Se trocar de técnico duas vezes na mesma temporada já é um indicativo de que algo não vai bem num time profissional, nos juniores é um sinal ainda pior. O Flamengo chega ao fim do ano com o terceiro comandante para os garotos. Demitido para dar lugar a Zé Ricardo, ex-treinador do sub-17, Marcelo Buarque passou apenas nove meses no posto. E detonou a política do clube para a base.
— Alegaram que havia pressão por resultado. E como eu não venci, saí. Ser mandado embora faz parte da vida do treinador. Mas se no profissional a troca já não leva a nada, imagina na base? O técnico é a referência dos meninos. E numa mesma temporada o Flamengo já está com o terceiro treinador. O que é isso? Onde estamos?
O Rubro-negro iniciou o ano com Cléber dos Santos, tirado do posto em fevereiro. A campanha na temporada faz a “confusão” de Luxemburgo parecer uma calmaria: não chegou a uma final de turno no Estadual (onde foi atropelado pelo Fluminense por 7 a 0) e caiu nas oitavas da Copa São Paulo, da Taça BH e da Copa do Brasil. O Torneio OPG, onde a equipe segue a caminho da final, pode ser a salvação.
— Passamos boa parte do ano mandando jogos no (estádio do) Artsul (por causa da reforma no campo da Gávea). Ou seja, jogávamos fora sempre. E o time é muito jovem. Só no sistema defensivo, quatro estão no primeiro ano dos juniores e o outro ainda tem idade de juvenil. Hoje os resultados são prioridade. E quando você tem que ganhar, só usa jogadores fortes. Os fracos fisicamente, que poderiam crescer com o tempo, são deixados de lado. Mas só força não faz um bom jogador — destacou Buarque.
Pior do que os resultados, é o fato de o Flamengo não formar mais jogadores que conseguem se destacar. Para se ter uma ideia, a última revelação a vestir a camisa da seleção profissional foi Renato Augusto, em 2011. Das atuais crias, nenhuma convenceu até agora.
— O Flamengo não revela um jogador de destaque há muito tempo. E aí se apressa para revelar de qualquer jeito. Jogador não é receita de bolo. Cada um tem seu tempo de maturação — ensinou Buarque, que usa o exemplo de Mattheus, vilanizado na eliminação da Copa do Brasil, para mostrar como o tempo de maturação dos jogadores está sendo desrespeitado por causa deste desespero:
— O Mattheus ainda tem idade de juniores. Mas não jogou uma partida sequer comigo, mesmo quando não era relacionado para o profissional. Seria muito bom para ele.
Fonte: Extra Globo