Por óbvio, tudo o que se disser sobre ambos os contratos firmados com o Consórcio é puramente especulativo, porque ninguém sabe ao certo os detalhes de cada acerto. Mas à primeira vista é possível cravar que ambos fizeram negócios que, baseado em seus respectivos históricos recentes, fazem sentido e mostram que a negociação em separado foi mais vantajosa do que seria uma negociação conjunta, já que as motivações de cada clube eram diametralmente opostas e inconciliáveis.
O Flamengo, que vai receber 50% de toda a receita gerada pelo estádio, ao que tudo indica aceitou correr o risco de dividir as despesas com o Consórcio. E o Fluminense vai receber 100% da receita dos setores mais populares do estádio, livre de despesas, mas abrindo mão das demais receitas.
Por que o Flamengo aceitou correr mais riscos? Porque sua média de público recente no Campeonato Brasileiro andava em torno de 40 mil pessoas, quase 3 vezes mais o que seria um ponto de equilíbrio teórico do novo Maracanã, que aqui estimamos em 15 mil pessoas, quem sabe um pouquinho mais.
Por que o Fluminense abriu mão de mais receita? Porque no mesmo período sua média de público ficava ao redor de 17 mil pessoas, ou seja, seria grande o risco do Fluminense tomar prejuízo se aceitasse uma divisão parecida com a do Flamengo.
Quanto ao prazo dos contratos, ambos parecem um tanto desajustados. 35 anos é um tempo claramente excessivo, mas é provável que haja mecanismos de saída e revisão previstos. 6 meses é pouquíssimo tempo e sinaliza mais stress para breve, mas também é possível que haja previsão de renovação automática caso tudo dê certo. O tempo vai dizer quem tomou a melhor decisão, mas é claro que haverá situações onde um aparentemente estará levando vantagem sobre o outro, com direito à gozações recíprocas. Mas as regras econômicas não costumam falhar: a) quanto maior o risco, maior o potencial de retorno; b) tanto investidores arrojados quanto conservadores se dão muito melhor do que os que gastam o que não tem, que acabam reféns das dívidas.
Se essas regras funcionarem, é possível que Flamengo e Fluminense, no médio prazo, estejam em situação melhor do que clubes que assumiram compromissos elevados para erguerem estádios de rentabilidade incerta – aparentemente, o caso do Corinthians.
Fonte: Magia Rubro-Negra