De campeão da Copa São Paulo a técnico interino, de efetivado à vaga direta na Libertadores pelo Brasileiro que não vinha desde o título em 2009. Agora campeão carioca. Com o empate sem gols contra o Atlético-GO pela Copa do Brasil utilizando um time repleto de reservas, são 65 partidas. 37 vitórias, 17 empates e 11 derrotas. 65% de aproveitamento.
Mais que números, Zé Ricardo entrega desempenho de um Flamengo difícil de ser batido. Organizado e concentrado. Que levanta taça mesmo sem Diego, a principal estrela. Não se acomoda e, mirando o Campeonato Brasileiro que começa no fim de semana, já pensa mais à frente, quando Conca estiver pronto. ”Nosso primeiro pensamento é tornar o time mais criativo”.
Confira a entrevista exclusiva com o treinador, que fala também de Márcio Araújo como exemplo de força mental, aproveitamento da base, cabeça fervilhando de ideias e o que vê de bom no futebol pelo mundo. Inclusive confessando sua torcida na final da Liga dos Campeões entre Real Madrid e Juventus.
BLOG – Zé, é absurdo afirmar que a marca da trajetória do Flamengo sob seu comando, culminando com o título carioca, é a força mental – do técnico novato para lidar com pressão, do Marcio Araújo suportando as críticas, de todos para compensar a ausência do Diego, etc.?
ZÉ RICARDO – A concentração é nosso mantra. Eu nem preciso lembrar muito, os próprios atletas se cobram, porque todos se precisam. O jogador precisa saber o que fazer em qualquer circunstância, inclusive a mais inesperada.
Sobre o Márcio Araújo, sem dúvida é um exemplo para todos nós. A personalidade dele é impressionante! Não liga para críticas e elogios e faz isso sem esforço. É totalmente focado no campo. Quando o Rômulo chegou, eu disse ao Márcio que não era para barrá-lo. Com o Diego sendo convocado, eu imaginava trabalhar com os dois, mais o Willian Arão. Era uma possibilidade e aconteceu.
BLOG – E a utilização dos laterais Rodinei e Trauco em funções diferentes, também gerou pressão por usar quatro jogadores da mesma posição?
ZÉ RICARDO – O importante é ter convicção. Pelas características, eles se encaixam bem nessas funções e abrem espaço, por exemplo, para o Renê ganhar seqüência na lateral. Como o Marcelo Cirino estava para sair para o Internacional, e depois acabou saindo, trabalhei com o Rodinei como externo pela direita já no primeiro jogo oficial, contra o Boavista.
Mas tem que acreditar muito nos atletas, confiar. Porque é difícil passar pelas cobranças de quem não compreende a diferença entre posição e função. E eu sei que se não tivesse conseguido os resultados talvez eu não estivesse aqui hoje como técnico do Flamengo. Mas, assim como o Márcio, eu procuro agir com convicção para ter a consciência tranquila.
BLOG – O Márcio Araújo tem se arriscado mais à frente, fazendo inversões de jogo com passes longos. Isto é mais confiança ou treinamento?
ZÉ RICARDO – É trabalho. Um complemento desde a pré-temporada para a saída de bola não ser sempre curta. Também queria um passe mais profundo de trás para acionar a velocidade do Berrío, fazer o colombiano acelerar. Ele trabalhou e ganhou confiança. Antes era o passe de segurança, até para se preservar. Hoje ele já se projeta à frente dos outros dois meio-campistas. Como diz o Bielsa, com treinamento e confiança, dá para fazer tudo em termos táticos e estratégicos.
BLOG – Dá para encaixar o Diego na volta dele num 4-1-4-1, sem retornar ao 4-2-3-1?
ZÉ RICARDO – Perfeitamente. A opção de colocar Diego mais avançado foi para aproveitar todo seu potencial mais próximo do Guerrero. Conversei com ele para entrar na área, fazer gols. Mas é uma questão de conscientizar na fase sem posse de bola, no trabalho defensivo, e isso ele faz muito bem. Também pode ajudar na saída de bola, atuando mais recuado, na mesma linha do Arão.
