Foi ali, com os joelhos no concreto e os olhos vidrados numa bola que o tempo parou pela primeira vez na minha vida. Ela viajou por uma eternidade, passando até hoje em frente aos meus olhos. Foi a primeira vez que senti a eternidade de perto, até que aqueles segundos infinitos terminassem em uma explosão sem igual.
Sem qualquer exagero, o rival do outro lado tinha um dos melhores times do mundo à época. Nós, aos remendos, com problemas internos, externos e com nossos principais astros se detestando no vestiário e fora de campo. A vantagem toda deles, assim como a vontade que tinham em não permitir mais um vice.
Tínhamos a camisa, a torcida, um Velho Lobo no comando e tínhamos alguns nomes, é verdade. Não tínhamos exatamente um time, mas era Flamengo. Tínhamos a raça e a raiva, a motivação dada por declarações de um gângster do futebol que garantiu o chopp e cantou a vitória antes do tempo. Tínhamos brio mesmo sem salário e tínhamos raça, mesmo sem ter muito compromisso.
Nos interessando apenas a vitória, o rival atacava, parando em uma das atuações históricas do maior goleiro que vi vestir nosso Manto. Julio Cesar foi herói, foi milagreiro, foi gigante. Beto deu fluidez a um meio de campo, guerreando e saindo, querendo mais. Edilson, com seu gol de pênalti e voando sozinho para fazer o segundo em centro perfeito de seu desafeto, foi indomável.
Atormentados pelo travessão e pelo filho do vento, o 2 a 1 não bastava, o tempo parecia voar como cada pique do Euller. Leandro Ávila e Juan sofriam com um cara que tinha asas nos pés, mas bastava Julio Cesar.
Em uma falta muito distante, em um dia não tão inspirado e, como a gente costuma dizer, na bacia das almas, Pet toma pra si uma cobrança que não lhe caberia dentro das condições normais de um jogo. Poderia parar por aqui e dizer que o resto foi feito pela camisa 10 em vermelho e preto, mas foi Pet.
Foi ele, naquele 27 de maio de 2001, fez o tempo parar enquanto a bola viaja para o único lugar em que seria indefensável. Naquele instante eterno, o Maior do Mundo viveu um século. Ali, naquela arquibancada, vimos a história ser feita. Enquanto a bola viajava pelo infinito, as mãos aflitas se agitavam, ou rezavam, como Alessandro no banco de reservas.
E assim, quando o tempo parou de parar, a Nação explodiu em festa e o Maracanã se tornou palco do nosso espetáculo mais uma vez.
Eu era um garoto de 13 anos e ali foi o palco do meu primeiro porre de felicidade.
Thigu Soares
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Foi o GOLAÇO de falta de PET, não foi??? Petkovick um ídolo eterno. Isso é flamengo, isso é saudade gostosa...
Exato.
O gol ficou conhecido como “O Milagre de Petkovic”.
Fiz a sugestão da postagem mais cedo.
O meu foi em 1968. Flamengo x Vasco, Maracanã lotado, eu e meu pai espremidos na arquibancada. Falta a favor do Flamengo, e o zagueiro Onça vai bater. Com categoria, lança a bola por cima da barreira, e ela entra mansa, no ângulo direito. Eu lembro do grito da torcida, olhei pro lado e vi aquela massa de gente, como se uma mão invisível estivesse sacudindo o Maracanã. Senti um arrepio...e uma alegria que nunca havia sentido...sem saber como e nem porque, de uma forma absolutamente irresistível, comecei a pular, junto com meu pai, o mais rubronegro dos rubronegros que conheci. Mais até do que eu. Ali, o Flamengo ganhava mais um torcedor...
Incrível, Fernandel! Incrível! SRN!
Meu querido Thigu, foi a sua bela matéria que fez surgir essa lembrança antiga. Foi uma emoção tão forte e tão verdadeira que dura até hoje...eu tbm tinha 13 anos, quando aconteceu.
Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer!
SRN
eu não ouso comentar aquele instante do gol de Dom Pet,
pois não tem explicação, não tem palavras ,
só deu pra sentir... tudo!
Boa!