Se, como reza o samba, reconhecer a queda antecede a sacudida da poeira e a volta por cima, o Flamengo está em maus lençóis. Jogadores conseguiram elogiar o desempenho sofrível do time no empate de 1 a 1 desta quinta-feira contra o Figueirense, lanterninha até obter o ponto no Morumbi.
“Jogamos bem”, disse Paulinho. Se um titular não identifica o óbvio, que se a equipe jogasse bem teria atropelado o limitado adversário, é de se imaginar que na próxima ele pense em repetir a atuação de ontem.
Há um engano evidente nas avaliações sobre a partida: o de que no segundo tempo só teria dado Flamengo.
Ou eu estou maluco, dormi durante o jogo e sonhei ou depois do intervalo o time catarinense acertou uma bola no travessão e teve duas excelentes chances, com a bola espalmada para escanteio pelo Paulo Victor.
A ilusão decorre do sufoco do Fla no finzinho, quando o Alecsandro deu uma bicicleta belíssima, depois de matar a bola no peito, e quase anotou.
Já são cinco partidas do Flamengo sem vencer.
Somente uma vitória em oito jogos no Brasileiro.
Média abaixo de um gol por rodada.
Presença na zona de rebaixamento.
E a perspectiva de enfrentar o líder Cruzeiro, em Minas, no último confronto antes da parada da Copa.
O Mundial traz alento, por dois motivos: oferecerá tempo para a diretoria, se enfim entender que Flamengo é Flamengo, contratar e ajudar Ney Franco a arrumar a casa; e porque promete futebol de qualidade.
O que foi aquilo que foi jogado em São Paulo, para onde o Flamengo levou o jogo sob seu mando?
Não deu nem para se irritar, de tão lamentável, e sim sucumbir à depressão.
Como a equipe usa três volantes (Márcio Araújo, Amaral e Luiz Antônio) para encarar o lanterna, mais o Elano?
Por mais que o Ney, ainda virgem de vitórias no regresso ao clube, tente experimentar, é pusilanimidade demais.
Márcio Araújo errou passe que quase resultou em gol do Figueirense.
Amaral conseguiu, a despeito do corpanzil, perder boa parte das divididas.
E Luiz Antônio alonga sua má fase.
E o Elano? Se não se recuperar fisicamente, é melhor pendurar as chuteiras.
Desgraçadamente, a falta de ritmo de jogo pesa para Paulo Victor _tal como os efeitos da altitude, ritmo de jogo não é mito, sobretudo para goleiros. Ele falhou no gol de Everaldo, nome de tricampeão do mundo, e, como no fim de semana, voltou a repor perigosamente a bola.
Por que o treinador insiste com André Santos, que se arrasta em campo e cujas costas são um convite a ataques e principalmente contra-ataques?
O time não consegue encadear sequências de passes certos e carece de inteligência tática. O horror, o horror.
O que foi a substituição do Igor Sartori pelo Ney, pouco depois da metade da segunda etapa, quando o jogador havia entrado após o intervalo e melhorado a equipe? “Burro”, gritaram torcedores para o técnico.
Desconfio de que até mesmo os baba-ovos dos cartolas rubro-negros reconheçam que o projeto futebolístico fracassou e exige duas inflexões: investir mais, como na desejável contratação de Júlio César para o gol; e gastar com qualidade, sem reeditar acintes como a milionária aquisição de Carlos Eduardo, case maior de desperdício.
Para não dizer que eu não falei de nada de bom, dá gosto ver o Samir. Ele cruzou para o Alecsandro marcar e soltou um petardo que quase entrou. Zagueiro, o Samir segurou a onda lá atrás e fez na frente o que os volantes não fizeram.
Mas um Samir sozinho não faz outono.
Depressão futebolística se cura com bom futebol. Será que não dá para antecipar a Copa?
Fonte: Blog do Mário Guimalhães