Esta notícia do movimento do futebol do Flamengo, operando a contratação do jovem e promissor Marcelo Cirino, confesso, mudou meu humor e, na realidade, está sendo um autêntico tapete vermelho e preto para ir de encontro a 2015.
Volto no tempo e rememoro os momentos de tensão e angústia quando nos propusemos a contratar o meia Lúcio, revelação do Campeonato Brasileiro pelo Goiás. A correria de todos os grandes clubes foi enorme. Todos, eu disse todos, os grandes do Rio, São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul, colocaram suas fichas na mesa. De fora, Milan e La Coruña. Guerra complicada…
A nossa grande vantagem sobre todos foi a afinidade que virou amizade com Hailê Pinheiro, presidente do Goiás. Foram tantos os papos, as idas a Goiás, que Hailê conduziu a negociação de forma a colocar Lúcio no Flamengo. A nossa operação para adquirir os recursos era com a Umbro, que após algumas idas nossas a Londres, deu sinal verde, porém sem tempo suficiente para fazer que, em tempo hábil, o dinheiro chegasse ao Brasil. O que fazer? Tínhamos um prazo para entregar um cheque, ou efetuar um depósito. Correria louca e, desculpem a falta de modéstia, momentaneamente, por respeito à verdade, abandonando a segunda pessoa do plural e ficando na primeira do singular, aos 45 do segundo tempo, entreguei o cheque ao Goiás que, posteriormente, me foi devolvido com o depósito feito pelo Flamengo. Uma loucura…
Continuo voltando no tempo e me vejo em 1997, quando em minha casa, Paulo Autuori, nosso treinador, me entregou uma relação com cinco nomes que, segundo ele, fariam o Flamengo ganhar tudo em 98. Os nomes eram: Rodrigo Fabri, melhor jogador em atividade no Brasil, que jogava na Portuguesa de Desportos; Zé Roberto, do Real Madrid; Romário, do Valência; Palhinha, do Palma de Mallorca; e Cleyson, do Cruzeiro. Que missão, hein?
Comecei pelo número 1, Rodrigo Fabri. Procurei o presidente da Portuguesa e recebi dele a informação de que o Real Madrid havia pago um “pedágio” de um milhão de dólares e, pagando mais nove milhões, ficaria com o jogador. Peguei um avião e fui procurar o presidente do Real Madrid, Lorenzo Sanz, que desde o primeiro momento foi muito simpático, e esta sinergia também se transformou em amizade, após três semanas em Madrid. De cara, perguntei o que pretendia fazer, se pagar ou não os nove milhões para ficar com Rodrigo Fabri. Pegou o telefone e chamou Pepe, ex-jogador e, naquele momento, gerente de futebol. Pepe disse que tinha dúvidas com relação ao valor do investimento, embora as informações sobre o jogador fossem muito positivas. Como senti uma certa insegurança por parte deles, propus um seguro. Lorenzo imaginou que eu trabalhasse em alguma seguradora. Ri, disse que não e expliquei. Como eles tinham dúvidas, sugeri que o Real pagasse os 9 milhões, colocasse o jogador no Flamengo por três anos, findo os quais, o Real poderia ter o jogador ou não. Se fosse ele bem, iriam simplesmente resgatá-lo. Se não fosse Rodrigo Fabri o que se esperava, estipularíamos os valores dos passes de Sávio, por 20 milhões de dólares, e de Jr. Baiano, por 12 milhões, e o Real escolheria um deles, pagando a diferença. A ideia mexeu com eles, só que no dia seguinte, quando estava no gabinete de Lorenzo Sanz, esbaforido entrou o gerente Pepe. Como senti um clima tenso, disse que sairia para que ficassem à vontade. Lorenzo, dizendo que eu já era da família, disse para que eu ficasse e, acabei ouvindo o motivo da confusão. Zé Roberto se negava a jogar na lateral e o treinador, irritado, disse que não queria mais trabalhar com ele. Ouvi tudo e, após o nosso almoço, regado a vinho espetacular e inúmeras baforadas de charuto, disse que tinha uma proposta. Sávio, no Real Madrid. O Real compra definitivamente Rodrigo Fabri e o divide com o Flamengo, 50 por cento dos direitos econômicos para cada clube, com o Flamengo tendo o direito de utilizá-lo nos três primeiros anos. Daí em diante, um ano em cada clube. Em caso de venda, 50 por cento para cada lado. Zé Roberto: 100 por cento dos direitos econômicos para o Flamengo. Romário e Palhinha: O Real se obrigava a negociar com Valência e Palma de Mallorca e, colocá-los, sem nenhum custo, no Flamengo. Este almoço invadiu o jantar e, de madrugada, batemos o martelo. A lista de Paulo Autuori foi atendida na totalidade, pois na volta contratamos Palhinha ao Cruzeiro.
Por que estou contando isso? Por imaginar o quão trabalhosa e complicada, deve ter sido a operação para sensibilizar o fundo de investimento a colocar Marcelo Cirino no Flamengo.
Ontem, esqueci de mencionar que, Corinthians e Grêmio, tentaram de tudo para ter o jogador.
Enfim, como Marcelo Cirino vai se sair, só Deus sabe. O que faço questão de registrar é que, no que compete aos dirigentes, foi marcado um gol de placa, sim!!!
Tomara que Marcelo Cirino seja muito mais do que representaram para o Flamengo, Lucio e Rodrigo Fabri, mas isto é uma outra história. O que vale, é que os dirigentes do Flamengo, com coragem e criatividade, pagaram para ver. E como não pagar para ver alguém que foi a revelação do Campeonato Brasileiro?
Agora, está faltando o garçom… Se vier, 2015 vai ser um belo ano.
Fonte: Blog do Kleber Leite