O Flamengo nacional é o Flamengo popular.

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Este deveria ser um texto poético. Às vésperas de um Clássico dos Milhões em Manaus, falar sobre a grandeza do Flamengo e sua capacidade de movimentar pessoas em todo o país seria conveniente. Não consigo, porém, assumir um tom tão entusiasta diante das condições impostas à torcida para o amistoso.
O rubro-negro carioca é um clube nacional, de fato. Seu processo de expansão pelo país pode ser explicado através de diversos acontecimentos históricos do Brasil – mas deixo isso para uma outra ocasião. A maior característica que se relaciona à identidade nacional do clube é a de uma torcida popular, no sentido mais comum da palavra; ou seja, massiva, grande e pouco restritiva. Disso, pode-se explicar a facilidade de torcedores de fora do Rio de Janeiro em abraçá-lo ao longo dos tempos. E nesse processo de muita inclusão, de adoção dessa identidade, foi se tornando tão querido como é hoje.
Nesta quarta, uma parte da torcida manauara poderá, pela primeira vez, ver o clássico ao vivo, diante de seus próprios olhos. Isso ajuda a fomentar a paixão pelo rubro-negro, que abre os braços para ser recebido por uma torcida muitas vezes excluída desse tipo de contato com o clube. A existência de um amistoso em Manaus, por conta de encontros como esse, é louvável, assim como a aproximação causada pelos treinos realizados pela cidade, entre outros eventos. O que não é, é a exclusão embutida no preço de seus ingressos.
Os bilhetes para o clássico custam entre 220 e 600 reais (110 e 300 com meia entrada para pessoas de até 16 anos e estudantes). A organização do evento é quem estipula os preços, buscando lucro a partir da taxa paga aos clubes participantes (além de Fla e Vasco, o São Paulo também joga o torneio). Com a escassez de jogos de Flamengo e Vasco, imaginavam que o jogo poderia atrair bom público, mas não é o que deve acontecer – a Federação Amazonense de Futebol já reduziu sua taxa sobre a arrecadação dos jogos por conta da baixa procura.
A natureza nacional do Flamengo está intrinsicamente ligada à sua identidade popular, construída ao longo dos anos e consolidada entre sua própria torcida. Afinal, clubes não nascem com identidades imutáveis, mas a remodelam e dão a elas importantes contornos sociais durante sua história. Ao mesmo tempo em que reforça o seu caráter brasileiro visitando o público amazonense, o clube é afastado de sua identidade popular com ingressos tão caros. Isso é tão contraditório que até mesmo esse avanço unicamente geográfico pode parecer pouco. E é. Até porque, por mais próximo que o Flamengo possa estar de lá, para boa parte dos torcedores, ir a esse jogo na Arena Amazônia está tão fora da realidade quanto ir a um jogo no Maracanã.

Fonte: ESPN F.C.
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