O frenesi que tomou conta da torcida rubro-negra desde o dia 23 de maio não tem sido correspondido. Achar uma nova camisa do Flamengo, lançada pela Adidas, é tarefa hercúlea não só no Rio de Janeiro, mas também no restante do Brasil. Desde a chegada do primeiro lote, os uniformes desapareceram das prateleiras e não têm, na maioria do locais, sequer previsão de novo abastecimento. A situação tem irritado torcedores, lojistas e também o Flamengo. A cada camisa vendida, os rubro-negros têm direito a um percentual estipulado em contrato. O percentual aumenta proporcionalmente às vendas.
Responsável pela distribuição do uniforme, a Adidas reconhece que ficou surpresa com a demanda tão alta. A situação para quem deseja comprar o novo uniforme é mesmo difícil. A reportagem entrou em contato com dez lojas espalhadas pelo Rio de Janeiro, nas Zonas Sul, Norte e Oeste. Em sete delas, a camisa sequer existe. Em três, as peças disponíveis são do tamanho P ou do modelo feminino. O torcedor que chega perguntando pelo uniforme recebe resposta direta.
“Quando chegou, vendemos como água. Acabou tudo em dois dias. Já foi feito o pedido de novo lote, mas não há nem previsão para a chegada. Dizem que talvez só depois da Copa das Confederações. Mesmo assim não é possível garantir que vamos ter mesmo. Está uma loucura e deixamos de vender”, diz um dos vendedores de uma loja em shopping da Zona Sul e que preferiu não se identificar.
A situação já causa incômodo internamente no Flamengo, que nos últimos anos esteve acostumado à distribuição da Olympikus, quando não enfrentou problemas do gênero. Até mesmo na loja oficial do clube, a FlaConcept, dentro da Gávea, achar o novo manto sagrado é complicado. No último fim de semana, o único modelo disponível era a camisa branca, de tamanho P. Durante treino da seleção brasileira realizado na sede rubro-negra, em 31 de maio, apenas uma semana após o lançamento, a movimentação na loja era grande. Até existiam camisas rubro-negras, mas o tamanho disponível também era apenas o P.
“Claro que discutimos esse assunto todos os dias com a Adidas. É fato que a demanda está sendo enorme, a maior do Brasil. É fato que houve erro nas previsões. Mas a Adidas está enviando os maiores esforços para sanar a falta de produtos. Nós torcemos para que tudo seja resolvido o mais rápido possível. Pedimos desculpas aos torcedores”, afirmou Luiz Eduardo Baptista, o Bap, em contato com a reportagem.
Assinado em 20 de dezembro de 2012, o contrato entre Adidas e Flamengo, válido por dez anos, teve início da vigência em primeiro de maio de 2013. No dia 23 do mesmo mês, o uniforme foi lançado sob grande expectativa, em um evento na Zona Sul do Rio de Janeiro. Desde o anúncio oficial da parceria e o início da pré-venda, em 9 de maio, até a apresentação do novo uniforme, cerca de 300 mil peças foram vendidas antecipadamente. Algumas redes de lojas requisitaram até 800 mil peças para revender pelo país e, até o momento, receberam pouco mais da metade do total. Procurada, a empresa recoheceu a dificuldade em encontrar camisas no país e admitiu que a demanda foi além dos cálculos feitos inicialmente.
“A demanda superou a mais otimista das expectativas. A situação está sendo normalizada em vários pontos. A Adidas tem trabalhado bastante para adequar demanda, mas o processo não é tão fácil nessa passagem de um fornecedor para outro. Não é possível afirmar uma data (para regularização). Estamos trabalhando com tudo para normalização a situação”, informou a empresa via assessoria de imprensa.
Chateados com a falta de peças disponíveis na loja, torcedores rubro-negros já começaram a reclamar em redes sociais da distribuição realizada pela empresa alemã. Em contatos uns com os outros, fãs de todo o Brasil informavam em qual estado a camisa estava em falta. Pelo contrato, caso o valor de vendas líquidas não ultrapasse R$ 127 milhões, o Flamengo tem direito a 10% dos royalties. Se o valor vendido for acima de R$ 127 milhões, o clube recebe 12%. Acima de R$ 153 milhões, o direito rubro-negro sobe para 14%. Cada camisa rubro-negra custa na loja R$ 199,90 sem número e R$ 209,90 com um algarismo às costas.
A falta de camisas no mercado impressiona pelo tamanho do contrato. Em dez anos de acordo, o Flamengo vai receber cerca de R$ 36 milhões a cada 12 meses. Além disso, o clube foi alçado ao seleto grupo dos chamados “Top Five” da fornecedora alemã, ao lado de gigantes como Milan, Real Madrid, Bayern de Munique e Chelsea. Por isso, em cada loja da Adidas no mundo o uniforme do clube carioca deverá estar à venda. A previsão era de que as camisas rubro-negras chegassem ao mercado internacional quatro meses após o lançamento, por volta de setembro. Mas, por enquanto, está difícil até mesmo encontrá-la dentro do próprio clube.
Fonte: ESPN