Para Maurício Prado, ‘metamorfose’ no Flamengo se deu à Jayme.

Compartilhe com os amigos

O Flamengo está na final da Copa do Brasil e a dois jogos de tornar um ano que parecia perdido esportivamente numa temporada profícua: afinal, se afastou da zona do rebaixamento no Brasileirão e pode abiscoitar, de uma vez só, um título nacional e uma vaga direta na Libertadores de 2014. Nada mal, hein? Mas o que terá causado tamanha metamorfose?

Onde Mano Menezes errou tanto e Jayme de Almeida parece ter acertado de forma cirúrgica? Os simplistas podem procurar explicações táticas ou de escalação — e a redescoberta do volante Amaral é a principal delas, numa equipe que, “do goleiro ao ponta-esquerda”, pouco mudou.
Elias já era o “motorzinho” do time na era Mano (que o indicou) e Paulinho e André Santos duas de suas principais peças (ainda que à época sem tanto brilho). Idem, idem para Leonardo Moura e Hernane (que virou titular antes de o ex-treinador da seleção jogar a toalha).
Em suma: por mais que o esforçado (e limitado) volante que assumiu a cabeça de área tenha aumentado a proteção à zaga e equilibrado um pouco mais o time (como, de fato, aconteceu) me parece exagero creditar a impressionante melhora dos rubro-negros, após a troca de comando, a mudanças na formação ou na disposição em tática campo .
Quem já conviveu diariamente num clube de futebol sabe a importância gigantesca do lado psicológico no elenco. Como em qualquer coletividade, há conflito de egos, inveja, anseios, frustrações etc.
No caso do mundo da bola, entretanto, isso se torna ainda mais difícil de administrar, por se tratarem de indivíduos que, em sua maioria, vêm de classes sociais mais pobres e, de um dia para o outro, passam a ganhar somas estratosféricas de dinheiro — quantias que suas famílias inteiras jamais sonharam amealhar em toda a vida.
Some-se a isso a feérica exposição pública, a fama, o assédio de empresários, jornalistas, assessores de todos os tipos, amigos de ocasião e, claro, mulheres com os mais variados interesses e enorme disponibilidade e se compreende quão explosivo e difícil é este ambiente.
O tal chavão “fechar o grupo”, nada mais é do que aparar as arestas e conseguir que todos esqueçam suas diferenças e se unam, dando o máximo possível, em prol de um objetivo comum. Quando isso acontece, o clima fica mais leve, os músculos mais soltos, a coragem de arriscar aumenta e, muitas vezes (não é sempre), os resultados aparecem.
O problema é que não costuma ser nada fácil “fechar o grupo” e mantê-lo assim por bom tempo. O Flamengo, por exemplo, é pródigo em sair de crises com “pratas da casa” — no campo e fora dele.
Basta lembrar de Carlinhos (o mais vitorioso), Paulo César Carpegianni (o dos títulos mais significativos), Andrade e, agora, Jayme de Almeida. Os dois últimos em situações bem semelhantes.
Andrade uniu um elenco, formado por estrelas complicadas (Adriano, Petkovic, Bruno etc.), que já não suportava Cuca. Jayme conseguiu dar liga a uma turma bem menos talentosa mas que, também, não engolia mais Mano Menezes.
O maior desafio desse tipo de treinador é manter a motivação em alta e, consequentemente, o rendimento esportivo. A médio prazo a camaradagem e a intimidade que possibilitaram a química inicial tendem a levar ao relaxamento dos jogadores e a perda da autoridade do técnico. Principalmente após o sucesso, por mais irônico que possa parecer.
Este passa a ser, portanto, o segundo maior desafio de Jayme de Almeida daqui pra frente. O primeiro é ganhar a Copa do Brasil e afastar de vez o fantasma do rebaixamento. O segundo, não seguir os passos de Andrade, campeão brasileiro num ano (2009) e desempregado no ano seguinte (e até hoje). Derrotar o Atlético Paranaense não será fácil mas me parece tarefa bem menos complicada…

Fonte: Blog do Renato Maurício Prado
Compartilhe com os amigos

Veja também