Após a disputa para saber quem teria o melhor acordo com o consórcio Maracanã S/A pelo estádio, Flamengo e Fluminense agora se alfinetam publicamente numa áspera discussão sobre quem tem a melhor estratégia para o valor dos ingressos em jogos no local. Mas quem será que tem sido mais bem-sucedido neste aspecto até aqui?
O Fluminense transformou a divergência em discussão antes do último Fla-Flu, quando se negou a aceitar os preços sugeridos pelo Flamengo para o clássico. Na ocasião, o Tricolor disse ser contra a elitização do futebol e os R$ 100 cobrados no ingresso mais barato para a partida, excetuando meias, gratuidades e valores especiais para sócios.
O Flamengo bateu o pé e segue sendo o clube que cobra mais caro no Rio de Janeiro em seus jogos, com o torcedor pagando em média R$ 47,82 em confrontos com os pequenos. Do outro lado, o Fluminense age de acordo com a linha defendida publicamente e cobra o ingresso mais barato, em média R$ 22,25, menos da metade do rival.
Nas arquibancadas do Maracanã, o Fluminense tem levado a melhor mesmo tendo uma torcida bem menor que a do rival. Segundo pesquisa do Datafolha de 2012, o Tricolor tem menos de um décimo do número de torcedores do Flamengo, mas, ainda assim, tem levado mais público em jogos de menor apelo. Contra Resende, Bonsucesso e Boavista, o time das laranjeiras teve em média 11.966 pagantes.
Já o Rubro-negro vive o cenário contrário. Com 7.663 pagantes em média contra times pequenos no Maracanã, o Flamengo consegue, ainda assim, arrecadar mais que o Tricolor. O clube da Gávea teve receita bruta (antes do pagamento de despesas e divisão dos lucros) média de R$ 366.508,33 contra R$ 266.349 do rival.
Na última quarta-feira, com preços novamente acima da média, o Flamengo voltou a ter um público bem abaixo daquele que costuma levar ao estádio e aumentou a discussão de até que ponto vale cobrar um valor tão alto em jogos de menor apelo. A surpresa, porém, ficou na renda, já que o número de presentes foi muito pequeno – o pior do novo Maracanã. Com apenas 2.487 torcedores no Maracanã, o clube teve um lucro bruto de apenas R$ 117.620,00.
Segundo o pesquisador de economia aplicada da Fundação Getúlio Vargas, Fernando de Holanda Barbosa Filho, embora o Fluminense esteja arrecadando menos, a estratégia do Tricolor de cobrar preços bem mais acessíveis em jogos de menor apelo é adequada. O Flamengo também cobra valores mais baixos, mas ainda longe de serem considerados baratos.
“O que interessa do ponto de vista financeiro é você saber com qual preço que o clube vai maximizar sua receita, isso vai depender se o preço altera muito ou não a procura pelos ingressos. Em jogos como finais, você obviamente deve aumentar o preço porque vai estar cheio de qualquer forma, como na final da Copa do Brasil. Mas, em eventos onde não existe muito interesse, o ingresso deveria ser mais barato”, explicou o economista, que lembrou outro ponto importante para a discussão.
“O outro ponto que dificulta o cálculo do valor ideal é que os clubes querem ter uma receita garantida com o sócio torcedor, e para ter essa receita tenho que dar o ingresso um pouco mais barato para essas pessoas. Isso acaba entrando na conta dos clubes, que preferem arrecadar menos em jogos cobrando mais caro e vitaminar o programa de sócio torcedor”, complementou.
Do ponto de vista de Fernando, o dilema pode ser resolvido de uma maneira simples. Os clubes podem consultar os próprios torcedores para saber o quanto eles estariam dispostos a pagar em cada jogo, de acordo com o apelo. E, em cima, dos resultados, os clubes definiriam suas estratégias.
“Os clubes poderiam realizar pesquisas com seus torcedores e assim poderiam maximizar a receita de uma forma mais objetiva. Isso é possível fazer na economia. Existem instrumentos para adequar essa relação”, explicou.
E se fora dos campos as diferenças são enormes, dentro das quatro linhas o desempenho é semelhante. Sem qualquer interferência de público e renda, Flamengo e Fluminense têm a mesma campanha e lideram o Campeonato Carioca – o Tricolo fica à frente pelo saldo de gols (12 contra 10).
Fonte: UOL