Marcos Motta, especialista em direito desportivo
Existem vários tipos de relação de um fundo com o futebol e o Flamengo está criando uma nova e moderna modalidade. Não é que seja melhor ou pior, mas é um novo meio de investimento.
Do ponto de visto jurídico desportivo é uma operação regular. Existem algumas especificidades nos regulamentos da Fifa e da Lei Pelé, porém, que devem ser observados em relação ao contrato do jogador. O artigo 18 do Estatuto da Fifa diz que um terceiro, que seria o fundo, não pode ter influência na relação trabalhista entre clube e atleta. E o artigo 27B da Lei Pelé vai na mesma linha e tenta regular isso.
A relação do jogador é obrigatoriamente com o clube e de natureza trabalhista. Já a do clube com o fundo é comercial.
O Boca Juniors já tem este fundo há mais de dez anos e grandes contratações foram feitas desta forma, assim como o Porto tem uma espécie também de fundo.
Amir Somoggi, consultor de marketing e gestão esportiva
Todos os grupos de investimentos têm a mesma característica. Os clubes sabem que o futebol está ficando muito caro e, mesmo com verba de televisão e patrocínio, sabem que precisam de investidores que coloquem dinheiro para ajudar nesse processo, que vão ser sócios do clube e ganhar percentagem numa venda futura. É muito difícil o clube competir nesse mundo tão inflacionado, com valores tão fora da realidade como é a contratação de jogadores.
Não estou falando só dos grandes jogadores. Se pegar um jogador de R$ 5 milhões, R$ 10 milhões, o clube não tem esse dinheiro na mão.
O mais importante é que, independentemente do modelo, o clube tenha total controle, com pessoas de confiança do clube. Porque o clube pode ir perdendo os direitos econômicos do atleta e na hora da venda o clube não vai ser o que mais recebe com a transferência. Ele vai ser uma barriga de aluguel. Esse é o grande risco de ceder os direitos econômicos.
Para o Flamengo receber 25% do valor de uma futura transferência é muito pouco. Quando colocar o salário na ponta do lápis vai ver que é bastante alto. Não sei de detalhes do acordo, mas 25% do valor econômico é bem pouco pelo que vale o Flamengo e pelo que custa por mês o salário desses caras.
Se o grupo entra com a contratação e o clube com o pagamento dos salários, é importante fazer as contas para ver quanto que o salário representa. Por uma dessas, o Flamengo vai perceber que pagou uma fortuna e poderia ganhar mais na porcentagem de transferência futura.
O Flamengo é uma vitrine e tem de mostrar o quanto ele retorna de mídia, quanto tem de cobertura, o público nos estádios, isso tudo faz diferença.
Outra coisa é se o clube vai fazer um projeto de marketing, porque simplesmente trazer um jogador e esperar ele resolver em campo para se transformar em receita, não é o suficiente. Tem de pensar também numa estratégia de marketing alinhada com tudo isso. Aumentar a receita com patrocinador, com venda de produtos, com sócio-torcedor, tudo ligado ao torcedor.
Fonte: Lancenet