Falando de Flamengo – Nem bem o sábado de Carnaval começara e Neguin, maior rubro-negro da Vila Ludopédio, veio descendo a ladeira. Confete, serpentina, peruca, Manto Sagrado, garrafa de cachaça na mão.
Na esquina ali perto, bem na metade da descida, o boteco que era ponto de encontro de 11 entre cada 10 moradores da Vila, amanhecia preguiçoso, como despertam mesmo as coisas nesses dias de folia. Na única mesa já na calçada, dois dos companheiros de birita de Neguin, Tuga Bacalhau e Lorin, tricolor esnobe, iam tentando empurrar goela abaixo a primeira cerveja do dia, posto que esses dias momescos conferem uma licença moral pra beber cedo. Não que os três não bebessem cedo com frequência, mas pelo menos nesses dias de folia, TALVEZ não recebessem os olhares reprovadores das fofoqueiras de plantão no local. Maraca Bar acumulava as funções de boteco, padaria, pensão, armazém, e tantas quantas pudessem rotular a infinidade absurda de mercadorias caoticamente expostas em suas prateleiras aguerridas.
– Bora pra folia seus bebuns – implicou Neguin, cravando em desafio a garrafa de cachaça no centro da mesa.
– Que animação toda é essa, Neguin? Ganhou na Mega da Virada e escondeu dos amigos? Tu nunca foi de acordar cedo em dia de folga. Dona Patroa te botou pra dormir no quintal de novo? – desconfiou Tuga.
– Olha só… Cachaça Artesanal de Minas. Tá podendo, Neguin. Esse troço aí deve ter custado os olhos da cara. Tá explicado. Saiu cedo na ponta do pé pra Dona Maria não ver que torrou o dinheiro do aluguel em birita – concluiu Lorin – Ihhhhh… falando nela… Olha quem vem atravessando a rua. Perdeu, negão. Teu Carnaval começou a acabar.
– Ô Neguin, tá maluco? Ó… esqueceu a chave pendurada na porta de novo. Toma aí. Se não estou vindo comprar pão, ia sair sem chave outra vez – entregou e deu um beijo carinhoso na testa do rubro-negro.
– Vixe que o mundo virou de cabeça pra baixo – estarreceu-se Tuga.
Neguin era o retrato da felicidade. Tuga e Lorin não acreditavam no que viam. Ficou tudo ainda mais surreal quando Dona Maria saiu lá de dentro com umas compras em uma bolsa plástica e um prato com um pão na chapa. Largou o prato na mesa e proferiu um “Vê se não vai beber de estômago vazio”. Aquilo caiu como uma bomba de efeito moral na mesa.
Sem sons. Sem frases. O silêncio e os olhares que os outros dois dirigiam ao rubro-negro continham mais de 50 perguntas cada. Um queria saber, afinal, que porra estava acontecendo. O outro concluíra que a história da Mega da Virada só podia ser a explicação.
– Planejamento, meus queridos. Planejamento. Não minto mais, nem pra mim mesmo, não compro além do que posso. Essa Artesanal de Minas aqui, comprei com dinheiro que economizei em outras coisas. Nem era a que eu queria, mas era a que cabia no dinheiro das economias… E claro que a Patroa tava ciente de tudo.
Diante dos olhares interessados de Tuga e Lorin, Neguin seguia com sua palestra, cada vez com o peito mais estufado e a cabeça mais erguida. Enquanto falava, uma mesa ao lado já se ocupara e prestava também atenção, o que fez com que até elevasse um pouco mais o tom de voz.
– E lá em casa agora todo mundo ajuda de alguma forma. A gente vê o que precisa comprar e vê de onde vai sair o dinheiro. Ainda não tá não, mas vai acabar sobrando salário no final do mês em breve. Já até quitei a pendura aí no bar. Fechei a conta e tudo. Vou mais fazer dívida não.
Pum… Bum… Pum… Bum… Pum… Bum…
Na rua de baixo os sons do primeiro bloco de sábado da Vila Ludopédio começaram a ecoar.
– Epa… Agora firmou. Alguém topa? Bora prus broquin sambar? – convidou Neguin, já levantando e passando a mão na garrafa de cachaça.
– Posso não. Estou sem água lá em casa. Acho que é algum vazamento. Fiquei de tentar resolver isso hoje – recusou Tuga.
– Fora também. Não consegui renovar o plano de saúde lá de casa e a Patroa tá fula da vida comigo. Sabe como é, lá a gente tá sempre precisando usar. Volta e meia a gente cai… E sem plano complica – se lamentou o tricolor, Lorin.
Fora isso, os dois acabaram admitindo que só dava pra bebericar ali pelo Maraca Bar mesmo. A ideia era pendurar a conta e aumentar um pouco mais a dívida no caderninho do boteco.
– Sabe de uma coisa? – disse Tuga, enquanto ambos viam Neguin se perdendo na multidão – Tô achando que esse Urubu aí, nosso amigo, não tá comemorando só o Carnaval não. Tá com um jeito confiante demais. Acho que ele tá comemorando é essa nova vida dele, com esse tal de planejamento. Tá festejando é o ano, esse e os próximos.
– Pendura mais uma aí!!! – gritou o tricolor lá pra dentro – Bora beber… Depois a gente vê o que faz da vida.
CURTAS
#ChoroFolia
“Mamãe eu quero…
Mamãe eu quero…
Mamãe eu quero ganhar…
Não ganho nada…
Faz muito tempo…
Nem faço parte mais da Série A”
#ViceFolia
“As águas NÃO vão rolar…
Piscina cheia não vai ter para nadar…
Se Tio Charuton não fizer nenhum milagre…
Pra Série B… Eu vou voltar…”
#TapeteFolia”
Ei… Você aí… Me dá um dinheiro aí… Me dá um dinheiro aí…
Não vai dar? Não vai dar não?
Como é que eu vou pagar o Tapetão?
Eu vou perder, eu vou perder até cair…
Me dá, me dá, me dá… Me dá um dinheiro aí”
Charges: Lan e Mario Alberto
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muito bom!