Separadas, “e” e “se” são duas palavras que não ameaçam ninguém. Mas unidas, elas tem o poder de agoniar os pensamentos de muita gente. “E se?”. Não temos como saber o quão diferentes seriam várias histórias, mas nunca é tarde para o exercício. Desde 1912, o Fla-Flu é um dos maiores clássicos do Brasil. A rivalidade surge a partir de uma cisão de nove ex-jogadores do Fluminense que deixam o clube e fundam o departamento de futebol rubro-negro. Desde então, foram 319 jogos, 880 gols, 11 finais e muita história. Que poderia ser diferente, se…
O GloboEsporte.com levantou partidas históricas entre os dois rivais. Nelas, lances capitais estão na memória, como o gol de barriga de Renato Gaúcho em 1995 ou o pênalti de Cássio em 2001. Mas a memória também esquece coisas importantes, e estamos aqui para lembrar. Separamos alguns momentos que, caso tivessem acontecido – ou não -, poderiam modificar para sempre a história do clássico. Escolhemos oito Fla-Flus: quatro histórias modificadas para cada lado.
“E se a história fosse diferente” pró-Flamengo
1983 – E SE RAUL DEFENDESSE AQUELE CHUTE DO ASSIS?
O Flamengo segurou o 0 a 0 por 90 minutos, mas aos 45 da segunda etapa, Assis invadiu a área e deu o título ao Fluminense, se eternizando como “Carrasco” rubro-negro. Mas e se Raul defende aquele chute, que passou por baixo de suas pernas?
1984 – E SE O FLAMENGO JOGASSE BOLA NA FINAL DO CARIOCA?
No ano seguinte, a história se repetiu: gol de Assis na segunda etapa e festa do título nas Laranjeiras e vitória por 1 a 0 em atuação abaixo da média do time rubro-negro. Mas e se o Fla tivesse jogado bola naquele jogo?
1995 – E SE RENATO GAÚCHO NÃO FIZESSE O GOL DE BARRIGA?
O Fla-Flu de 1995 é, sem sombra de dúvidas, um dos maiores jogos entre as duas equipes na história do clássico. O gol de barriga de Renato Gaúcho é o lance mais famoso da rivalidade. Mas e se isso não tivesse acontecido?
Se Gelson e Fabinho fechassem o ângulo do astro tricolor dentro da área enquanto Aílton cortava Charles Guerreiro e batia cruzado, a bola iria para fora ou seria cortada pela defesa. O título seria a consagração do projeto de Kleber Leite. Em 1995, o Flamengo vivia seu centenário, e o ex-radialista formaria o “melhor ataque do mundo”: Sávio, Romário e Edmundo.
A taça seria a primeira do Baixinho com a camisa rubro-negra, e ele seria, de fato, o Rei do Rio – no lugar de Renato e Túlio, centroavantes rivais à época. O “sem ter nada” não existiria, tampouco a sina de perder sempre para o Flu nos minutos finais.
2012 – E SE CLEBER SANTANA NÃO PERDESSE AQUELE GOL?
Em 2012, o Fluminense não deu chance para ninguém em gramados cariocas. Uma conquista avassaladora no Estadual, com grande atuação na final da Taça Guanabara e goleada sobre o Botafogo no Engenhão na finalíssima. No Brasileirão, tetracampeão com três rodadas de antecedência, em grande campanha sob o comando de Abel Braga. O Fla vinha claudicante naquele ano. Sequer disputou final de turno no Carioca e era apenas o 11º colocado do Campeonato Brasileiro quando recebeu o então líder Flu no Engenhão.
O gol de voleio de Fred – prometido em sua apresentação no clube, em 2009 – botou o Fluminense na frente logo no início do jogo. A equipe de Abelão, entretanto, sofreu forte pressão durante todo o jogo, mas contou com a falta de pontaria do ataque rubro-negro para sair com a vitória, abrir seis pontos do Atlético-MG e caminhar a passos largos para o título. Mas e se Bottinelli, herói no Fla-Flu do ano anterior e cheio de moral para cobrar o pênalti, não perde a penalidade e o Fla vira o jogo?
O Fluminense seguiria com três pontos de diferença para o Galo, é bem verdade, mas iria sem confiança para o clássico da rodada seguinte com o Botafogo. E poderia perder a liderança, já que o time mineiro, no Independência, enfiou 6 a 0 no Figueirense. O Flu poderia perder o tetra, e a culpa cairia no colo de Abel, que mexeu mal naquele jogo tirando Thiago Neves, Wellington Nem e Fred e recuando o time. Já o Fla colocaria água no chope tricolor e entraria na briga por uma vaga no G-4. E aí, em 2013, poderia fazer companhia ao Flu na Libertadores.
