O Clássico dos Milhões deste domingo, no Mané Garrincha, em Brasília, trouxe de volta uma cena difícil de se ver nos estádios brasileiros nos últimos anos: torcedores de grandes rivais acompanhando uma partida misturados na arquibancada. Em boa parte da nova arena da capital federal, cruz-maltinos e rubro-negros ficaram lado a lado, como acontecia antigamente no Maracanã, vibrando por seus clubes em clima de paz. De acordo com a Polícia Militar do DF, nenhuma ocorrência de violência foi registrada dentro do estádio.
– Foi muito bom em termos de segurança. Todos puderam ver que o clima no estádio estava maravilhoso. Mesmo com as torcidas juntas em toda a parte de baixo, terminamos o jogo sem nenhuma ocorrência. O único registro foi do furto de um celular no anel superior – informou a coronel Hilda Ferreira, comandante do policiamento na partida.
Desde o momento da entrada, vascaínos e flamenguistas se misturaram nas filas de acesso ao Mané Garrincha. Naturalmente surgiram provocações, mas nada que quebrasse o clima de paz entre as duas torcidas. Chamou a atenção o grande número de famílias e grupos de amigos formados por torcedores dos dois times que chegavam ao estádio. Alguns cruz-maltinos e rubro-negros aproveitaram até para fazer um churrasco de confraternização no estacionamento.
Do lado de dentro, houve uma divisão parcial entre as torcidas. Por precaução, os responsáveis pela segurança decidiram manter o padrão de outros estádios brasileiros e separar vascaínos e flamenguistas na arquibancada superior: metade para cada lado. Porém, no anel inferior e no intermediário, que suportam juntos ceca de 28 mil torcedores, cruz-maltinos e rubro-negros dividiram os mesmos assentos. Ao todo, o clássico atraiu 61.767 torcedores – segundo maior público até o momento no campeonato (o duelo entre Santos e Flamengo, que marcou a despedida de Neymar, também no Mané Garrincha, atraiu 63.501 pessoas).
E se nas outras duas partidas que o Flamengo fez no novo Mané Garrincha (contra Santos e Coritiba), os rubro-negros foram ampla maioria nas arquibancadas, diante do Vasco a proporção foi mais equilibrada. A “briga” para saber qual torcida cantava mais alto foi bonita de se ver. Mesmo nos setores mistos, quando uma das torcidas se inflamava e começava a cantar de pé, os rivais observavam sem nenhum tipo de hostilidade, aguardando apenas a vez de responder gritando mais alto.
No intervalo do jogo, os corredores do anel inferior ficaram repletos de torcedores com camisas dos dois times, dividindo as filas dos bares em clima de muita paz. Não houve nenhuma tentativa de invasão de campo ou objetos arremessados no gramado. Nos pontos em que estava o cordão de policiais dividindo as torcidas na arquibancada superior também não foi registrado nenhum tipo de confusão entre os dois lados. Com a desvantagem no placar – o Flamengo venceu por 1 a 0 – muitos vascaínos deixaram o estádio antes de terminar a partida. No entanto, mesmo aqueles que aguardaram para sair somente após o apito final foram embora com tranquilidade.
Problema do lado de fora
O único caso de violência registrado pela reportagem do GLOBOESPORTE.COM ocorreu do lado de fora do estádio, envolvendo uma das torcidas organizadas do Vasco. Integrantes de uma mesma uniformizada entraram em confronto próximo ao portão de entrada cerca de duas horas antes do início da partida. O clima ficou tenso e a polícia precisou usar bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta para apartar a confusão.
– Foi um caso isolado. Aparentemente, já estavam predispostos a brigar. Ao que tudo indica, a confusão foi por conta de uma rixa entre diretorias da mesma torcida. Dois integrantes foram detidos – informou o capitão da PM, Mário César Santos, responsável pela escolta da organizada do Vasco.
Segundo a polícia, não houve nenhum registro de confronto entre as organizadas dos dois times. Seguindo plano previamente estabelecido, os grupos foram acompanhados desde os locais de concentração até o estádio e entraram por portões diferentes. Também houve monitoramento das uniformizadas dentro da arena e na saída. Ao todo, cerca de 1.500 policiais trabalharam na operação (700 no estádio). Houve também o apoio de aproximadamente 500 seguranças particulares contratados pela organização do jogo.
Fonte: GE