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André Rocha: “Zé Ricardo é mais um que cai no conto do estadual, a ilusão do Flamengo”

No on e no off da entrevista que Zé Ricardo concedeu a este blog antes da estreia no Brasileiro (leia AQUI), ficou claro que o jovem treinador sentia mais confiança no próprio trabalho depois da conquista do Campeonato Carioca

O papo foi entremeado por colocações como ”agora posso arriscar mais” e ”depois do título tenho mais respaldo”. A que mais chamou atenção, porém, foi a de que dormiu mal durante as semanas que antecederam os clássicos contra o Fluminense e ”ainda tinha o jogo contra a Universidad Católica”.

Hoje, com a distância do olhar, é impossível, guardando todas as proporções, não lembrar da despedida de Joel Santana em 2008. Um jogo eliminatório de oitavas de final da Libertadores tratado como um amistoso festivo pela conquista do estadual e de lamento pela saída do treinador que iria para a África do Sul. O América do México e Cabañas tornaram aquela noite de triste memória para os flamenguistas.

De novo a prioridade, ainda que intuitiva, que o Flamengo dá ao Carioca. Um torneio irrelevante na análise da temporada que no calor da disputa ganha importância desmedida. Talvez pela rivalidade criada na cidade, que naturalmente é mais forte de Vasco, Botafogo e Fluminense contra o rubro-negro. Ou por encarar como uma chance de título mais palpável e imediata, ainda mais agora com a Libertadores sendo decidida apenas no final do ano. Ou simplesmente algo cultural.

Zé Ricardo se sentiu aliviado pelo primeiro título da carreira. Mas exatamente uma semana depois da entrevista viria o golpe mais duro e inesperado: a derrota para o San Lorenzo em Buenos Aires combinada com a vitória do Atlético Paranaense no Chile sobre a Universidad Católica que decretou a eliminação da Libertadores ainda na fase de grupos.

Algo que não passava pela cabeça do técnico porque considerava que seus atletas também haviam tirado um peso das costas com o título. Já fazia planos com Conca, talvez Everton Ribeiro. Voos mais altos. Tudo desabou naquela noite no Nuevo Gasometro. Para não voltar mais.

Campanha decepcionante no primeiro turno do Brasileiro, duas classificações suadas e cercadas de críticas pelo desempenho contra Atlético-GO e Santos na Copa do Brasil e o consolo da Sul-Americana apenas começando contra o Palestino, algoz no ano passado. A única surpresa desagradável de um 2016 em que Zé Ricardo surgiu como uma boa nova na Gávea, sucedendo Muricy Ramalho e organizando uma equipe que parecia perdida.

Assim como agora dá a impressão de estar sem rumo. Contratações importantes no meio da temporada, sem tempo para treinar e ganhar entrosamento. Também não podem colaborar na Copa do Brasil, competição em tese com mais chances de título por já estar na fase semifinal. Não estão inscritos. Chegaram tarde.

A conclusão a que se pode chegar é que, sem perceber, o Flamengo se prepara mesmo é para a disputa do estadual. Porque é na pré-temporada que as contratações do segundo semestre do ano anterior têm tempo para se preparar. E na fase decisiva o clube se mobiliza tratando todo resto como secundário.

O trabalho de Zé Ricardo pereceu nesta ilusão. Assim como Ney Franco há dez anos. Campeão carioca, eliminado pelo Defensor nas oitavas do torneio sul-americano e depois perdendo o emprego por uma sequência ruim no Brasileiro. Para Joel voltar, construir uma fantástica arrancada que terminou com a improvável vaga na Libertadores. Até a noite de Cabañas.

Os nomes aventados para a sucessão não empolgam: Jorginho, Paulo César Carpegiani..ou tentar demover Roger Machado da decisão de não mais trabalhar no Brasil em 2017. Arriscar um treinador estrangeiro como Reinaldo Rueda, atual campeão da Libertadores com o Atlético Nacional. Ou mesmo efetivar novamente Jayme de Almeida na esperança de repetir 2013 na Copa do Brasil.

De qualquer forma, a trajetória de Zé Ricardo não tinha mais como prosseguir. Não por pressão de torcida ou apenas pelos resultados. Mas por não entregar o básico em qualquer avaliação de um profissional: margem de evolução. Perdeu conteúdo e confiança. Sem chance de recuperação.

Porque em maio foi mais um treinador do Fla a cair no conto do estadual. Um engano que trava o clube na busca de protagonismo no cenário nacional e sul-americano.

