Quer perder dinheiro? Jogue o Campeonato Carioca Guaraviton. Em 2014, só Flamengo e Fluminense ficaram no azul quando jogaram na condição de mandantes. Nem Vasco, nem Botafogo, muito menos todos os outros 12 times menos expressivos do Rio de Janeiro que jogam a elite do Estadual. Com uma média de público de 3.190 pessoas por jogo, mesmo com um ingresso vendido a um custo médio de R$ 17,77, as cenas de arquibancadas vazias vistas na TV – os 13 estádios usados tiveram ocupação média de 11% até o segundo jogo da final – resultam em condições financeiras ainda mais precárias para clubes que já ganham pouco com bilheterias.
O Flamengo é um caso isolado. Cobrou o ingresso mais caro do Carioca, R$ 34,84 em média, e lucrou R$ 447 mil. Esta conta inclui R$ 258 mil de quando foi anfitrião e R$ 189 mil de vezes em que recebeu parte dos lucros de uma partida na qual outro clube era mandante – é uma prática comum no Estadual do Rio dois clubes que se enfrentam dividirem a receita líquida um com o outro. Mas a conta anda não inclui a receita líquida que terá com o segundo jogo da final no Maracanã, o último e, provavelmente, mais lucrativo de todos. Apesar dos números positivos, os flamenguistas ocuparam só 13% dos estádios que foram jogar, então havia espaço de sobra para receber mais torcedores.
O Fluminense vem em seguida com um ingresso médio consideravelmente mais barato, R$ 21,79, e uma receita líquida de R$ 388 mil – R$ 373 mil como mandante e R$ 15 mil como visitante que levou parte dos lucros para casa. Foi, pelo menos até antes do segundo jogo do Flamengo com o Vasco pela final, o clube que teve a melhor média de público: 11.932 pessoas por partida. É possível que mantenha esta liderança, desde que os rubro-negros, com uma média de 9.108 pessoas até aqui, não coloquem mais de 37 mil no Maracanã no encerramento do campeonato.
Daí para frente, é déficit para todo lado. O Botafogo, com uma média de público de 2.978 pessoas e a eliminação ainda na primeira fase, a Taça Guanabara, acumula o maior prejuízo de todo o Carioca: R$ 439 mil. São menos R$ 356 mil de quando foi mandante e menos R$ 83 mil de quando visitou o adversário e arcou com parte dos prejuízos. Nem adiantaria baixar muito mais o preço do ingresso, que custou R$ 20,66 em média e fez só 9% dos estádios serem ocupados.
O Vasco não foi tão mal, mas terminou com prejuízo de R$ 35 mil – R$ 31 mil perdidos quando foi mandante e R$ 4 mil quando foi visitante. Há um padrão indesejável no caso dos vascaínos, donos de uma torcida que se gaba por ser a única do Rio de Janeiro a ter um estádio próprio. Toda vez que o Vasco jogou em São Januário, ficou no vermelho. Teria deixado a competição com R$ 347 mil perdidos, considerando apenas as seis partidas no local. Quando foi para o Maracanã, não teve déficit nenhuma vez e terminou, em quatro jogos, com R$ 316 mil lucrados.
Nos casos dos outros 12 clubes, todos terminaram o Carioca com prejuízos quando jogaram em casa. O que salvou a pátria (e as contas bancárias) em alguns casos foi ganhar parte da receita líquida de uma partida contra o Flamengo no Maracanã, por exemplo. Ainda assim, somando o prejuízo que tiveram quando mandantes com a grana que levaram quando visitaram algum rival grande, só cinco escaparam de terminar no vermelho. O que se deu melhor foi o Bonsucesso, com lucro de R$ 28 mil, e o menos pior, o Boavista, com R$ 4 mil positivos.
Para os outros sete times, nem o dinheiro que conseguiram dividindo a receita líquida de jogos nos quais eram visitantes fechou a conta. O Cabofriense acabou o torneio com R$ 11 mil perdidos, enquanto o Resende, no segundo pior caso, apenas melhor do que o Botafogo, despediu-se com R$ 83 mil em prejuízos. Todos os 12 times menores do Rio de Janeiro cobraram entre R$ 10,69 e R$ 16,37, preços acessíveis para a maioria da população. Não havia promoção que pudesse resolver a falta de interesse dos cariocas pelo Estadual.
Fonte: Máquina do Esporte