Quando o juiz apitar às nove da noite da terça-feira, 28 de janeiro de 2014, no estádio Ramon Aguilera, em Santa Cruz de La Sierra estará começando a quinquagésima quinta edição da maior competição de clubes das Américas. Mais do que isso: estará vivo o sonho do visionário dirigente chileno Robinson Alvarez, que em 1948 organizou o primeiro torneio sul-americano de clubes em Santiago; estará acesa a chama deflagrada pelo brasileiro José Ramos de Freitas, que de árbitro no Rio de Janeiro chegou à presidência da Confederação Sul-Americana nos anos cinquenta e costurou politicamente a ideia de uma competição continental anual; serão exaltados os ideais de independência que os dirigentes que se reuniram no dia 2 de agosto de 1959 em Caracas quiseram exaltar ao batizar a competição que ali nascia em homenagem aos homens que libertaram o continente do domínio europeu.
Assim como no primeiro duelo da Libertadores, nesta noite estarão em campo um boliviano e um uruguaio. Em 1960 o Peñarol escreveu a primeira página do torneio goleando o Jorge Wilsterman por 7 a 1. Em 2014 o primeiro jogo já estabelece um novo recorde, o de maior número de partidas de um clube na história: 340. Será de outro uruguaio, o Nacional, que supera a si mesmo ao medir forças com o Oriente Petrolero. Os uruguaios que, engraçado, foram os primeiros vencedores da Libertadores e têm dois gigantes da história do torneio, não o queriam. A história registra que na mítica reunião de Caracas o único voto contra a criação da Copa foi justamente da federação charrua.
De lá pra cá a Libertadores criou outras lendas do futebol sul americano e mundial como os argentinos multi campeões do Independiente, que reinaram nos anos setenta e ainda hoje ostentam o maior número de conquistas (embora não ganhem um título desde 1984). Mas se, à exceção do Santos de Pelé bicampeão em 62 e 63, o Brasil tinha dificuldades imensas para lidar com uma competição quase toda falada em espanhol, recentemente a coisa mudou.
Nos últimos nove anos, os brazucas estiveram presentes em todas as finais e conquistaram seis títulos, inclusive os quatro últimos. Na verdade a “virada” brasileira começou em 1992 com o primeiro título do fantástico São Paulo de Telê Santana. Até então tínhamos cinco conquistas. Hoje temos dezessete. Foram doze campeonatos nos últimos vinte e dois anos. É uma hegemonia, sem dúvidas!
O mais interessante destas últimas edições é que vários clubes vêm ganhando a Libertadores pela primeira vez, acabando com as séries de conquistas tão comuns no passado. O último bicampeonato foi do Boca em 2000/01. Será que o atual campeão, o nosso Galo, consegue quebrar este tabu e se candidatar a clube dominante na década? Ou teremos mais um campeão inédito com Botafogo ou Atlético Paranaense? Flamengo e Grêmio, que foram campeões na era da valentia, estão secos por novas conquistas e o campeão brasileiro, Cruzeiro, quer mostrar que a raposa é quem manda nas terras mineiras. Será mais uma edição eletrizante. Apertem os cintos!
SOLUÇÕES CASEIRAS
Não são apenas Flamengo e Botafogo que apostam em técnicos “da casa” para esta Libertadores. Vários clubes pelo continente estão fazendo o mesmo. A Universidad de Chile anunciou quinze dias antes da estreia que o coordenador das categorias de base, Cristian Romero, comandará o time; o Vélez Sarsfield perdeu Ricardo Gareca e empossou seu auxiliar Jose “Turu” Flores; o Bolívar confirmou o até então interino Vladimir Soría para o cargo e o Deportivo Quito recorreu ao treinador do time reserva Juan Carlos Garay, só para citar alguns exemplos.
Quem investiu em treinadores experientes na competição, assim como o Atlético-MG fez com Paulo Autuori, foram o Nacional de Montevidéu que trouxe Gerardo Pelusso e o San Lorenzo, que foi buscar Edgardo Bauza na LDU de Quito.
ÁRBITROS DE COPA DO MUNDO PARA BRASILEIROS
Botafogo e Atlético-PR estreiam sob o apito de árbitros que estarão no mundial da FIFA. O colombiano Wilmar Roldán estará em Quito para a volta do alvinegro à competição após dezessete anos e Enrique Osses, do Chile, vai até Lima dirigir o encontro do furacão com os “cervejeiros” peruanos. Não haverá árbitros brasileiros na primeira semana da Libertadores.
AUSÊNCIAS SENTIDAS
Os clubes paulistas não estão sozinhos na lista de desfalques desta Libertadores. O lendário Boca Juniors e seu rival River Plate não se classificaram, assim como o atual vice-campeão, o “decano” paraguaio Olímpia. Por outro lado os maiores habitués da competição estarão lá firmes e fortes, os uruguaios Peñarol e Nacional – que já ultrapassaram a barreira das quarenta participações no torneio. É tradição de sobra!
NÚMEROS!
A Argentina ainda é o país com maior número de títulos (22), mas já perde para o Brasil em presença nas finais. Somando nossos 17 títulos aos 15 vice-campeonatos que temos, chegamos a 32 decisões, uma a mais que os queridos “hermanos”.
Vice-campeão pelo Olímpia em 2013 como treinador, o ex-goleiro Ever Hugo Almeida detém o recorde de número de partidas disputadas pela Libertadores (113). Este ano o terceiro colocado da lista, Vladimir Soría (93 jogos) tentará alcançar o mesmo sucesso no comando do Bolívar.
Dentre os dez primeiros colocados neste item, um jogador ainda está em atividade, o lateral-esquerdo argentino Clemente Rodriguez (82 jogos). Se ele conseguir um clube para disputar a competição e chegar à final poderá pular do décimo para o segundo lugar chegando a 96 partidas disputadas. Será que ainda dá?
Fonte: Blog do Eugênio Leal