelo, Samir, João Paulo – Wallace, Cáceres, Canteros, Mugni – Éverton e Nixon.
No 2° tempo: Paulo Victor – Léo Moura, Marcelo, Samir, Éverton – Wallace, Cáceres, Canteros, Mugni – Eduardo e Nixon.
Sobrariam ainda 2 substituições para mudar o jogo, podendo aumentar o poder defensivo com M. Araújo, a criação colocando Mattheus no lugar de Nixon que pode executar a função de atacante e qualificar mais o passe ao mesmo tempo (foi usado assim por Ney Franco e foi muito bem) e ainda acrescentar velocidade com Gabriel ou Paulinho quando suas “lesões” melhorarem.
Saudações Rubro-Negras
Fonte: Flamengo Em Foco