Apesar de alguns avanços na gestão do espetáculo do futebol no Brasil, ainda há decisões dos gestores tupiniquins que desafiam a lógica inevitável de qualquer escolha econômica.
Com a chegada das novas arenas no cenário brasileiro em 2013, houve um aumento da oferta de lugares e também se esperava um aumento pela procura de ingressos.
Não foi o que aconteceu. Segundo dados da Pluri Consultoria, a ocupação média dos estádios no Campeonato Brasileiro em 2103 foi de 38,6%, contra 38,4% em 2012. E a resposta lógica de quem dá as cartas no futebol brasileiro foi simples: aumentar o preço dos ingressos. Isso pode aumentar receitas no curto prazo, mas a experiência europeia mostra que essa tendência não sobrevive no longo prazo.
No Campeonato Inglês, por exemplo, essa taxa chega perto dos 95%,chegando em casos extremos como o do Arsenal, que na última temporada teve 99,6% de ocupação. Wigan, o time com a menor taxa, ostentou 77%, o dobro da taxa brasileira. Hoje, porém, após duas décadas de aumento agressivo do preço dos ingressos, consequência da retomada do futebol inglês na década de 90, a receita da Premier League com ingressos está praticamente congelada em 580 milhões de euros há quatro temporadas. Tanto é que o Manchester United, que teve taxa de ocupação de 96,4% em 2012-13, não vai aumentar o preço médio do pacote da temporada 2014-15. Do outro lado da moeda, clubes tentam aumentar sua capacidade máxima, como o Manchester City, que anunciou ontem um projeto para mais 14 mil lugares no Etihad Stadium, somando 62 mil assentos.
O Campeonato Alemão viveu situação parecida, mas tomou decisões diferentes. Em 1997, a liga alemã levava cerca de 8 milhões de torcedores aos estádios, contra 10 milhões da Premier League. Hoje, as duas ligas tem quase o mesmo número: 13,5 milhões de torcedores por ano. Note-se: a Bundesliga tem 18 times e 306 partidas, contra 20 times e 380 partidas da Premier League. Mas os preços praticados na Alemanha hoje são quase 60% menores do que os da Inglaterra: o ingresso médio mais barato da Bundesliga é de 10,3 libras, contra 30 libras na Premier League. A conclusão? Enquanto os ingleses aumentaram o preço, os alemães aumentaram o interesse do torcedor, e não houve necessidade de um reajuste de valor tão grande.
REALIDADE EUROPEIA?
O exemplo mais bizarro da política de preços brasileira foi a final da Copa do Brasil de 2013 entre Flamengo e Atlético Parananse, no Maracanã. O ingresso mais barato para a partida ficou em R$ 250, e a renda final do jogo foi de R$ 8 milhões. Já na final da Liga dos Campeões do mesmo ano, disputada por Bayern de Munique e Borussia Dortmund no estádio histórico de Wembley, na Inglaterra, o ingresso mais barato custava 60 libras (R$220), preço inferior do que o cobrado pelo Flamengo.
Em 2014, mais arenas serão entregues de olho na Copa do Mundo, e dirigentes brasileiros terão que achar uma política de preços que garanta mais receitas e torcedores.
Fonte: Notícias do Dia