Por que Renato Gaúcho foi melhor que Cristiano Ronaldo.

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Renato Portaluppi é um personagem sensacional da história do futebol brasileiro. Irreverente, provocador, controverso. Capaz de momentos hilários e inesquecíveis como a oferta de rosas em rede nacional para várias mulheres no Dia dos Namorados.
Ou quando afirmou sem pudor: “Meu escritório é na praia”. Bem antes de virar verso do Chorão do Charlie Brown Jr em reportagem histórica do nosso Cícero Mello para a ESPN com Romário e Edmundo. Mesmo agora, já aposentado e treinador, não disfarçando os ciúmes da filha Carolina.
Várias bravatas e polêmicas desde que surgiu como jogador do Grêmio em 1982. Com personalidade e confiança. Aos vinte anos já partindo para cima do consagrado Júnior em uma final de Brasileiro. Um ano depois, decidindo o Intercontinental com dois belos gols sobre o Hamburgo em Tóquio após ser protagonista também na conquista da Libertadores.

Este blogueiro viu Renato muitas vezes ao vivo no Maracanã e já teve como ídolo. Entre os anos 1980 e 1990 chegou a jogar suas peladas de rua com as meias arriadas no meio da canela e imitar os trejeitos do atacante. Inclusive reclamando dos colegas que não passavam a bola.
Por tudo isso, era de se imaginar que o agora técnico Renato Gaúcho não poderia estar falando sério quando afirmou categoricamente que tinha sido melhor que Cristiano Ronaldo. Mas falou. E ontem no “Linha de Passe”, sério e tranquilo, explicou os motivos ao nosso Paulo Vinicius Coelho. Veja AQUI.
Sendo assim, o Olho Tático humildemente se dá o direito de cumprir sua função jornalística de buscar a versão mais próxima dos fatos dentro de uma comparação subjetiva.
Aliás, este blog recentemente publicou uma análise da carreira do craque português. Por isso, desta vez vai partir do desempenho do brasileiro. Aproveitando as próprias declarações do Portaluppi:
1 – “Na minha época não havia internet”
Justo. No final da sua carreira a Grande Rede ainda engatinhava. Assim como as emissoras de TV por assinatura. O público dos grandes centros não viram todas as suas grandes atuações no Grêmio em Estaduais, embora só tenha conquistado os títulos de 1985 e 1986 e visto o rival Inter ganhar três. Mas também não conferiu as suas muitas expulsões e confusões com companheiros e repórteres que tantas vezes prejudicou o tricolor gaúcho. Sem contar o individualismo tão questionado à época.
Por outro lado, as atuações de Cristiano Ronaldo no Real Madrid e na seleção portuguesa são dissecadas duas vezes por semana. Virtudes e defeitos expostos para o mundo todo, que vê atuações mágicas e gols em profusão. Mas também a tola expulsão e o desempenho apenas razoável no empate com o Athletic Bilbao pelo Espanhol. Tudo exposto, com estatísticas detalhadas. Sem romantismo ou mitificações que ocultam os problemas.
2 – “Jogar o Campeonato Espanhol pelo Real Madrid é fácil, quero ver disputar Libertadores e Brasileiro”
Aqui Renato, talvez de propósito, tenha esquecido de um detalhe importante: Cristiano Ronaldo também joga Champions League, o principal torneio de clubes do planeta. Com concorrência forte. E ainda assim se destaca. Em 10 edições, marcou 60 gols. Na atual, bateu o recorde de gols na fase de grupos: nove em cinco partidas. Tem um título em 2008 e um vice no ano seguinte. O mesmo que Renato na Libertadores – vice em 1984 para o Independiente.
No entanto, mesmo com todas as dificuldades do torneio sul-americano há três décadas – violência dentro e fora de campo, arbitragens mais que suspeitas e gramados impraticáveis – não há como comparar a competitividade de uma UCL atual, especialmente em suas fases de mata-mata, com a Libertadores de qualquer época.
Nos campeonatos nacionais, Renato pode questionar a disparidade de Barcelona e Real Madrid na Espanha, apesar da liderança do Atlético de Madrid na atual temporada. Mas aqui Renato também disputou por grandes times e só venceu a Copa União de 1987.
Aqui vale uma lembrança importante: o brasileiro foi o destaque do Flamengo e ganhou a Bola de Ouro da Revista Placar. Mas teve sua presença questionada no clube por conta do egoísmo. O técnico Carlinhos chegou a considerar a hipótese de tirá-lo do time e efetivar Alcindo. Foi Zico quem encerrou a discussão ressaltando a importância do camisa sete, que passou a soltar um pouco mais a bola e foi responsável por duas assistências para os quatro gols de Bebeto na reta final. Sem contar a arrancada histórica que decidiu os 3 a 2 contra o Atlético-MG no Mineirão.

