Há um mês, lanterna do brasileirão. Há uma semana, virtualmente eliminado da Copa do Brasil. Por incrível que pareça o Flamengo se recuperou e hoje está “vivo” em ambas as competições. Mesmo assim, e pela milionésima vez, o clube acaba de adentrar mais uma crise política. No caso, a questão envolve o aumento no preço dos ingressos.
Segundo o Globoesporte.com, a reunião do Conselho Diretor realizada na noite de ontem foi tomada pelo embate entre diferentes poderes do clube. No olho do furacão, a disputa entre o departamento de futebol e o departamento de marketing pela manutenção ou não dos ingressos promocionais. Por ora, os preços foram aumentados, gerando o enorme mal estar relatado.
O departamento de marketing do Flamengo é o poder responsável por pensar o clube como negócio, gerindo uma entidade antes assolada pela irresponsabilidade e próxima à bancarrota. A eleição da atual diretoria foi o ponto de inflexão de um louvável processo de resgate da credibilidade e da saúde financeira do Rubro-Negro. Em 2013, o Fla assumiu a liderança do ranking de receitasdesconsiderando-se transferências de atletas. Para 2014 o cenário indica a liderança absoluta, incluindo um inédito superávit nas contas. Grande parte deste modelo vem sendo financiado pelas receitas de bilheteria, conforme levantamento Pluri Consultoria relativo a 2013:
A liderança sob a ótica da “Renda Total” se deu, em boa dose, pelo alto ticket médio – inferior apenas ao do Atlético-MG. Mas em 2014 a coisa mudou de figura, segundo relatório Futdados/Footstats relativo ao Campeonato Brasileiro. Embora vice-campeão no ranking de bilheteria, o Flamengo se encontra inimagináveis R$ 10 milhões abaixo do líder Corinthians. Devido aos ingressos subsidiados, seu ticket médio caiu para sétimo no mesmo ranking.
A questão do preço dos ingressos é mais complexa do que presumem os puristas, possuindo características que apontam para o esgotamento do modelo de descontos. São três as razões:
1) Descontos possuem prazo de validade
Um dos mantras do marketing esportivo: promoções precisam de um horizonte temporal bem definido, caso contrário seus descontos são internalizados pelos consumidores e perdem efeito. O Flamengo estabeleceu que seus ingressos cairiam enquanto a equipe precisasse de todo apoio possível. A torcida comprou a ideia e os resultados vieram. Eis um caso clássico de política que cumpriu aquilo a que se propôs, sendo a hora de sair de cena.
2) Flamenguistas apresentam comportamento inelástico
Esta é a uma conclusão do próprio Blog Teoria dos Jogos, que analisou as respostas por parte da torcida a modificações no preço dos ingressos durante o Brasileirão 2013. Os flamenguistas, nos últimos anos, vêm apresentando comportamento típico de fidelidade, reagindo bem a descontos e não tão mal a majorações. Assim, o fim das promoções levaria a uma redução proporcionalmente menor do público pagante, aumentando os ganhos do clube com bilheteria.
3) O naco destinado ao Consócio Maracanã diminui à medida com que aumentam as rendas totais
Vejamos a tabela que relaciona as últimas partidas do Flamengo no Maracanã:
Nos últimos tempos, nenhum expediente vem sendo tão controverso quanto a fatia das bilheterias abocanhadas pelo Consórcio Maracanã. Neste sentido, percebam que o percentual destinado ao Fla cresce à medida com que aumentam as receitas totais. Evidentemente, existe uma relação positiva com o público pagante, mas a relação inequívoca acontece perante a renda. O melhor exemplo são as partidas contra o Sport e o Atlético-MG. Frente aos pernambucanos o público pagante foi ligeiramente inferior, mas a bilheteria maior. Assim, o percentual destinado ao clube também foi maior, comprovando o argumento de que o Flamengo ganha proporcionalmente mais à medida com que melhor arrecada.
Diante do exposto, o Blog Teoria dos Jogos se posiciona favoravelmente ao aumento do preço dos ingressos – nunca perdendo de vista que tais movimentos devem responder a processos circunstanciais de oferta e demanda, o que levaria a novas promoções caso se façam necessárias.
Fonte: Falando de Flamengo