Ontem o departamento de marketing do Flamengo divulgou em seu site oficial, um levantamento contendo rankings de renda e público da série A do Brasileirão. A diferença é que o critério não eram os clubes mandantes, mas sim o agregado “mandantes + visitantes” – ótica já adotada pelo Blog Teoria dos Jogos em ocasiões anteriores. O ponto de vista é especificamente interessante para o Rubro-Negro pois ele visitou Santos e Vasco em partidas onde foi efetivamente o mandante. Ambas se deram no Estádio Nacional de Brasília. Desta forma, o ranking ficou assim:
A enorme dianteira rubro-negra, além dos jogos contra Santos (Renda de R$ 6.948.710,00) e Vasco (R$ 4.071.170,00), se complementou com a renda do confronto frente ao Coritiba (R$ 2.705.050,00). Eles representaram 90% da bilheteria total atribuída ao clube da Gávea.
Embora todos soubessem da demanda reprimida na capital federal – especialmente por parte dos flamenguistas, de longe a maior torcida da cidade – a resposta dada por Brasília surpreendeu. Na maioria dos lugares, três jogos são mais do que suficientes para “aplacar a saudade”, fazendo cair vertiginosamente a audiência e a renda das partidas. Em 2013 isto aconteceu em Juiz de Fora com o próprio Flamengo. Brasília não. O clube manteve média de 60 mil pagantes e a expectativa de mais excelentes públicos quando enfrentar Atlético-MG e São Paulo.
Por conta disto, e embora poucos admitam, conceitos foram repensados. É possível que “o grande elefante branco candango” tenha realmente caído nas graças da população – primeiro passo para o sucesso de empreendimentos de qualquer natureza. Estádio de ponta e com a localização mais central entre as arenas da Copa, o Mané Garrincha comprova que seu “bônus geográfico”, atrelado ao poder aquisitivo (o maior entre as capitais) e a paixão do brasiliense pelo futebol formam combinação quase explosiva.
Melhor do que ninguém, o departamento de marketing sabe que nunca mais poderá abrir mão deste trunfo. Mesmo de contrato fechado com o Maracanã, são imprescindíveis cláusulas que permitam o mando em outras praças – e desde já Brasília se torna a principal. Mas não a única. Caiu a ficha de que o tamanho e a distribuição da torcida do Flamengo são uma mina de ouro. Em ordem de importância, estádios de Manaus, Natal, Fortaleza e Cuiabá sempre terão demanda para ao menos uma partida anual com casa cheia. Mesmo Salvador ou Recife, com base na massa do interior e do entorno, podem capitalizar de maneira esporádica.
Isso não quer dizer que o benefício deva se tornar regra, pois remédio em excesso também mata o paciente. Brasília começa, sim, a se aproximar do limite de jogos a partir dos quais o Mané Garrincha começará a esvaziar. Além disso, o Flamengo é um clube do Rio de Janeiro, tem como casa o estádio mais famoso do mundo e é lá que a maioria dos jogos deve acontecer. Até como forma de fomentar seu crescente (mas ainda incipiente) projeto de sócio-torcedor.
Também é importante reiterar que nada justifica os recursos empenhados na construção do novo Mané Garrincha. Estamos diante de um estádio que saiu de pouco mais de R$ 600 milhões (em sua previsão inicial) para 1,7 BILHÃO – se consideradas as obras do entorno. Faz-se necessário investigar e punir se (ou quando) comprovado o mau uso do dinheiro público. Por fim, o tamanho do estádio definitivamente não se justifica. Tanto que o próprio Flamengo apresentou média de 60 mil pagantes – dez mil a menos que a capacidade total. Neste caso, a picuinha em torno da abertura da Copa (que acabou em São Paulo) inflou uma arena que em hipótese alguma deveria comportar mais de 50 mil torcedores.
Fonte: Blog Teoria dos jogos