Simples, humilde, de fala mansa, um verdadeiro professor. Estas são as características mais marcantes de um dos grandes ídolos do Flamengo. Morreu ontem aos 77 anos Luiz Carlos Nunes da Silva, ou simplesmente Carlinhos, vítima de uma insuficiência cardíaca.
Muitos de nós não chegaram a ver o “Violino” em ação como jogador, mas o que me foi passado durante todos esses anos é que Carlinhos foi um volante de classe, elegância e e extrema técnica (o que lhe rendeu o apelido de Violino). Carlinhos só vestiu a camisa rubro-negra em toda a carreira. De 1958 a 1969, participou das conquistas de dois campeonatos estaduais (1963 e 1965) e também foi campeão do Torneio Rio-São Paulo (1961).
Porém, a minha história de admiração por Carlinhos vem de sua fase como técnico. Carlinhos e sua simplicidade eram de uma grandeza tal que, sempre quando se fazia necessário, sempre que estourava uma crise, sempre que um técnico era demitido, o Flamengo efetivava o Violino. Ele chegava, já era de casa, conhecia todos os funcionários, era calmo, tudo se tranquilizava e muitas vezes o título chegava. Calmo, tranquilo, sereno.
Lembro-me de às vezes me irritar com tanta calma. O time mal, muitas vezes perdido em campo e ele lá, raramente se levantava, e quando levantava eu pensava: “Agora ele dá uma bronca nesse time!”, ele simplesmente caminhava até a beira do campo, abria os braços em desaprovação ou então chamava um jogador e passava o recado em seu ouvido, sempre discreto. E invariavelmente o time melhorava em suas mãos.
De 87 à 92 Carlinhos esteve muito presente no Flamengo, entre idas e vindas, e sempre com títulos. E eu, um adolescente fanático pelo Flamengo tive este homem de fala mansa como ídolo. O primeiro que não usava chuteiras. Um gênio!
Em sua última passagem, já com outra geração, foi campeão de novo. Em 1999 e 2000 vencemos os dois cariocas e a Copa Mercosul de 1999, o que equivale hoje a Copa Sulamericana. Vejam a comemoração dele no gol de Lê, que nos deu o título da Mercosul, esse era Carlinhos! Extremamente competente, e sempre muito contido.
Carlinhos fará muita falta ao Flamengo. Sua presença já fazia falta neste “futebol moderno e profissional”, onde poucos são os que se identificam com um clube, onde o dinheiro fala mais alto, onde todos têm milhares de assessores, onde todas as respostas e comportamentos são padronizados. Ele era único. Era diferente e vencedor.
Ao Leo Moura, nosso ex-capitão, que ele possa aprender como ultima lição de Carlinhos, como deve se comportar um ídolo, como é a postura de um jogador que realmente ama um clube. É…acho que estou pedindo demais.
Carlinhos, descanse em paz. Você fez com excelência a sua parte. Obrigado por tantas alegrias, por tanta identificação e tanto comprometimento com o Flamengo. Obrigado por me fazer tantas vezes feliz!
VAMOS FLAMENGO!
Marcos Vinicius Beton Amorim
marcos.amorim@colunadofla.com.br