No início de novembro, durante a realização em São Paulo do 2º Business FC – Fórum dos Clubes Brasileiros – iniciativa da Brasil Sport Marketing, uma parceria entre a Pluri Consultoria, Trevisan Escola de Negócio e Fan Club, o Corinthians recebeu o prêmio de Clube Mais Transparente do Brasil em 2012. E pela segunda vez, já que o conquistara também em 2011.
Na saída do evento, Eduardo Bandeira de Mello, o presidente do Flamengo que ficara apenas em 11º lugar na lista, disse que em 2014 queria e iria conquistar aquele prêmio já referente ao ano de 2013. Segundo ele, o Flamengo estava bem adiantado em várias práticas de gestão visando a transparência ou que, por elas mesmas, geravam relações mais transparentes do clube com seus torcedores, parceiros, autoridades, imprensa e, nunca podemos deixar de mencionar, a sociedade como um todo. Depois disso, o clube procurou seus pontos falhos em relação à transparência, visualizados no trabalho da Pluri, e trabalhou para corrigi-los.
Recentemente, o Fernando Ferreira, diretor da Pluri, fez uma visita ao Flamengo e vai relatá-la nos próximos dias, um pouco na forma do “Relatório de Visitas” existente no mercado de capitais, mas adaptado ao mundo da bola. Conversamos sobre esse Relatório nessa noite mormacenta de sexta-feira, conversa longa que cobriu muita coisa do futebol brasileiro e muito sobre o Flamengo e, principalmente, muito sobre transparência.
Flamengo hoje seria o 5º clube mais transparente
Essa é a informação que o Fernando Ferreira adiantou em nossa conversa: se o Ranking Pluri de Transparência Financeira 2013 fechasse hoje, a 5ª colocação seria do Flamengo, num grande salto a partir da 11ª posição. Até o fechamento e consolidação dos balanços desse ano corrente, o que vai acontecer entre janeiro e março, ainda poderemos ter mudanças significativas no Ranking, o que talvez leve a posições ainda melhores.
Vários pontos importantes serão apontados no Relatório de Visitas, alguns deles levando já ao aumento da pontuação do clube no Ranking. Entre eles, o diretor da Pluri cita as sensíveis melhorias na comunicação, com um Vice-Presidente de Relações Externas e um Diretor de Relações com os Sócios empenhados em abastecer e manter abertos importantes canais de comunicação com públicos diversos dentro e fora do clube. São áreas que não se chocam com a de Comunicação, mais voltada para as diferentes mídias, principalmente. Comunicar fatos relevantes do clube, mudanças em linhas de trabalho, responder às dúvidas e questões levantadas não só por sócios, mas também por outros grupos, é importante no sentido de tornar o clube melhor conhecido, mais exposto à opinião pública.
Um caso curioso, triste, sem dúvida, mas curioso: as ouvidorias que não ouvem. Inicialmente, a Pluri pensou em colocar Ouvidoria como um dos critérios para definir o ranking de transparência, mas acabou desistindo (decisão que talvez seja revertida a partir do próximo ano). O motivo para isso foi simples: o que os clubes chamavam de “ouvidoria” simplesmente não funcionavam. Telefones nunca eram atendidos e e-mails nunca foram respondidos. Segundo apresentação feita pela direção do Flamengo, a ouvidoria rubro-negra funciona de fato, inclusive com cobranças internas às áreas questionadas e levantamentos estatísticos que mostram, embora com base ainda pequena, qual o índice de retorno das questões levantadas e a satisfação de quem procurou esse canal de comunicação do clube.
Alguns pontos foram esclarecidos em relação ao balanço, que em 2014 virá com diferenças, também apresentado em coletiva de imprensa e colocado à disposição dos interessados em acessá-lo no site do clube, como determina a lei, por sinal, acompanhado pelos balanços de anos anteriores e com a manutenção da política de publicações trimestrais de balancetes. Ao acessar novamente o balancete do terceiro trimestre do Flamengo reparei em algo que tinha escapado na primeira visita: o documento tem 13 páginas, 12 das quais tomadas por informações relevantes. Esse, sem dúvida, é um balancete digno desse nome e me parece ser o melhor detalhado em nosso futebol. O balanço também virá com mudanças, mais completo e informativo, com apresentação à imprensa, ao mercado e aos torcedores. Balanço é o grande documento de todo clube e merece, mesmo, ser tratado não com festa, mas com destaque.
É comum o torcedor não dar importância a esses assuntos, começando pela transparência. “Transparência não ganha jogo” – há quem diga, cometendo um erro se não direto, ao menos indireto, pois os melhores clubes são mais transparentes e são mais vencedores. À medida que as pessoas se sentem atendidas em suas demandas, conhecem melhor o clube e seus propósitos, aumenta o nível de confiança e mesmo de colaboração com a entidade, o que, cedo ou tarde, em maior ou menor escala, acabará refletindo positivamente.
O que é muito positivo hoje, no futebol brasileiro, é ver os dois clubes com as maiores torcidas do país se empenhando em melhorar suas gestões e aumentar a visibilidade do que fazem. A tendência, espera Fernando Ferreira e concordo com ele, é que outros clubes também grandes não queiram ficar para trás nesse “campeonato”, o que seria muito bom para o nosso futebol como um todo.
Percebemos que, de maneira geral, está havendo uma melhora significativa no sentido de nossos principais clubes serem mais transparentes em suas contas e gestões.
Em diferentes graus e com diferentes ações, o diretor da Pluri citou alguns clubes com ações bastante positivas, como o Vitória, o Avaí, o Sport e o Paysandu. Num mercado onde ainda perguntamos “Cadê o balanço?”, e nem sempre recebemos resposta, a simples presença dessa peça no site já é um avanço.
Prova do avanço, hoje já temos surpresas positivas, como encontrar o excelente “Planejamento Estratégico” do Vitória em seu site, o que é motivo de grande satisfação. A visão do clube para o futuro e os caminhos que pretende tomar para lá chegar, o que, basicamente, pode resumir um planejamento estratégico, é uma informação tão interessante quanto importante, mas o Vitória é o único clube do Brasil que a apresenta ao público.
Informações como o “fatiamento” dos direitos econômicos dos jogadores são verdadeiras raridades e bom seria se todo clube tomasse o Internacional como exemplo nesse quesito.
Estamos avançando.
Num final de ano tomado pela confusão envolvendo o final do Brasileiro, essa noite de sexta-feira foi ocupada por uma boa conversa, pelo que agradeço ao vascaíno Fernando. Sim, falamos muito sobre o Vasco, também, mas é assunto para outra hora, quem sabe.
Nem tudo é caos, como os últimos dias nos levam a pensar, e há vida e gestões inteligentes, sim, em nosso futebol, em diversos clubes.
Fonte: Olhar Crônico