Fonte: Blog do André Rocha | Uol

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Matheus Brum

Ver comentários

  • Discordo um pouco do André.

    Não acho que tenha sido dada uma prioridade ao estadual.Tanto que o Flamengo entrou com todos os jogadores que o Zé considerava titulares em todos os jogos da Libertadores.Caímos na competição internacional em grande parte porque o Zé não conseguiu fazer o time evoluir desde o final do ano passado e também por causa das tais convicções dele.

  • Jaime? Chora nego. Caramujo e Gabriel seguem firme e forte.

  • Muito boa a análise. Rapaz, falo isso há tempos.... Não entendo porque o Gigante Flamengo dá importância para essa bosta de torneio pequeno em plena época de Libertadores. Olha a porcaria do "bostachoro", abriu mão do carioca e está a um passo de ficar entre os 8 melhores da América! É mais título que o Carioquinha gente!!! Verdade seja dita. SRN!

  • André, quando você fala que "o Flamengo" prioriza estadual, a quem exatamente está se referindo? Basta parar para analisar um pouco, o Flamengo enquanto instituição, não prioriza estadual, essa impressão se passa justamente pelo contrário, o que existe é a cultura do "tem que ganhar tudo" e quando você quer ganhar tudo e não prioriza competições a chance maior é de se ter êxito na competição de nível mais baixo, nesse caso o estadual. Basta observar que o Flamengo não poupou jogadores na Libertadores nem no estadual, ganhou o estadual e caiu na libertadores.

    Mas essa discussão é muito mais ampla e a imprensa tem papel importante nisso. É fato que o Flamengo atrai a atenção da mídia em geral porque vende mais notícias, mas vamos nos atentar pra uma coisa:

    Todo fim de temporada é a mesma coisa, começa àquela velha conversa nos programas esportivos de que "os estaduais têm que acabar", "os clubes precisam priorizar competições maiores" e etc... Já vi muitos comentaristas que defendem essa ideia, porém os próprios comentaristas que apoiam o fim dos estaduais. são os primeiros a criticar quando o time perde um jogo no estadual. Vide este ano, o Flamengo estava em um grupo difícil na Libertadores, mas vinha bem, foi perder a decisão da taça Guanabara para o Fluminense nos pênaltis, veio uma chuva de críticas e questionamentos, porque era um "absurdo" o Flamengo com o elenco que tem não vencer o turno do carioca contra o Fluminense.
    Essa pressão de ter obrigação de ganhar tudo começa na imprensa, com esse tipo de comentário oportunista, a torcida compra essa ilusão de que "com o elenco que temos" e aí o clima no clube vira uma "panela de pressão".
    Nós torcedores temos que ser mais imparciais e saber que a imprensa quer vender notícias e nesse meio existem pessoas sérias, mas existem também os oportunistas, que se aproveitam de uma situação ruim para falar o que o torcedor "quer ouvir", então precisamos saber separar as coisas. Temos um elenco qualificado sim, mas a pressão por resultados só atrapalha.

    SRN

  • Texto inteligente e irretocável. Faz tempo que não valorizo o carioca, mas não tinha ainda percebido que é uma tendência do nosso Clube, independente das Diretorias. A retrospectiva histórica comprova a tese do autor. Penso que analisando outros anos é possível que se traga mais provas dessa tendência.

  • Zé Ricardo se nivelou por baixo, lembro dele dizendo que o Carioca era importante pra carreira dele, quando na verdade Joel Santana tem uns 20 titulos desses e esse ano treinou o Boa vista.
    Aprendeu da pior forma o que é o Flamengo, e que jogadores, seja ele Messi ou CR7 NUNCA terá a capacidade de segurar ele em clube nenhum, pecou pela panela, pecou pela mediocridade, depois que sai do Flamengo qualquer carreira vai pra lama, acompanhemos ele treinar times como Volta Redonda.

  • Texto raso. Flamengo já "priorizou" o Carioca quando era bonito e rentável. Hoje não mais. O estadual foi muitíssimo importante para o Zé. Claro, óbvio, foi o primeiro título dele como treinador de clube principal. Para o Joel ter 20 títulos, um dia conquistou o primeiro. Tenho absoluta certeza que comemorou muito.
    O Zé caiu por não ter condições de conduzir a equipe para um patamar mais elevado. O Flamengo tem sim de buscar o título em qualquer competição que esteja atuando.

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