BLOG – No início da temporada, você encaixou Mancuello como um meia atuando pela ponta visando preparar a equipe para receber Conca. Com a lesão de Diego, você voltou aos ponteiros velocistas. Qual o plano para quando tiver todos disponíveis? Ainda há o propósito de escalar Diego e Conca juntos?
ZÉ RICARDO – É o nosso primeiro e principal pensamento. A meta no Brasileiro é tornar o time mais criativo no último terço, quebrar as linhas de marcação. Coloquei, sim, o Mancuello pensando no Conca, também porque a concorrência no meio-campo era bem dura para ele. Foi até bem pelo lado. Depois foi para o meio, agora está machucado.
Com Diego e Conca disponíveis, eu tenho diversas possibilidades, a cabeça até fervilha (risos). Se o Conca jogar pelo lado direito, eu posso compor com Pará e Arão fechando em um trabalho mais forte de cobertura. Mas também posso abrir o Diego pela esquerda, com Berrío à direita e Conca centralizado, mais solto. Aí o Márcio junto com o Trauco fechariam mais o setor. O Diego já atuou assim, inclusive no Atlético de Madri, com o Simeone. São ideias, os treinamentos e jogos é que vão mostrar a melhor forma de aproveitar todo esse potencial.
BLOG – Sei que você não fala em jogadores que não fazem parte do elenco que comanda, então farei uma pergunta genérica: quando você pensa em Everton Ribeiro num time qualquer, o visualiza na mesma função executada no Cruzeiro – ponta articulador pela direita jogando com pé invertido, o canhoto?
ZÉ RICARDO – Pensando até no time em que atua nos Emirados Árabes (Al Ahli), ele pode atuar nas três posições atrás do centroavante num 4-2-3-1. Ou mesmo num 4-1-4-1, até porque ele foi lateral quando surgiu na base do Corinthians.
BLOG – Se você tiver três meias de qualidade técnica, em plena forma, pode até abrir mão dos ponteiros?
ZÉ RICARDO – Como disse, tudo depende dos treinamentos, dos jogos, até das características dos adversários. Na base eu trabalhei com Cafu, Matheus Sávio e Paquetá atrás do Vizeu. Nenhum velocista típico. Você pode perder de um lado, mas ganhar de outro.
BLOG – Você reconhece que se tivesse Conca desde o início da temporada para testar durante o Carioca seria mais fácil do que tentar encaixá-lo agora, com Brasileiro e jogos decisivos em Libertadores e Copa do Brasil, caso o time se classifique?
ZÉ RICARDO – É óbvio. Mas foi uma oportunidade de mercado, contar com um jogador que dispensa maiores explicações sobre seu potencial técnico. Eu sei que haverá pressão. Eu vi pessoas exigindo a escalação do Ederson assim que o Diego se lesionou. Coloquei contra o Atlético-GO e todo mundo viu a dificuldade, natural pela falta de ritmo de jogo.
O Conca vai passar pelo mesmo, é quase um ano sem jogar. Felizmente a conquista do Carioca tira um pouco do peso das cobranças e há mais tranqüilidade e confiança para trabalhar e fazer testes, mesmo em meio a jogos tão duros. Mas isto acontece em toda temporada. O Brasileiro nem começou e tivemos cinco partidas decisivas em 15 dias!
BLOG – Eu tenho a impressão de que você, por conviver com todas essas pressões tendo subido há pouco das divisões de base como treinador, tem uma cautela até excessiva com os jovens que comandou, com temor que se queimem por conta de uma atuação ruim. Estou errado?
ZÉ RICARDO – Não. Eu reconheço o cuidado, que às vezes passa até do ponto. Me preocupo com a pressão. Porque há torcedores e jornalistas que têm uma paciência maior com quem vem da base. Mas também existem outros que acham que o garoto tem que dar resposta imediata e não é assim que funciona. Não dá para lançar todos ao mesmo tempo.
