Carabao: quem é, o que pretende, aonde quer chegar

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No final do ano passado, veio a informação de que a Carabao Energy Drink – até então desconhecida fabricante tailandesa de bebidas energéticas – patrocinaria o Flamengo com valores e termos inéditos em se tratando do mercado brasileiro. Durante a temporada de 2017 serão R$ 15 milhões anuais pela exploração das mangas do uniforme rubro-negro, passando a R$ 35 milhões a partir de 2018, quando a empresa assumirá o peito e a condição de principal patrocinadora do clube até 2022.

Como não deixaria de ser em se tratando dos flamenguistas, formou-se um tsunami de euforia, otimismo e curiosidade. Torcedores tomaram a web em memes exaltando a Carabao em detrimento de suas principais concorrentes. Gerou-se enorme desejo de consumo no tocante a um produto que ainda sequer aportou no mercado – e sobre o qual, portanto, se desconhecem preços e qualidade. Criou-se uma quase umbilical relação baseada na piada do “nem te conheço e já te considero”. Tudo por uma companhia que só criou perfil oficial no Facebook do Brasil dia 30 de dezembro – concomitante ao anúncio da parceria com o Fla.

Brincadeiras e exageros à parte, é mais do que pertinente questionar não apenas quem é, mas o que pretende e aonde quer chegar a Carabao.

Pra início de conversa, estaríamos diante de alguma aventureira? A princípio, não. Segundo matéria do Meio & Mensagem – de onde foram extraídas algumas das informações aqui processadas – a Carabao é uma empresa fundada em 2002, com maior presença na Ásia e detentora de 17% do market share de energéticos na Tailândia. Com processo de internacionalização iniciado em 2004, o Flamengo não é o maior investimento esportivo da mesma: para a temporada 2017/2018, o conglomerado adquiriu os naming rights da Copa da Liga Inglesa por aproximadamente US$ 12,2 milhões (R$ 38,6 milhões); o patrocínio do uniforme de treino do Chelsea por 10 milhões de libras anuais (R$ 39 milhões); e a condição de patrocinador principal do Reading FC, da segunda divisão da Inglaterra, dispendendo a bagatela de US$ 37 milhões (R$ 117,2 milhões) por temporada.

A grande questão é o tamanho da Carabao em face do volume de seus investimentos. Estima-se que a companhia tenha fechado 2015 com receita próxima aos US$ 225 milhões. Isto faria com que apenas os aportes futuros a EFL Cup, Chelsea, Reading e Flamengo – que somarão cerca de US$ 65 milhões em 2017 – representem mais de um quarto de tudo o que a empresa vem faturando. Fica difícil não comparar tamanha agressividade a um all in por parte da Carabao, algo um tanto preocupante caso ela não atinja suas metas. Bom lembrar que, além dos valores envolvidos, o contrato firmado com o Flamengo foi também exaltado justamente por seu prazo de seis anos, o mais longo entre os principais anunciantes do futebol tupiniquim.

E quais seriam, afinal, as tais metas da Carabao? Uma dica surgiu em matéria publicada pelo Mundo Rubro Negro, quando foi revelado que o contrato dos tailandeses com o Flamengo presume pagamento de R$ 10 milhões adicionais caso ultrapassem a marca das 70 milhões de latinhas vendidas. O bônus iria a incríveis R$ 80 milhões caso a Carabao venha a se tornar líder de mercado durante a vigência do contrato com o clube carioca.

Parece ousado, quase insano, talvez porque realmente seja. Segundo material extraído do portal da revista Exame, em junho de 2016, o mercado brasileiro de bebidas energéticas fechou 2015 com consumo total de 390 milhões de latas e viés de alta próximo aos 15% anuais. Mantida a expectativa, significa que em 2017 serão comercializadas cerca de 515 milhões de unidades. Assim, as 70 milhões de latas necessárias para o Flamengo acionar seu primeiro bônus (de R$ 10 milhões) tornariam a Carabao detentora de 13,6% do mercado – quase o que ela detém em seu próprio país.

Atingida a primeira meta, teríamos os tailandeses na segunda posição no ranking de market share nacional, pois assim seria a estrutura do mercado brasileiro de bebidas energéticas em 2015: Red Bull (43%), Ambev e Coca-Cola (10%), Grupo Petrópolis (8%), Globalbev (5%), Monster (4%), outros (20%). Ou seja, para acionar o segundo bônus (de R$ 80 milhões), a Carabao precisaria ultrapassar a inacreditável barreira das 222 milhões de latas vendidas.

Há uma semana, a página do jornal Extra trouxe ainda mais luz sobre o plano de metas da fabricante asiática. Segundo a publicação, uma das cláusulas do contrato determinaria a venda de 37 milhões de latas até o dia 30 de setembro de 2018, ultrapassando as 40 milhões de 2019 em diante. Tudo sob pena de rompimento de contrato, caso as projeções não sejam atingidas. Nossos cálculos do parágrafo anterior – que tem como base o ano de 2017 – indicam que a Carabao rescindiria seu acordo com o Flamengo caso não atinja 7% do market share no Brasil.

