O esquema tático é o principal reforço

Passamos, sem sombra de dúvida, por uma semana terrível. Fomos eliminados de um campeonato com nível muito abaixo das nossas capacidades e por um de nossos maiores rivais que, além de todo o histórico negativo, se encontra na segunda divisão do futebol nacional. Jogamos em um estádio a nosso favor e vínhamos de uma consistente atuação, contra o Confiança, que por sua vez sucedeu uma gorda vitória contra o Bangu. O momento, o adversário e o clima não deveriam representar outra coisa que não a vitória, mas não foi esse o fim.

Como bons flamenguistas, antes do apito final já começamos a caça às bruxas. Wallace, o capitão sem moral, César Martins, o zagueiro bailarino e até Guerrero, o goleador sem gols que ainda goza de certa moral, todos foram crucificados pela torcida, guardadas as devidas proporções para cada personagem. E a nação tem razão, de fato existem certos jogadores que simplesmente não tem condições de atuar pelo Flamengo.

Contudo, vocês realmente acreditam que a culpa é desses caras? Como diz o ditado, “quem não tem cão, caça com gato”. Vocês estão colocando a culpa de toda a situação na conta do pobre gato, que está ali naquela situação em função da ausência de alguém mais qualificado. Para alguns não se trata de má fase, se trata de serem ruins, mesmo. A culpa, meus amigos, é de quem bota esses caras pra jogar. A culpa é do Muricy.

Mas minha intenção aqui não é criticar as escolhas do treinador, pois quem conhece futebol sabe que qualidade técnica não significa vitórias. Todos sabem bem que Hernane, o Brocador, foi muito mais importante que Guerrero pro Flamengo, mesmo com 10% de sua capacidade. Todos sabem que um dos times mais elogiados do país, o Audax, conta com jogadores de nível baixíssimo, inclusive nosso cria Camacho. Hoje não mais temos jogadores que decidem os jogos sozinhos, como foi com Pelé, Maradona e Zico. A tática evoluiu com o tempo, e se tornou a principal arma deste esporte.

E qual a tática do Flamengo, hoje? Nenhuma. Aleatoriamente alternamos entre o 4-4-2 e o 4-3-3 (ou chame de 4-5-1, se preferir). Muitos elogiam esta postura, por confundir o adversário. Errado. Essa inconstância impede os jogadores de obter uma coisa fundamental no futebol, que é o padrão de jogo e o entrosamento. É tocar num espaço vazio sem olhar por saber que ali estará um companheiro, é saber que eu posso tabelar e correr pra um espaço X pois ali receberei outro passe. É algo que o Flamengo não tem.

Pessoalmente, defendo muito o 4-4-2, e claramente este esquema beneficiou o estilo de jogo do time. Saímos de uma estagnação criativa para bons momentos, mesmo com poucos treinamentos com o esquema. Vale lembrar que ele foi utilizado pela primeira vez contra o Botafogo, uma prova de fogo, e nos trouxe um empate, mesmo sem coletivo algum com a tática. Entretanto, o Muricy pode adotar o esquema que quiser, desde que funcione. É no mínimo lamentável levar 4 meses e não conseguir definir um esquema tático sólido, mesmo com todos os jogadores de qualidade que temos.

Por fim, acho que o futebol brasileiro é atrasado por demais, no sentido tático. Todos os times tem esquemas previsíveis, e no dia que um treinador de coragem e ousado chegar, ele ganhará tudo. O próprio Muricy, com o São Paulo, foi praticamente imbatível por anos, com um esquema horrível de jogo truncado e vitórias magras. Jair Picerni, com o São Caetano, chegou a patamares elevados com um esquema absurdamente ofensivo, sem medo de arriscar. E como eu gostaria de ver algum louco no Flamengo… e, por falar em louco, por onde anda El Loco Bielsa?

SRN!

Rodrigo Coli

rodrigo.coli@colunadofla.com