Rodrigo Capelo – Quanto um clube de futebol brasileiro poderia arrecadar se estádios fossem absolutamente seguros? O dobro do que fatura nas condições atuais, segundo estudo acadêmico feito Rodolfo Ribeiro, professor de administração e marketing e líder do núcleo de pesquisas em futebol do Senac em São Paulo.
Considere a seguinte hipótese: seu time vai enfrentar o principal adversário, clássico, na final da Copa Sul-Americana – foi considerada esta competição, não a Copa Libertadores, porque o pesquisador supôs que na Libertadores o torcedor está disposto a assumir mais riscos para ir à partida. O ingresso custa R$ 100. Com a segurança de hoje, a probabilidade de o torcedor comprar a entrada é de 44,5%. O estádio vai lotar, porque o apelo da ocasião é muito alto, o que não quer dizer que todo o potencial de receita foi atingido.
Agora imagine que, nesse mesmo contexto, a segurança seja garantida. Há polícia na região, acesso facilitado, harmonia entre torcidas. Nada de briga, nem bomba. Internacional e Grêmio mostraram que isso é possível este ano mesmo com torcida mista, por isso ilustram este texto. A probabilidade de compra do tíquete sobe para 67,3%. O estádio tem o mesmo tamanho e vai lotar com maior facilidade, portanto o clube pode cobrar mais caro pelo ingresso – R$ 209, pouco mais que o dobro da segurança atual.
– A probabilidade de compra de um ingresso nunca chega a 100%, porque há pessoas que não se interessam por ele. Não importa o preço que você coloque numa manteiga, por exemplo, há pessoas que não se interessam pelo produto mesmo que ele esteja barato. Mas à medida que o preço se altera a probabilidade de compra aumenta e gera crescimento na demanda – explica o professor ao blog.
O estudo foi feito em duas etapas. Na primeira, a coleta dos dados, 187 pessoas responderam questionários online que simulavam a escolha por um ingresso. Para cada jogo, mudavam preço, adversário e horário da partida. Havia duas opções: comprar ou não comprar. Cada indivíduo pôde escolher quantos jogos quisesse, inclusive nenhum. Entre essas pessoas, havia 80,2% de homens e 19,8% de mulheres, e idades variaram entre 16 e 87 anos, com média de 29,7 anos.
Na segunda etapa, a análise dos dados, Ribeiro usou modelagem estatística conhecida como regressão logística para calcular a intenção de compra do torcedor conforme cada variável. A confiabilidade do resultado na hipótese citada acima, a “margem de erro”, segundo o professor, é de 95%.
É evidente que a arrecadação adicional que clubes teriam com segurança absoluta varia conforme duas outras variáveis, tamanho de torcida e tamanho de estádio, não consideradas neste estudo. Mas este é um parâmetro acadêmico que vale para todo time, com suas devidas variações, para medir quanto se perde por entidades esportivas e poder público negligenciarem a segurança no futebol. E é muito dinheiro.