Lédio Carmona: “Acréscimos da civilidade”

O que achei sobre o clássico em São Januário, dentro e fora de campo. Em tópicos, para não deixar dúvidas sobre qualquer um dos pontos.

1. O torcedor do Vasco tem todos os motivos para comemorar, mas entendo que o principal deles foi São Januário ter recebido um clássico com esse nível de tensão e, mais uma vez, ter funcionado. Não adianta querer que a Colina seja um estádio moderno, com cadeiras coloridas, lanchonetes que servem capuccino e tenha teto retrátil. É velho (tem 89 anos), o clube não tem dinheiro e as dificuldades estão expostas. Mas SJ merece respeito. Lógico que pode receber um clássico de quarta rodada de Estadual, quando não temos Maracanã e Engenhão. O preconceito e a má vontade contra um endereço histórico do futebol brasileiro são evidentes, constrangedores e, principalmente, elitistas. Que os clássicos voltem, com justiça, ao Maraca quando tivermos Maraca. Enquanto isso, respeitem São Januário, sua história, capacidade de acolher e limitações atuais, que eu sei que existem e precisam ser resolvidas.

2. Antes do jogo, 15 torcedores do Fla depredaram um banheiro. Foram presos. No fim do primeiro tempo, houve um tumulto na arquibancada. A polícia usou o que pôde, inclusive spray com gás de pimenta e balas de borracha. No segundo tempo, o GEPE manteve a situação sobre controle. Repito: se algo funciona bem no Rio, é o trabalho do Grupamento de Policiamentos nos Estádios. O trabalho é exemplar, mesmo com torcedores-baderneiros fazendo o que podem para boicotar o trabalho da segurança pública.

3. A rivalidade entre Vasco e Flamengo ultrapassou os limites do esporte. A rixa é legal, as gozações, também, e querer ganhar do adversário é mais do que saudável. Mas a relação está doentia. Ver aqueles brigões mais de perto, num estádio menor como SJ, revela a face do ódio de cada um deles. Queriam brigar, se matar, se aniquilar. A raiva de lado-a-lado ultrapassou todos os níveis de civilidade. As diretorias, a imprensa, os próprios jogadores precisam se sentar e debater esse clima de barbárie antes que presenciemos uma tragédia em qualquer clássico futuro. E não adianta botar a culpa em São Januário. A sociedade está doente e lhe sobra crueldade.

4. A hostilidade fora de campo acabou por contaminar os jogadores. Um clássico de quarta rodada não justifica tanta tensão em campo. E isso mexeu com os nervos dos jogadores. A partida foi ruim. 66 passes errados, 44 faltas, 54% de bola parada. E uma sensação térmica de 44 graus em campo acabou por fundir ainda mais a cuca da boleirada. Difícil jogar naquele forno e diante de tanta histeria. Repito: a rivalidade ultrapassou os limites da civilidade. E, repito de novo, não ponham a culpa em São Januário.

5. Apesar de tudo, o Vasco foi melhor. Teve mais organizacão, fôlego, padrão de jogo e vontade de ganhar: finalizou 14 vezes, contra 8 do rival. Rodrigo e Nenê fizeram ótimas partidas. E Rafael Vaz virou herói nos acréscimos, numa conclusão bonita, mas no meio do gol – Paulo Victor estava posicionado mais pelo lado esquerdo e não teve como voltar. Martín Silva não fez nenhuma defesa difícil, diante de um Flamengo sem ritmo e velocidade do meio para frente, com uma defesa lenta e pilhado, pilhado demais para um simples clássico de início de temporada.

6. Por fim, mais do mesmo. Vamos agir antes que essa rivalidade saia, definitivamente, do controle. E respeitem São Januário ou apresentem novas opções para abrigar o torcedor carioca, ao invés de denegrir quem ainda pode recebê-lo.

Fonte: Jogos que eu vi / Globo Esporte

Coluna do Flamengo

Ver comentários

  • Não, São Januário não é o culpado, a culpa é de quem colocou o jogo lá!

    E pedir pra respeitar aquele xiqueiro é sacanagem, papo de vascaído.

  • Fala que o estádio é velho e precisa de muitas melhoras, mas fala para respeitarmos ele pqp

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