Definitivamente 2014 não foi um ano favorável para os ídolos do futebol brasileiro, onde o coletivo pesou mais do que o talento individual dos chamados medalhões da bola. Ainda que sejam referências no Cruzeiro, a temporada brindou talentos como Everton Ribeiro e Ricardo Goulart, que trabalham muito mais para o time do que para a própria ascensão particular.
Por outro lado, ídolos como Fred, Léo Moura, Jefferson, Leandro Damião e Valdívia por exemplo, terminam a temporada muito questionados e nem todos estão garantidos em seus clubes em 2015.
Nem mesmo aqueles que desempenharam bons papéis dentro de campo tiveram sossego fora dele. O que diga o atacante Fred, que ainda que tenha se tornado artilheiro do Brasileirão mais uma vez é perseguido por parte dos torcedores do Fluminense, principalmente aqueles vinculados as torcidas organizadas.
A falta de reconhecimento e carinho daqueles que deveriam ser os primeiros a defender esses atletas soa estranho, mas se a análise deixar apenas o aspecto técnico é possível entender onde acontece a falha.
Os clubes no Brasil trabalham muito mal (quando trabalham) a imagem desses jogadores. A preservação de feitos desses profissionais com as camisas dessas equipes muitas vezes são desprezadas ou passa a fazer parte de itens de tímidos museus o que faz com que os êxitos caiam no esquecimento. Porém, pior do que menosprezar as conquistas, os clube deixam de faturar ao valorizar suas próprias marcas. Entenda que quando digo marca, me refiro a “marca institucional” e o próprio atleta, que passa a ser uma “marca” daquela equipe.
Sem querer fazer qualquer tipo de comparação técnica, mas alguém precisa dizer qual clube Lionel Messi defende para associa-lo com seu time? Tenho certeza que neste momento você se lembrou daquele clube catalão. O mesmo serve para Cristiano Ronaldo ou qualquer outro ídolo que atua na Europa, já que ali as instituições fazem questão de associar sua imagem a essa marca e ambos saem lucrando.
Em minha opinião o caso mais emblemático é o de Leonardo Moura no Flamengo, onde atua por quase dez anos. Sabe-se que o jogador aceita até manter o seu salário atual, porém está batendo o pé para não concordar com a redução dos seus vencimentos, assim como foi proposto pelos dirigentes Rubro-Negro. Não que o lateral esteja jogando muita bola, porém ele ainda pode ser uma peça útil para o elenco, sem falar que se trata de uma referência para torcedores e até mesmo atletas que chegam ao clube. Por onde anda a criatividade dessa direção para desenvolver um plano de carreira para o atleta, dando-lhe garantias de que quando ele encerrar sua carreira poderá manter sua imagem vinculada ao clube? Será que alguém já lhe propôs transforma-lo em um profissional atuante nas categorias de base, por exemplo, e que aos poucos pudesse chegar ao time profissional, como tantas vezes acontece nos grandes clubes europeus.
É bem verdade que os atletas também muitas vezes não pensam nesses aspectos de longo prazo e só querem receber grandes salários que engordam suas contas bancárias. Quando um jogador diz para a torcida que sonha em encerrar a carreira em determinado clube, é como se estivesse jurando amor eterno aos torcedores, que imediatamente passam a idolatra-lo e a defender essa personalidade com unhas e dentes. Fred por exemplo já passou por isso. Disse que queria ficar no Flu até os seus últimos dias, porém com a instabilidade financeira do clube não deu tanta certeza se permaneceria. Nem de longe questiono o merecimento desse jogador em buscar sua valorização profissional, até porque o considero o melhor centroavante do Brasil, porém me refiro ao planejamento que esses ídolos precisam fazer para quando forem pendurar as chuteiras. É evidente que o camisa nove do Tricolor não passará dificuldades financeiras, mas será que a sua marca terá o mesmo valor de mercado se decidir abrir mão dessa “fidelidade” clubística no futuro? Será que se ele tivesse a garantia de que teria esse item em sua carreira, não abriria mão até de uma parte de seu rendimento?
No futebol brasileiro é cada vez mais raro que tenhamos ídolos plenamente ligados aos times como no passado conhecíamos. Zico, Reinaldo, Pelé são nomes tão atrelado a seus times, como os astros do futebol espanhol já citados neste texto. Não acredito que tenhamos ídolos como Rogério Ceni ou Marcos, para citar os mais atuais, que defenderam exclusivamente um time durante toda a carreira, porém seria importante que clubes e atletas entendessem que também poderiam lucrar muito se associassem seus nomes a essas marcas e não apenas a momentos de brilho esporádico como ocorre no Brasil atualmente com seus “ídolos” de fases.
Seria muito bom que os dois lados colocassem esses itens nas propostas ao invés de simplesmente pensar nas merecidas cifras que muitos teimam em conquistar a curto prazo.
Fonte: Goal