Em se tratando de um mercado tão pulverizado e competitivo, estaríamos praticamente diante de um devaneio. Primeiro porque estima-se que existam mais de cem marcas de energético por aqui. E em segundo lugar, para atingir seus “meros” 8% de market share atuais, o energético TNT, do Grupo Petrópolis, ocupa nada menos que a condição de patrocinador oficial da Scuderia Ferrari de Fórmula-1 há alguns anos. Nem é preciso discorrer a respeito do volume de investimentos da Red Bull no próprio automobilismo, na TV, futebol e em esportes radicais globalmente.

Diante do exposto, temos que a Carabao surge aparentando ser uma empresa jovem, audaciosa e possivelmente bastante alavancada. O que colherá no futuro depende, sobremaneira, do sucesso de suas empreitadas no universo esportivo inglês e brasileiro. Por aqui, e até o momento, seu único representante seria o Clube de Regatas do Flamengo. Nele residiria a esperança de visibilidade oferecida pela instituição, bem como o consumo potencial de sua enorme torcida. Ainda assim, fica difícil acreditar que metas traçadas para cachorros tão grandes sejam facilmente atingidas por touros ainda tão pequenos.

Um grande abraço e saudações!

Fonte: Blog Teoria dos Jogos

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  • Bom lembrar que, não devemos pensar no número de torcedores como um todo, ao se especular o tal volume de vendas; pois não estamos falando em consumo de água, algo que todos bebemos; trata-se de uma bebida que tem as suas especificidades, relativas a hábitos, faixa etária, até o componente socio-econômico entra em toda esta equação.
    SRN

  • Matéria muito interessante e esclarece muitos pontos importantes.
    Só esqueceram de falar que essas metas estabelecidas em contrato são para o mercado brasileiro e eles só precisam vencer a concorrência de marcas que ao meu ver fazem marketing em setores onde nem se tem grande visibilidade aqui no Brasil, como a Fórmula 1, que hoje em dia tá muito chata e a audiência cada vez mais baixa. A Carabao vai estampar sua marca na camisa do Flamengo e no Brasil não existe qualquer coisa que tenha mais visibilidade do que a camisa do Flamengo, e pelo tamanho do investimento da empresa parece que finalmente alguém enxergou isso.
    Outro ponto muito importante que não foi levantado na matéria é que a Carabao vai entrar no mercado com força e os consumidores irão substituir outra marca por ela, então além de ela ter o número de consumidores elevado seus concorrentes terão reduzidos drasticamente a clientela, levando a termos futebolísticos seria um jogo de seis pontos com vitória da Carabao.

    • Excelente ponderação.

      Primeiro, o Flamengo no Brasil é uma vitrine muito maior que a F1;

      E segundo, duvidaram da fidelidade do flamenguista. É claro que a Red Bull vai perder pelo menos metade dos seus consumidores, que, rubro-negros como são, vão beber o energético da parceira do time.

  • Achei o projeto de divulgação da Carabao muito fraco. Primeiro que uma das formas que mais atingem público são as redes sociais, e até o dia 30 de Dezembro de 2016 a empresa nem se quer tinha página no Facebook (rede com 1 bilhão de usuários). Página no Instagram também foi criada agora a pouco. Dessa maneira só chego a conclusão que a Carabao jogou um TE VIRA para o nosso Mengão. É torcer para que a nação compre a ideia e a Carabao tenha grande aceitação no mercado, vai ser bem difícil.

    • Calma, eles nem entraram no mercado ainda, estão preparando o terreno para chegar batendo forte, grande parte do marketing nas cidades é feito pelos distribuidores, até fechar o contrato com o Flamengo o Brasil era apenas uma possibilidade, no carnaval é que vai se tornar uma realidade de verdade.

      • Mas eles não tinham nem PÁGINA no Facebook amigo, essa rede social é mundial, é como se eles só passassem a existir digitalmente falando após a parceria com o Flamengo. O que quero dizer é que rede social é um meio com 1 bilhão de usuários no mundo e a Carabao até fechar com o Mengão não tinha nada, zero de marketing digital mundial.

        • Entendo sua preocupação, mas com certeza muitas pessoas já viram essa marca estampada nos jogos do Chelsea, portanto não é uma marca totalmente desconhecida. SRN

        • Você está enganado, eles tem várias páginas no Facebook, uma para cada país onde estão presentes e mais a “carabaoofficial”. A que foi criada agora foi apenas a página específica para o Brasil.

    • Países asiáticos não conhecem o poder das nossas redes sociais aqui, talvez isso explique o fato de eles ainda não terem campanha forte em redes sociais.

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