As duas semanas sem jogos no NBB 7 não resolveram o problema do técnico José Neto, mas pelo menos serviram para amenizar a falta de uma pré-temporada considerada ideal pelo treinador do Flamengo. Nos 14 dias de pausa, o que os rubro-negros menos tiveram foi folga ou descanso. Em busca do tempo perdido, o comandante do atual bicampeão nacional pegou pesado nos treinamentos e não poupou ninguém visando ao duelo contra o Mogi das Cruzes, nesta quarta-feira, às 21h30, no interior paulista, com transmissão do SporTV, no retorno da equipe à competição mais equilibrada de todas as edições.
– Os clubes têm investido bastante na competição por vários motivos. Pelo próprio NBB e pelo que a Liga oferece para os melhores. O Mogi é um bom exemplo disso. Acabou em 12º na temporada regular passada, chegou à semifinal, depois se classificou para a Liga Sul-Americana e acabou chegando à decisão dessa competição. Não vemos mais o Mogi como o 12º colocado, e sim como um dos adversários mais fortes da competição – afirmou Neto.
Na quarta colocação do NBB 7 com quatro vitórias e duas derrotas, a mesma campanha do rival paulista, o Flamengo até que começou a temporada como encerrou a última, no lugar mais alto do pódio. O título da Copa Intercontinental, os jogos na pré-temporada da NBA – contra Phoenix Suns, Orlando Magic e Memphis Grizzlies – e o decacampeonato Estadual encheram o torcedor rubro-negro de orgulho, mas custaram caro na preparação do atual bicampeão nacional.
Nada que incomode o técnico José Neto ou sirva como desculpa para os altos e baixos apresentados pelo Flamengo nas seis rodadas iniciais do NBB 7. Muito pelo contrário. Os compromissos previstos no planejamento rubro-negro acabaram mudando a imagem do clube da Gávea no cenário mundial e podem fazer a diferença lá na frente.
– Na verdade nós não tivemos uma pré-temporada. Nossa temporada começou com uma competição curtíssima e uma importância muito grande dentro da nossa programação, que foi a Copa Intercontinental. Em pouco tempo tivemos que deixar a equipe em condições para disputar esse título e conseguimos esse feito. Depois vieram os compromissos nos EUA, onde nem tivemos tempo de nos adaptar à realidade e às regras da NBA, mas não vejo nada de negativo nisso. Só consigo ver coisas positivas – explicou o treinador do Flamengo.
Neto já não pode dizer o mesmo dos vários problemas que atrapalharam a rotina do Flamengo fora de quadra. Salários atrasados – o clube deve dois meses e dia 30 vence o terceiro -, ginásio interditado, jogo sem torcida, jogadores exaustos em razão da Copa do Mundo…
– Quando um time ganha muito como o nosso é claro que gera uma expectativa muito grande. O fato de termos conquistado tantos títulos importantes faz com que as pessoas achem que somos imbatíveis. Nós podemos ser, mas temos que ter atitude e jogar para isso – destacou o assistente técnico da seleção brasileira.
Confira outros trechos da entrevista de José Neto:
PRÉ-TEMPORADA
– Nós não tivemos uma pré-temporada. Nossa temporada começou com uma competição curtíssima e de grande importância dentro da nossa programação, que foi a Copa Intercontinental. Em pouco tempo tivemos que deixar a equipe em condições para disputar esse título e conseguimos esse feito. Depois vieram os compromissos nos EUA, onde nem tivemos tempo de nos adaptar à realidade e às regras da NBA, mas não vejo nada de negativo nisso. Só coisas positivas. Depois voltamos para jogar a final do Carioca, uma competição importante por se tratar do decacampeonato do Flamengo. Uma semana depois, fizemos um estreia antecipada no NBB contra o Paulistano, antes de todos os outros times. Isso fez com que tivéssemos um tempo zero de pré-temporada. Essa parada de duas semanas foi importante para que pudéssemos resgatar aquilo que queremos com esse time. Claro que temos uma base, o que facilita nosso trabalho, mas sabemos que temos que readaptar tudo a uma nova realidade. Tentamos usar o período nos EUA como pré-temporada, mas foi muito pouco dentro de uma necessidade e pelas condições que tivemos. Treinávamos em um período e tinham as viagens e os jogos.
ESTADUAL
Se você pensar no Estadual como pré-temporada e preparação para o NBB, é claro que se jogarmos mais partidas competitivas, eu nem vou dizer em termos de qualidade, pois nem quero questionar esse lado, vamos estar mais bem preparados sim. Muitas coisas que são identificadas num campeonato como esse podem fazer a diferença lá na frente. Por outro lado tem todo o desgaste da competição, o risco de lesões….. É uma questão de adaptação. Estamos conseguindo intensificar e melhorar nossa condição para atingirmos nossos objetivos nessa pausa.
JOGO CANCELADO, AUSÊNCIA DE TORCIDA, SALÁRIOS ATRASADOS…
É um somatório de fatores. Não é em razão de uma coisa ou de outra, mas a soma de pequenos problemas que faz com que tenhamos um certo prejuízo. Tenho a felicidade de trabalhar com uma comissão técnica e um grupo de jogadores que consegue absorver muito bem isso e colocar o foco naquilo que precisa ser feito, na competição e no resultado final. Isso ameniza também. Da mesma forma que enfrentamos todos esses problemas, percebemos uma vontade muito grande dessas pessoas em superar as dificuldades, e isso é uma forma de nos fortalecer ainda mais. Até porque não temos como evitar isso. Todo mundo estava preparado para jogar contra o Pinheiros, e não teve o jogo; todo mundo estava preparado para jogar com público contra Franca, e tivemos que entrar em quadra sem a nossa torcida. Mas jogamos mesmo assim e ganhamos. São várias coisas que são prejudiciais, mas preferimos pensar em como podemos reagir a tudo isso em vez de colocar o foco nos problemas e nas dificuldades. Pode até existir um grupo de jogadores que queira ganhar como eles, mais não mais do que eles. Essa equipe é muito competitiva, sabe o que é ganhar, principalmente no Flamengo, pois muitos têm ligação com o clube. Não encaramos o problema dos salários atrasados como um problema. Se marcar cinco treinos no mesmo dia eles estarão em todos com a mesma entrega, recebendo ou não.