Prender a bola foi o maior motivo para críticas a Renato na Roma. Uma única temporada em 1988/89. Vinte três jogos, zero gols e algumas atuações que viraram piada na Itália. Alegar pouco tempo de adaptação é legítimo. Mas chegar com pose de estrela, declarações polêmicas e, principalmente, a insistência em tentar driblar contra os melhores defensores do mundo foram soluções pouco inteligentes e abreviaram o retorno ao Brasil.
Já Cristiano Ronaldo saiu do Sporting aos 18 anos e amadureceu rápido com Alex Ferguson no Manchester United. No início também pecando pelo excesso de dribles e firulas, mas não demorou a compreender o estilo do futebol inglês. Na dura Premier League se destacou com o tricampeonato de 2006 a 2009 e venceu sua primeira Bola de Ouro. Em 196 jogos, marcou 84 gols.
3 – “Joguei dez anos na seleção brasileira em alto nível”
Outra meia verdade. De fato, Renato esteve presente em muitas convocações entre 1983 e 1993. Mas pouco tempo como titular absoluto.

Seu melhor momento foi nas Eliminatórias de 1985 nos jogos contra Bolívia e Paraguai. Driblou quem apareceu pela frente e colocou bolas na cabeça de Casagrande. Mas no ano seguinte já não era unanimidade. Telê não gostava do estilo boêmio e, principalmente, do individualismo. Mesmo se não tivesse sido cortado por chegar de madrugada na concentração com Leandro, certamente seria reserva na Copa do Mundo do México.
Como foi a quinta opção na Itália em 1990. Atrás dos titulares Muller e Careca e até dos lesionados Bebeto e Romário. Jogou apenas alguns minutos contra a Argentina e pouco rendeu.
Renato alega que a disputa na frente era forte na sua época. Sem dúvida o futebol brasileiro era prolífico em atacantes. Mas ele não foi inquestionável sequer na bizarra Copa América de 1991. Disputou vaga no time de Falcão com o não mais que razoável Mazinho, do Bragantino. Em 44 partidas, apenas cinco gols.
Cristiano Ronaldo não teve tanta concorrência na seleção portuguesa. Embora tenha participado das campanhas históricas na Eurocopa 2004 (vice-campeão) e Copa do Mundo 2006 (quarta colocação), não conseguiu nenhum título relevante. Mas é o maior artilheiro da história, junto com Pauleta. 47 gols em 109 jogos.
E Renato Gaúcho não teve com a camisa da seleção sequer uma atuação próxima da de Ronaldo nos 3 a 2 sobre a Suécia que garantiram os portugueses na Copa do Mundo no Brasil.
4 – “Eu rendia bem nas três posições do ataque, ele só funciona pela esquerda”
Sem sombra de dúvidas o maior equívoco na análise. Cristiano Ronaldo foi Bola de Ouro em 2008 atuando a maior parte do tempo aberto na direita pelos Red Devils. Mas participava de intensa movimentação na frente, aparecendo no centro ao alternar com Rooney.
Na reta final da temporada 2008/09, foi deslocado para o centro do ataque. Mesmo jogando de costas para a defesa a contragosto, levou o time inglês à decisão com grande atuação na semifinal contra o Arsenal em Londres: 3 a 1, com dois gols e uma assistência.
De fato, é pela esquerda que o português rende melhor, infiltrando em diagonal, cortando para dentro e finalizando. Mas a excelência em todos os setores do ataque faz os técnicos Paulo Bento na seleção e Carlo Ancelotti no Real Madrid darem cada vez mais liberdade de movimentação ao camisa sete. E ele segue desequilibrando, aumentando a média de gols.
Renato sempre funcionou bem pelas pontas. Buscando a linha de fundo ou cortando para dentro para chutar. Mas no centro só foi render mais no final da carreira. Especialmente em 1995, no Fluminense campeão carioca e semifinalista do Brasileiro. Quando já não tinha tanta força física e velocidade, mas compensava com boa colocação e visão de jogo. Só aí apareceram os bons passes no centro.

Algo que Ronaldo ainda precisa melhorar. Inclusive para duelar com Messi, genial nos passes às costas da defesa adversária. Renato evoluiu com 33. Cristiano tem 29. Há tempo.
Enquanto isso, o atacante luso finaliza bem de pé direito e de canhota. Faz gols de cabeça. Cria jogadas pelos dois lados e aparece no centro para finalizar. Faz tudo muito melhor e mais rápido que Renato. O massacre nos números dispensa comentários: Renato fez cerca de 192 gols em toda a carreira, por Grêmio, Flamengo, Botafogo, Cruzeiro, Atlético-MG, Fluminense, Bangu e seleção. Ronaldo fez 233 apenas no Real Madrid. 356 no total. E contando…
De todos os jogadores que colocaram Renato no banco da seleção brasileira, talvez apenas Romário, no auge de 1993 e 1994, barrasse o português. Talvez…
Por isso não é possível levar a sério a comparação. Ou é dever resgatar e detalhar acontecimentos para quem não viu Renato em ação. Desculpe, Gaúcho…Mas nem em sonho.
Fonte: Olho Tático
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