Fonte: GE
Não são poucos os goleiros fãs de Taffarel. Nem raros os erros na trajetória do profissional que atua na denominada “posição ingrata”. César integra os dois grupos. São apenas 23 anos de idade, mas os pênaltis defendidos, aliados ao famoso bordão de Galvão Bueno, fizeram do camisa 1 do tetra ídolo do rubro-negro. Falhas também apareceram no momento de maior evidência do jovem, porém não fez bico nem as negou num primeiro momento, prometendo analisá-las. Queria assisti-las à exaustão e assim o fez. E admitiu: vacilou contra Atlético-MG, Figueirense e em lance menos decisivo diante do Joinville. Todavia também faz uma positiva autocrítica. Aliás, autocrítica é algo que aprendeu a ter, na derrota ou na vitória. Legado do trabalho com Nando, seu preparador na base.
– Contra o Atlético (primeiro jogo após Paulo Victor fraturar a fíbula da perna direita), me senti bem no jogo, mas talvez no segundo gol, em que fui um pouco questionado, eu olhei, observei diversas vezes. Acho que em todos os jogos faço isso desde quando comecei. Realmente na questão técnica talvez eu pudesse ter feito uma grande defesa ali, mas tanto no jogo contra o Atlético quanto nos outros jogos, consegui pegar uma experiência diferente, viver ambientes diferentes. Cresci em cada jogo e cada partida. Também teve uma saída de gol contra o Joinville, que pude observar um pouco. Dei uma passadinha para frente e acabei errando, mas acho que precisava de sequência de jogo e de um ritmo para que a tranquilidade pudesse vir e eu pudesse realizar as defesas. Quando as defesas vêm, a gente fica mais confiante e tem mais tranquilidade para trabalhar. Desde o primeiro jogo, independentemente do que aconteceu, pude crescer e aprender com erros para saber no que preciso evoluir.
César, com 15 jogos como profissional do Flamengo, muito provavelmente fará contra o Goiás, domingo, às 16h, no Serra Dourada, sua última partida antes da volta de Paulo Victor, que clinicamente já está curado. O camisa 37 rubro-negro aponta o duelo com o Náutico, no último dia 15, como o que lhe deu segurança. Foi decisivo três vezes, principalmente em finalizações de Douglas e Bergson.
– Acho que talvez no começo houve um pouco a ansiedade, essa ânsia de querer acertar, de fazer o melhor. Queria sempre acertar, fazer as coisas caminharem da melhor maneira possível, realmente fiquei um pouco ansioso. Depois que a primeira defesa veio e, principalmente no jogo com o Náutico, realmente me senti mais confiante e tive a certeza de que as coisas dariam certo.
Confira bate-papo com o goleiro César:
Você foi muito bem contra Náutico e Grêmio. O que fez de diferente nesses dois últimos jogos?
Na verdade, desde que entrei, coloquei na minha cabeça que uma hora uma boa partida sairia. Então eu sabia da responsabilidade de substituir e representar um dos maiores goleiros do Brasil (Paulo Victor). Falei isso desde o começo. Eu precisava ter essa tranquilidade, porque uma hora as coisas iriam acontecer. Uma hora a defesa iria sair, as saídas de gol se encaixariam. Lembro que antes desses jogos passávamos uma situação difícil, sempre pensei que as coisas mudariam. Nunca perdi a confiança de que era possível mudar e reverter.
Você citou as falhas contra Atlético-MG e Joinville, mas não acha que errou também contra o Figueirense, no gol de falta?
Naquele jogo me senti tão bem, estava tão bem no jogo, fiz três defesas, mas acabou que a falta ficou bem marcada. Só consegui me movimentar depois que a bola passou da barreira. A falta era próxima, então realmente precisava de cinco (na formação) ali. Só que na hora da batida, um jogador deles foi para barreira, e o Canteros foi junto. Então, na verdade, ficaram sete na minha frente, eu olhava para a bola por baixo das pernas do Canteros. E quando ele bateu, só consegui reagir depois que passou pela barreira, e foi exatamente quando consegui ver a bola. Então realmente o que consegui fazer foi dar uma passada e saltar. Talvez se eu mandasse o Canteros sair, mesmo que tivesse um jogador ali, eu conseguiria ver um pouco melhor e sair na hora da batida dele. Talvez meu erro tenha sido não ter chamado o Canteros ou pedir para a barreira abrir um pouco mais.
Você não confirma se joga contra o Goiás, mas a tendência é essa. Como encara o jogo?
