Adoro os clichês do futebol, gosto mesmo. Um deles diz que “torcida ganha jogo”. Às vezes sim, às vezes não. Mas que faz a diferença, para o bem ou para o mal, não há quem discorde. O que se viu no Maracanã na noite de quarta-feira foi um autorretrato. Cada time foi exatamente a cara, ou a presença, de sua torcida. O estádio, que deveria estar dividido, teve um dono. Dentro e fora de campo.
O que se viu no Maracanã na noite de quarta foi um autorretrato.
Eram onze contra onze, em números. Eram muitos contra onze, na prática. Flamengo e Nação fizeram uma troca mútua durante a noite. Um jogava, o outro apoiava e celebrava. Um apoiava e celebrava, o outro jogava. Numa comunhão única, o ritual ocorreu durante os noventa minutos. Um paraíso para os onze rubro-negros em campo, um inferno para os onze alvinegros.
Inferno que começou muito por conta de Paulinho. Tal qual uma criança desobediente, o camisa 11 do Flamengo não parava quieto. Driblava Gilberto uma, duas, três vezes, quando e como queria. Um marcador, vários dribladores, porque Paulinho não estava sozinho. A cada jogada a torcida ia junto, e gritava, e empurrava, e incentivava. Gilberto, ao contrário, tão só quanto um cão de rua, se encolhia para continuar vivendo o seu pesadelo particular.
Hernane era outro que não estava só. Cada chute dado por ele também tinha os pés da torcida. Pobre Jefferson, alvejado por tantas chuteiras ao mesmo tempo. A cada toque do camisa nove, uma brocada. Uma, duas, três. O rei do toque único fez valer a sua característica para inflamar cada vez mais torcedores, e estreitar ainda mais os laços do seu caso de amor com o Maracanã.
Que só não ficou ainda mais intenso porque um aniversariante estava presente. Quando os onze do outro lado viraram dez, Léo Moura ganhou, talvez, o presente que mais sonhou em vida: um gol no dia de seu aniversário, no Maracanã, para ouvir o “parabéns para você” entoado por milhares de vozes.
Fonte: Doentes por Futebol
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