BLOG – Para finalizar, o que tem chamado sua atenção no futebol mundial?
ZÉ RICARDO – Ah, a Juventus! Como bom italiano (risos). Sem dúvida terá minha torcida na final da Liga dos Campeões. Nos meus estudos e observações noto que cada vez mais os times têm duas formas de controlar o jogo: pela posse ou pelo espaço. Contra o Barcelona no Camp Nou, eles negaram o meio para o adversário trabalhar, fecharam até com seis na última linha e não deram brecha. Mas também sabem ficar com a bola, se necessário. Aliás, esta é a maior mudança do futebol atual, porque culturalmente o italiano prioriza muito a defesa.
Me chama atenção também a intensidade do futebol alemão, a posse dos espanhóis, que admiro muito, e o 5-4-1 mais “duro” do Chelsea, que se sustenta muito na frente com o Diego Costa, que retém bem a bola e é ótimo finalizador.
Fonte: André Rocha
Excelente entrevista. Acredito que ele vai preferir usar o Conca na direita e manter o Diego com mais liberdade, pois em nenhum momento ele tentou usar o Mancuello por dentro e o Diego pela esquerda.
Já pensou Flamengo x Juventus em dezembro? ZR enfrentando o time que tem como referência.
E ainda tem gente que esse ano VAI DIZER QUE O CARA É TREINEIRO, ENTREGADOR DE COLETES…
Vão TUDO pra PQP !!!!
kkkkkkkkkk…..Treineiro é sacanagem, mas ele insistiu muito em um unico esquema tatico ano passado, e é forçoso dizer que só mudou o esquema esse ano porque o Diego se machucou. Foi essa dificuldade que fez ele se soltar taticamente e arrumar o time no 4-1-4-1. Outra variação tatica que ele insiste em não usar mais que nos beneficiaria muito é o 4-4-2 com um losango no meio, e a subida dos laterais alternadamente. Esse esquema ajudaria na marcação de gols (hoje nosso maior dificuldade), pois todos sabemos que o Guerrero é um atacante sensacional, mas carece de alguem mais proximo para tabelar no 1-2 e finalizar mais……O Zé está evoluindo sim, mas as criticas (quando embasadas) não são ruins….ninguém melhora sem ser criticado…é só olhar o que aconteceu com o Vandeco que de tanto ser exaltadao esqueceu de se atualizar e evoluir, e hoje é uma sombrinha do Vanderlei Luxemburgo do passado…
Esqueça o ano passado…
Ano passado, arrumou o time, imprimiu um padrão de jogo, jogava para não perder e se possível ganhar de 1 a 0, o empate na maioria dos jogos foi considerado para ele um excelente resultado pois BRIGOU para se manter no cargo e seu emprego para começar um trabalho de um ZERO esse ano.
E sinceramente eu teria feito a mesma coisa….
Ao meu ver ponto pra ele.
Nada a ver sua comparação com o Luxa…
Luxa sempre quis ser a “Estrela da Companhia”…
ZRicardo não busca holofotes e mantém SEMPRE a HUMILDADE e senso de Grupo ao máximo…
Ponto também pra ele.
Saudações e Mengão sempre !!!
Carlos não comparei ele com o Luxa, o que eu disse é que aqueles que não ouvem as criticas não vão evoluir (criticas construtivas e decentes, não esse monte de gente pedindo cabeça de tecnico a primeira derrota)…o Luxa não é exemplo, mas o que aconteceu com o Luxa deveria ser exemplo para todos os técnicos no pais….
Concordo plenamente !!!
Saudações.
Torço pelo sucesso do Zé Ricardo e do meu Flamengo, mas quando ele insiste com Gabriel e não usa a autoridade de treinador pra dar um esporro no Vaz ele se queima, treinador tem que saber até onde um jogador pode ir, o Vaz já mostrou ser um ótimo zagueiro e é só isso, e o Gabriel todos sabemos que não tem como esperar nada dele…
O cara sabe.