Resolvi usar o Flamengo como cobaia de uma pesquisa sobre preços de ingressos e quantidade de público. O resultado é curioso.
O Flamengo tem estado no olho do furacão em relação a um dos assuntos mais polêmicos em voga, o preço dos ingressos. O clube tem sido apontado como um dos grandes vilões do momento, traindo sua história de clube “da massa”, do “povão”, e elitizando seus jogos com a presença dos abomináveis “coxinhas”. Ano passado, na decisão da Copa do Brasil, seus dirigentes viraram Judas em sábado de aleluia, por estabelecerem preços “abusivos”, e até o Procon foi envolvido.
Resultado. O estádio encheu do mesmo jeito, e o clube conseguiu uma renda excepcional de quase R$ 10 milhões. Mas tem gente, a turma dos românticos (que cobra dos clubes bons times, mas exige “preços populares”), que insiste na patacoada de que o grande responsável pelos estádios vazios são os preços altos. Então eu fiz uma rápida pesquisa para ver até que ponto os preços cobrados na era das “novas arenas elitistas”, comparativamente ao passado recente, seriam um fator de esvaziamento dos estádios.
No último dia 26/02, o Flamengo realizou seu primeiro jogo da Libertadores 2014, no Maracanã. A turma dos românticos reclamou dos preços, claro, então comparei os dados desse jogo com as estreias do clube na mesma competição nesse século, que estão abaixo:
A partir dos dados acima, chamo a atenção para:
* O maior público é justamente o de maior ticket médio, ou seja, o mais recente.
* Em 2010, o Flamengo era o atual campeão brasileiro. Possuía Adriano e Petkovic, e mesmo assim, com um TM “popular”, colocou menos gente que na última quarta, que cobrou um preço “abusivo”.
* Se o clube cobrasse o mesmo TM “popular” de 2010, e tivesse colocado, por exemplo, 50 mil pagantes no estádio, a renda teria sido de apenas R$ 1.177.500, 35% inferior a da última quarta. Mas se com 23,55 o público em 2010 foi inferior a 31 mil pagantes, porque agora teria sido de 50 mil ????
Portanto, sem análises mais profundas, é fácil perceber que não é o preço que tem afastado o público dos estádios. O que existe é que uma parte da imprensa que insiste nessa tese equivocada e populista, por romantismo e teimosia, acaba conseguindo iludir muita gente, que paradoxalmente faz coro com eles. Exige timaços e títulos, mas bancados por ingressos bem baratinhos. É óbvio que essa conta não irá fechar.
Insisto. O preço de um espetáculo não deve ser “alto” ou “baixo”, ele deve estar de acordo com a demanda do mercado.
Fonte: Blog do Ricardo Araújo