“E se a história fosse diferente” pró-Fluminense
1996 – E SE O FLU VENCESSE AQUELE CLÁSSICO DOS DESESPERADOS?
Em 1996, a história era bem diferente do ano anterior. O Fluminense vivia grave crise financeira e não manteve a força do time que quase fez a final do Campeonato Brasileiro de 1995 após o épico título carioca. Depois de um ano decepcionante em seu centenário, o Flamengo tinha uma grande equipe e havia conquistado o Cariocão daquele ano.
Desesperado, o Tricolor dependia de uma vitória no clássico da 21ª e antepenúltima rodada para sair da zona de rebaixamento. O problema é que o Fla não deu chance: 3 a 1 inapelável, em grande atuação de Sávio no Maracanã. Mas e se o Flu vencesse aquele jogo?
Uma vitória tiraria o Tricolor da zona de rebaixamento daquele campeonato, que depois ficou marcado pelo escândalo de arbitragem envolvendo o presidente da Comissão de Árbitros, Ivens Mendes, o Atlético-PR e o Corinthians, o “1-0-0”. Nenhum time foi rebaixado neste ano. Mas só o Flu carrega a mácula da virada de mesa. O que não ocorreria se o time liderado por Renato Gaúcho, agora técnico, se salvasse em campo do descenso e a cena do presidente Álvaro Barcellos estourando champanhe nas Laranjeiras também nunca tivesse acontecido.
1997 – E SE LEANDRO ÁVILA NÃO FOSSE EXPULSO?
O ano de 1997 é ainda mais trágico para a torcida tricolor. Após 25 rodadas, o Flu não aprendeu a lição de 1996 e terminou mais uma vez na zona de rebaixamento, amargando o descenso para a Série B. O Fla-Flu daquele Brasileirão foi na 17ª rodada, sete jogos antes do fim da primeira fase. Ali, o Tricolor era o primeiro fora da zona de rebaixamento, e o Flamengo, o último dentre os oito que se classificariam para a fase seguinte.
O Rubro-Negro venceu de virada:2 a 1, em jogo com um cartão vermelho para cada lado. Mas e se Leandro Ávila não fosse expulso?
2001 – E SE O PÊNALTI DE CÁSSIO NÃO ENTRASSE?
O ano de 2001 é especial no coração dos rubro-negros. A equipe conquistou o tricampeonato carioca em uma decisão épica, o terceiro capítulo da trilogia Flamengo x Vasco na final do Campeonato Carioca. As estrelas cruzmaltinas ganharam quase tudo naquela época – Libertadores, Mercosul e Brasileirão -, mas não conseguiram bater o Fla na disputa regional.
O time da Gávea chegou à final do Estadual após levar a Taça Guanabara em disputa de pênaltis com o Fluminense. Na quarta cobrança, Murilo pulou para a esquerda e pegou o pênalti de Cássio. Pegou? Nada. A bola quicou no canto oposto e voltou para dentro das redes, em lance inacreditável. Na série seguinte, oFlamengo saiu com a vitória e o título. Mas e se Cássio perde aquele pênalti?
A final do Carioca daquele ano teve o gol de falta de Petkovic aos 43 minutos do segundo tempo, um lance que o torcedor rubro-negro lembra com enorme carinho. Mas se Cássio perdesse aquele pênalti, não haveria o “gol do Pet”. O sérvio poderia não ter virado ídolo. E quem sabe, não voltasse em 2009 para ser hexacampeão brasileiro. Imagine só: uma cobrança fracassada e dois títulos a menos. Para piorar, o Fla perderia a chance do tri e veria o Fluminense, voltando de “viagem” às divisões inferiores, vencendo mais uma final entre os dois.
2004 – E SE KLEBER DEFENDESSE O CHUTE DE ROGER GUERREIRO?
Em 2004, o presidente da Unimed, Celso Barros, resolveu assumir um cargo oficial na diretoria do Fluminense, seu clube do coração. E em sua primeira ação como vice-presidente de futebol foi montar sua versão da “Máquina” Tricolor. Trouxe Romário de volta do Catar, tirou Edmundo do Vasco, repatriou Ramon, que estava no Japão, e conseguiu mais um empréstimo do ídolo Roger junto ao Benfica. O Flu era o franco favorito ao título carioca.
Só que havia o Flamengo pela frente. Na fase de grupos, jogaço que terminou em 4×3. O Tricolor tinha brigas internas, e o meia Roger chegou a atuar em alguns jogos com a camisa 3, deixando a 10 em disputa entre Edmundo e Ramon. Mas foi outro Roger que decidiu: o lateral do Flamengo, que viraria algoz tricolor a partir dali. O lance do gol da vitória rubro-negra veio em falha geral da defesa tricolor. Mas e se aquela bola não entra?
Fonte: GE