Jayme, sem falsa modéstia.

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Sabe-se lá por qual motivo a imprensa tratou apressadamente de adjetivar Jayme como um homem humilde, totalmente abnegado. Talvez pelo fato de o técnico do Flamengo ser, de fato, simples e não passar nem de longe a imagem empertigada que a maioria de seus colegas de profissão que trabalham em grandes clubes adora cultivar. Por ter sido criado na Gávea, ter passado de auxiliar a técnico desacreditado para campeão, gostam de compará-lo a Carlinhos, duas vezes campeão brasileiro (1987 e 1992) e a Andrade, que também triunfou em 2009.
Talvez aí a imprensa comece a acertar um pouco em sua obsessiva luta por rótulos. Jayme tem muito pouco de Andrade e muito mais de Carlinhos. Explico. De Andrade ele traz o profundo conhecimento do clube, o trabalho em várias categorias de base e a experiência de bom jogador que foi. De Carlinhos aparenta mais.
Conheci Carlinhos em 1987, quando ele pegou um time que, apesar de contar com Zico, Aldair, Bebeto, Renato Gaúcho, estava mal das pernas na Copa União. Mesmo ironizado por parte da imprensa, inventou pouco e levou o time ao título. Convivi mais de perto com ele em 1992, quando ganhou outro brasileiro. A distância que Carlinhos queria dos jornalistas não era antipatia, mas falta de jeito para conviver diariamente com o assédio. Mas ele conhecia exatamente seu papel naquele trabalho, tinha autoridade, pensou um esquema de jogo no qual liberava o talento de Júnior, usava a mobilidade de Zinho e o oportunismo de Gaúcho. Sem alarde, sem frases mirabolantes ou explicações sofisticadas, que àquela altura começavam a virar moda em nosso futebol.
Jayme sabe exatamente sua importância nesta conquista do Flamengo. Sabe que mexeu no sistema de jogo, sabe que firmou alguns jogadores como titulares e sabe que definiu uma equipe e deu-lhe confiança. Sabe e, sem falsa modéstia, disse exatamente isso na lúcida entrevista que concedeu após os 2 a 0 sobre o Atlético-PR. Falou com naturalidade também que os maiores méritos eram dos jogadores porque eles é que jogam. E não soou como demagogia.
Sem o hipócrita corporativismo que assola as declarações de técnicos, que adoram exaltar falsamente os feitos de seus colegas, não criticou abertamente Mano Menezes, o antecessor famoso que foi embora alegando não ser compreendido pelo grupo. Porém, ressaltou que, ao contrário de Mano deu confiança ao time. Confirmou que vê o futebol de forma diferente do ex-treinador da seleção brasileira. Foi uma crítica. Sem falsa modéstia.
Por fim, considerou natural que esteja participando do planejamento para 2014, mesmo sem ter oficialmente a confirmação de que permanecerá. E usou um argumento igualmente simples e objetivo, mas absolutamente pertinente. Se ele está numa função de confiança e conhece o elenco, nada mais natural que ajude a traçar rumos para a próxima temporada.
Alguém lembrou que nessa selva do futebol só sobrevive quem tem arma poderosa (um empresário de peso) e que ele ainda não tem. Jayme garantiu que isso não o preocupa, mas lembrou que Andrade nunca mais arrumou clube grande para trabalhar exatamente por não ter um representante que o encaixasse em outra equipe. Um sorriso maroto de quem não incorrerá no mesmo equívoco foi percebido. Jayme está disposto a fazer diferente. Sem falsa modéstia.
Fonte: Bola Dividida Com PJ
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