Eu não sei o que vai acontecer, mas tenho me preparado para que possa jogar esse jogo, assim como para todos os outros. Eu (entro) agora, com mais confiança e mais partidas que realizei, realmente com mais confiança, essa sequência. Vai ser meu nono jogo em sequência. Cada jogo sinto uma evolução diferente e minha autocrítica não pode acabar nunca. Eu sempre preciso analisar meus erros, ver o que errei, porque eu quero acertar. Tenho certeza que posso melhorar e quero melhorar sempre. Tem muita coisa para acontecer na minha carreira, muitos jogos para jogar, e erros virão. Se eu não entender que eu preciso observar meus erros para eu melhorar, eu não consigo crescer. Se eu achar que estou certo em tudo ou me bloquear para que eu possa ouvir os conselhos das pessoas, o direcionamento dos mais experientes, eu não conseguirei evoluir.
Essa questão da autocrítica, de querer ver os vídeos do jogos, de se cobrar, pegou de quem?
Diversos treinadores já me ajudaram com isso. O Wagner Miranda, que é meu treinador (de goleiros), sempre fala e me mostra meus erros. E eu tive um treinador nos juniores, que era o Nando, que sempre falava: “César, vai lá e faz o seu melhor. Se você errar, a gente vai analisar o vídeo e ver o que você errou”. Foi o treinador da época da Copa São Paulo (de Futebol Júnior de 2011, na qual César foi herói na decisão contra o Bahia), que eu tive uma ascensão grande aqui no Flamengo. Ele foi o cara que me posicionou e que me deu essa tranquilidade para eu fazer o meu melhor. Esse é simplesmente o meu dever. É uma coisa que sempre falo nas entrevistas e não é algo forçado. É algo natural, eu preciso fazer o meu melhor sempre. Meus erros virão para que eu acerte. Deus sempre colocou pessoas que sempre me pontuaram nesse sentido. Por exemplo, no jogo com o Náutico, apesar de ter ido bem, eu procurei analisar.
O que o Paulo Victor fala para você com a natural volta dele para o gol? Diz algo como “Calma, César. Uma hora eu vou sair e sua hora vai chegar”?
Tanto ele quanto eu entendemos que tudo tem um tempo, e ele teve essa experiência. Para mim, ele sempre foi referência. Por diversas vezes eu pude analisar os treinamentos dele quando ele era terceiro goleiro, quando ele estava aqui esperando. E a disposição e a vontade que ele tinha para chegar a ser titular me motivaram. E tenho isso bem na minha cabeça: que é preciso de paciência, mas a gente não conversa muito sobre isso, não (a respeito da possível passagem de bastão). A gente fala mais do trabalho de cada um. Com ele crescendo, eu cresço. Se eu crescer, ele cresce junto. Se nos treinamentos nós tivermos o pensamento de que queremos ser o titular e ajudar a equipe, não só ele como eu crescemos e levamos os que estão juntos com a gente. Daniel e o Thiago (também goleiros) hoje que estão próximos podem participar nesse sentido. Tive a oportunidade agora, não esperava que ele se machucasse e fiquei triste. Mas aconteceu, e tive a oportunidade de ter uma sequência com uma infelicidade dele. A gente não sabe a hora, mas tem de trabalhar sempre para quando estiver preparado.
Quem é seu ídolo como goleiro?
Primeiro é o Taffarel. Desde quando eu era molequinho que eu ouvia “Sai que é tua, Taffarel”, algo que o Galvão firmou bem. O Taffarel era absurdo, né? Mas eu procuro analisar não só as partidas dos goleiros, mas as histórias também. Eu, há um tempo atrás, li as histórias do Rogério Ceni, que começou a jogar mesmo com 24 anos, deu sequência e teve carreira vitoriosa. Treinou 15 mil faltas antes de bater a primeira. Tem um porquê de ele ter chegado onde chegou. O Marcos começou como titular aos 23 anos, depois deu uma segurada, e aos 27, 28 anos foi titular, mais ou menos a idade do PV, se manteve e consagrou nas disputas de pênaltis. O Julio Cesar, que teve história bonita no Flamengo e depois partiu para a Inter… Lá não deu certo no começo, foi emprestado e depois voltou. Gosto de entender um pouco a história dos goleiros, porque a gente vê que é muito parecido. Principalmente a dos vitoriosos, os que perseveraram. Todos eles tiveram momentos difíceis e conseguiram ter hombridade para dizer: “Ah, isso aqui é o que eu quero, então vou me determinar até o final para que eu conquiste.
Quem são os cinco melhores goleiros do Brasil na atualidade?
Jefferson, realmente acho que é merecedor de estar na Seleção como titular, que é um excelente goleiro. Vitor, Paulo Victor… Fábio é o quarto. Hoje não está tão difícil, não. O Diego Cavalieri também está numa fase muito boa. Acho que são esses cinco, mas há outros grandes goleiros no futebol brasileiro.