GINÁSIO INTERDITADO NA SEDE DAS OLIMPÍADAS DE 2016
É triste. Se tem uma palavra que define bem essa situação é essa. A gente se prepara para jogar, vê um esforço muito grande do clube em nos dar as melhores condições com um projeto aprovado para construir uma arena e isso não sai do papel. Já tem tudo, até quem vai bancar a arena. Se tivesse essa licença, as obras podiam começar hoje. Isso é complicado, triste, pois é a imagem de um país. O Rio dentro do esporte é uma referência mundial, pois todos querem saber onde fica a cidade que vai receber as próximas Olimpíadas. E nós ainda passamos por isso. O clube investe, busca condições e não consegue executar. Você me pergunta se isso influencia? Eu te respondo com outra pergunta, como você joga melhor, feliz ou triste?
CRISE?
Quando um time ganha muito como o nosso é claro que gera uma expectativa muito grande. O fato de termos conquistado tantos títulos importantes faz com que as pessoas achem que somos imbatíveis. Nós podemos ser, mas temos que ter atitude e jogar para isso. Acho que é isso que estamos construindo e nas duas derrotas que tivemos os adversários tiveram méritos por ter nos vencido. O Minas jogou muito bem contra a gente e a equipe de Uberlândia soube aproveitar nossas falhas e conseguiu uma vitória no final de um jogo que podia ter sido nosso.
NBA
Foi uma experiência única e o que nos chamou muito a atenção em termos de estrutura foi a quantidade de detalhes que eles se preocupam. Eles têm uma quantidade enorme de pessoas que trabalham observando esses detalhes e por isso exploram todas as condições para que a NBA seja um show. Por serem coisas simples, muitas vezes deixamos de lado, mas são pequenas coisas que acabam fazendo a diferença. Em termos de jogo, vai muito de encontro com o que aprendi na seleção e em que sempre acreditei que é a condição e o nível que você joga. Atualmente, para uma equipe jogar bem e ter uma probabilidade de sucesso, é preciso jogar o máximo de tempo na maior intensidade possível. É uma resistência de intensidade, nem sei se existe essa expressão, mas é ser resistente na maior parte do jogo num ritmo muito forte.
PRESSÃO EM REPETIR AS CONQUISTAS DA TEMPORADA PASSADA
Sempre existe um bônus e um ônus por ter conquistado tudo que conquistamos. O bônus é termos esse crédito, essa credibilidade, e isso nos fortalece internamente. E o ônus é o fato de causar nos adversários uma condição de que eles terão que jogar muito forte, quase no limite, para nos vencer. Ouço de muitos técnicos que somos uma referência, o time em que eles se espelham pela maneira como trabalhamos e conquistamos tantos títulos importantes. Acho que somos uma equipe madura, só temos que tomar cuidado para não pensar apenas no ônus. Temos que pensar também em tudo que conseguimos para priorizar nosso foco nas coisas boas que podemos fazer. Falo para eles que tem coisas que competem à gente e outras que não, falo isso para os meus filhos. Faça o máximo que você pode entre as coisas possíveis e não gaste energia naquilo que compete ao outro. Eles estão bastante conscientes disso, mas é claro que são muitos os fatores que ainda temos que nos adaptar.
WALTER HERRMANN
Ele vai nos ajudar muito, aliás, já está ajudando. É um cara que tem uma experiência enorme, que já jogou em níveis muito altos na NBA, Euroliga, ACB (Liga Espanhola), Liga Argentina. É um jogador que veio para somar, e é o que ele tem feito. Quando pensamos em jogo coletivo, temos que contar com jogadores que somam, e ele é esse tipo de atleta.
NBB 7
É um trabalho de investimento. Os clubes têm investido bastante na competição por vários motivos. Pelo próprio NBB e pelo que a Liga oferece para os melhores. O Mogi é um bom exemplo disso. Acabou em 12º na temporada regular passada, chegou à semifinal, depois se classificou para a Liga Sul-Americana e acabou chegando à decisão dessa competição. Não vemos mais o Mogi como o 12º colocado, e sim como um dos adversários mais fortes da competição. Eles investiram pesado e vimos na Sul-Americana o ginásio sempre lotado. Isso traz novos investimentos. O Flamengo é outro exemplo e tem aproveitado essa fase para buscar novos patrocínios, vemos o clube mobilizado para que a modalidade possa crescer ainda mais. Não dá mais para arriscar e achar que vamos ganhar a qualquer hora.
LIMEIRA NA PONTA
É um time bom e que vem investindo mais a cada temporada. Esse ano eles investiram bastante, jogaram a final do Paulista, jogaram bem a Liga Sul-Americana apesar de não terem chegado ao Final Four e por isso não é uma nenhuma surpresa de estarem jogando bem assim e na liderança do NBB. Mas um campeonato de playoffs é decidido apenas nos playoffs, e é assim que pensamos. Temos que construir nosso caminho para chegar lá em boas condições para ganharmos.
Fonte: GE