Mauro Cezar não vê Estádio como prioridade para o Fla.

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Estádio de Futebol é como casa na praia: quantas vezes no ano o cara vai nessa casa? Poucas vezes, até porque ele não quer só ir neste lugar. Mas a casa da praia dá despesas, manutenção, enche o saco, pode ter ladrão, ‘malas’ pedem a casa emprestado… Ou seja, é uma complicação danada, a não ser pra quem usa muito, curte, usufrui… E o Estádio parece ser assim também porque as vezes você joga num domingo, e dependendo da época do campeonato, você pode ficar duas semanas sem jogar.

“Ah, mas Estádio gera renda”. Depende, o Camp Nou sim, gera renda. É velho, é uma catedral do Futebol, é respeitado, embora a torcida do Barcelona pareça uma plateia, o Estádio é bacana, onde muita coisa aconteceu. Aquilo recebe muita gente diariamente porque o Barcelona tem um fluxo internacional absurdo e as pessoas tem o Camp Nou no roteiro de visitas de Barcelona. E isso vale para o Bernabeu em Madrid, para o Estádio do Arsenal em Londres, o do Chelsea… Todos estes estádios geram muita receita porque sempre tem gente passando por lá e são muito utilizados para eventos como o do Palmeiras, que já foi concebido com essa ideia. Está numa região muito boa em São Paulo, tem profissionais para cuidar disso e deve gerar muita receita.
Um Estádio de Futebol te dá muita despesa. Ter um é uma faca de dois gumes. Se não for bem explorado pode ser problema e não uma solução, porque o Estádio está lá, pode ser usado durante algumas horas num domingo e usá-lo dali 10 dias, e as lâmpadas tem que estar acesas, a limpeza tem que ser feita, a grama tem que ser cuidada, o placar eletrônico tem que estar ok, tem que haver segurança, você paga impostos… Ou seja, ele está te dando despesa, a não ser que você consiga fazer os exemplos que citei.
Ter um estádio não vejo fundamental. No caso do Flamengo hoje, fundamental seria ter um acordo com esse consórcio, que viu o New Maracanã cair no seu colo por razões obviamente políticas já que ganharam um estádio, num acordo que seja razoável. O de hoje é um absurdo, o Flamengo leva menos da metade da renda dos seus jogos, o que é ridículo. Os caras não colocaram 1 centavo para construir aquele estádio, que foi construído com o nosso dinheiro. Você pega o borderô de um jogo no Maracanã vê despesas que não consegue nem entender. Sem contar matérias feitas pela Gabriela Moreira, nossa repórter da ESPN, mostrando até o custo das grades que eles colocam para separar torcedores. Aliás, não sei pra que tanta grade, parece exagero embora eu não seja especialista no assunto, porque me causa espanto.
Para o Flamengo, hoje seria melhor ter um acordo mais favorável e jogar no Maracanã a maioria dos seus jogos, e ter um Estádio para 20 a 25 mil pessoas para jogos pequenos. Porque seria um Estádio menor, de um custo e manutenção menor também. Como a gente está muito distante daquele sonho dos grandes Clubes brasileiros terem Estádios sempre repletos, ter um pequeno seria interessante.
Na realidade do Flamengo o ideal não seria ter um Estádio, o mais importante seria o acordo pelo Maracanã. Agora, se esse acordo se apresentar inviável, no momento em que o Flamengo consiga tirar o pé da lama e se organizar melhor, talvez tenha que começar a pensar nisso. E aí tem que pensar nas duas coisas: ter um estádio e ao mesmo tempo não torna-lo uma casa de praia que só dá problema, e sim uma casa de praia que você frequenta, usa ou aluga para um cara que paga e você faz com que ela gere receita para você. Aí você empata e não tem prejuízo com o seu estádio/casa na praia.
O caso do Palmeiras é bem interessante. Para o Flamengo é inviável fazer um Estádio na Gávea. Inviável não é, impossível no momento por questões políticas e uma série de pessoas que se impõem para desenvolver esse projeto. O que o Palmeiras conseguiu é sensacional. Primeiro, não botou um centavo, quem fez foi uma construtora. O Estádio é super bem localizado, numa área de grande poder aquisitivo e perto de metrô. O Flamengo também tem uma área super bem localizada e nobre no Rio de Janeiro. Segundo, o Palmeiras fica com grande parte da arrecadação em shows, mas a bilheteria dos jogos é toda do Clube, e percentuais menores em bares e restaurantes também. Terceiro, não são os cartolas do Palmeiras que administram, são cartolas que tem que tomar conta somente do Estádio, o que isso é muito bom, cartola de futebol não entende de gestão de Estádio, tem que ser gente do ramo. Em contrapartida, também existe outra empresa associada com o objetivo de levar shows, espetáculos, eventos corporativos para poder gerar receita e fazer aquilo funcionar. Então, me parece o modelo mais próximo do ideal, pelo menos na teoria, e tomara que dê certo para alavancar outros.
Eu acho que esses caras que estão à frente do Flamengo hoje são capazes de pensar nessa maneira e de buscar gente dessa capacidade. Aí sim seria interessante. Agora, a questão é aonde? Não podendo ser na Gávea, onde o Flamengo poderia construir um Estádio? Porque lugares remotos da cidade, muito distantes, ou na baixada Fluminense, não sei se resolveria. Você acaba se deslocando para uma região que a sua torcida não consegue chegar sempre. Enfim, tem que ser algo muito bem pensado. Não acho que seja tão fundamental ter um Estádio. Hoje, para o Flamengo especificamente, o ideal é melhorar este acordo com esse tal de consórcio.
Fala de Mauro Cezar Pereira ao Falando de Flamengo*
Matéria redigida por Eduardo El Khouri
@EduardoElKhouri
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