Fonte: Carlos Eduardo Mansur
Dois estreantes, Ederson e Kayke, em plena 18ª rodada do Brasileiro. O Flamengo não foge à regra dos times em permanente formação no país. Estranho seria se não oscilasse. Nesta quarta-feira, voltou a variar sua produção ao longo da vitória por 3 a 2 sobre o Atlético-PR. Mas controlou grande parte do jogo, foi organizado mesmo com novo esquema tático. Voltou a mostrar ser um time em evolução.
Desde que recebeu Emerson e Guerrero, o técnico Cristóvão Borges teve semanas inteiras para treinar antes dos jogos contra Goiás, Santos e Ponte Preta. Foi justamente quando começaram a aparecer os sinais de progresso. A cada jogo, ao menos 45 minutos de bom nível, embora ainda fique clara a quantidade de deficiências a corrigir. Em geral, tempo gera evolução. É a rotina do futebol. E é justamente o tempo que dirá se o Flamengo continuará neste caminho de progresso e a que patamar chegará. Contra o Atlético-PR, houve mais minutos de bom futebol do que nos jogos anteriores. É um passo adiante.
Houve controle do jogo, exercido com novo esquema tático e diferentes estilos: do Flamengo que tentou tocar a bola no campo rival ao time que pressionou em busca da transição rápida.
Foi um Flamengo sempre ordenado. Embora Cristóvão tenha jogado uma cartada arriscada. Em apenas três dias desde o jogo com a Ponte Preta, revolucionou o esquema. Passou ao 4-4-2, que parece mais adequado à característica da equipe. Na segunda linha, à frente da zaga, pôs Márcio Araújo pelo corredor direito, uma ousadia por entregar o combate pelo setor central a Canteros e a Alan Patrick, que não é propriamente um meia de extremo vigor. Como adaptá-lo? Com o tempo, sempre ele.
A dupla com Ederson no ataque permitia a Emerson reduzir a faixa de campo que precisava correr, principalmente ao defender. Antes, ao perseguir o lateral rival, desgastava-se demais. No desenho de time usado contra o Atlético-PR, foi o destaque.
O Flamengo era compacto, o que evitava expor a zaga. Quando tentou ocupar o campo do Atlético-PR, teve duas chances antes do córner em que Wallace abriu o placar. Aos poucos, perdeu volume, demorou a retomar a bola. Viveu seu pior momento até o empate, de novo em uma bola aérea.
Mas o controle foi logo retomado por um Flamengo que já apostava na retomada de bola e na estocada vertical e veloz. Após uma disputa, Éverton deu a Emerson a bola do segundo gol. E foi de uma falta sofrida por Ederson, numa arrancada, que veio o terceiro gol: uma cobrança precisa de Alan Patrick.
Ederson jogou 55 minutos. Combinou lances de boa técnica com demonstrações de falta de ritmo. Deu lugar a Kayke, de atuação discreta.
O que não varia neste Flamengo é a dificuldade com as bolas altas. O gol de Kadu, já no segundo tempo, foi o quarto em bola área nos últimos três jogos. Kadu estabeleceu um placar que não refletia o campo. Nervoso, o Flamengo ameaçou perder o controle das ações. Mas logo exibiu o mérito de se defender com a bola. Trocando passes, mantinha o rival longe de sua área. Tarefa facilitada pela excelente movimentação de Emerson e pela expulsão de Hernani.
Os sinais de evolução não significam um Flamengo espetacular, uma certeza de consistência. Mas o tempo tem sido aliado, tem trazido progressos, ainda que menos rápidos do que o desejado pela torcida. As próximas rodadas colocam Palmeiras, São Paulo e Sport no caminho. A sequência é cruel e exigirá sabedoria para permitir que a avaliação separe desempenho e resultado em caso de tropeços. Mas, no futebol brasileiro, talvez seja exigir demais.
Infelizmente a cultura do torcedor brasileiro é a análise pura e simples do resultado. Se ganhou, Ta tudo ótimo! Se perdeu, mesmo jogando muito melhor que o adversário, pedem a demissão do treinador. Dessa forma é difícil montar um time vencedor, que só se constrói através de um trabalho longo e consistente. Evoluimos muito e precisamos continuar nessa constante para, aos poucos, sonharmos com coisas cada vez maiores.
SRN!!