Dirigente completa um ano na função e concedeu entrevista ao Coluna do Flamengo. Na conversa que rendeu 30 minutos, ele deu detalhes da saída de Rueda, falou sobre critérios para contratação e contou os bastidores da demissão de Barbieri.
Por: Venê Casagrande
Colaboração: Carla Araújo e Higor Neves
No dia 6 de outubro de 2017, há exatamente um ano, o Flamengo anunciou Ricardo Lomba como novo vice-presidente de futebol. O cargo estava acumulado pelo presidente Eduardo Bandeira de Mello, desde a saída de Flávio Godinho. Desconhecido no meio da bola, Lomba, entretanto, conhece como poucos a Gávea. Antes de ser convidado para assumir a pasta, ele era o vice-presidente do Conselho Deliberativo.
Como já era de se esperar, Ricardo Lomba não encontrou vida fácil como vice. O primeiro desafio foi ao término da temporada de 2017: Reinaldo Rueda, iniciou negociação para assumir o comando da seleção chilena, e só foi decretar a saída no dia 8 de janeiro. Com isso, o planejamento precisou ser alterado. Carpegiani, que viria para ser coordenador técnico, foi realocado e se tornou treinador da equipe.
Porém, o momento mais emblemático foi quando Lomba deu entrevista após a eliminação do time para o Botafogo, no Carioca. Ele pediu desculpas à torcida e cobrou, de forma dura, mudanças no futebol. Carpegiani e Rodrigo Caetano, diretor de futebol, saíram do clube.
Desde então, Lomba teve que lidar com a dificuldade de encontrar peças à altura para os cargos disponíveis. Para diretor de futebol, o vice, em decisão conjunta com os demais dirigentes, optaram por promover Carlos Noval, então coordenador técnico da base. Já para treinador, sem boas opções no mercado, Mauricio Barbieri ficou de forma interina e fez um bom trabalho no fim do primeiro semestre, sendo efetivado posteriormente.
Após a pausa para a Copa, o rendimento da equipe caiu. As eliminações na Copa do Brasil e na Libertadores tiveram consequências: Cobrança interna e externa, com a ida de torcedores ao aeroporto para hostilizar a delegação rubro-negra. Com isso, a diretoria não viu outro caminho a não ser a demissão de Barbieri, decisão tomada horas depois da derrota para o Corinthians, na semifinal da Copa do Brasil.
Para fazer um balanço desse conturbado período como vice de futebol, Ricardo Lomba, candidato à presidência do Flamengo pela situação, recebeu a reportagem do Coluna do Flamengo, em uma das varandas da Gávea, e abriu o jogo. Ele contou como foi a saída de Rueda, falou sobre a relação com Rodrigo Caetano, lamentou a falta de título durante esse período e revelou o porquê de Barbieri não ter sido demitido antes da semifinal da Copa do Brasil. Outros assuntos, como a provável saída de Lucas Paquetá e a não contratação de laterais na janela de transferência, também foram pauta da conversa.
CONFIRA ABAIXO A ENTREVISTA COMPLETA COM RICARDO LOMBA:
Pessoalmente, como você avalia esse período na pasta de vice-presidente de futebol do Flamengo?
– Acho que foi um ano de muito aprendizado. Uma satisfação enorme de poder estar colaborando com o Flamengo. Um ano de muito aprendizado, não tenha dúvida. Você conhecer as pessoas, os processos, ou ausências deles no meio do futebol. Isso tudo traz uma bagagem interessante. A palavra principal é essa: aprendizado. Também um pouco de insatisfação com a ausência de conquistas, que, por várias razões, não vieram. Nenhum torcedor rubro-negro, assim como eu, está satisfeito, mas aconteceu avanço e vamos continuar trabalhando para tentar desenvolver o máximo ali dentro, para conseguir resultados melhores nesse fim de ano.
Você sempre teve autonomia para tomar decisões no futebol do Flamengo?
– Quando eu assumi, algumas pessoas perguntaram isso. Faziam uma associação com a presença do presidente no futebol e me questionaram se eu teria autonomia para poder trabalhar. Eu respondia que se eu não tivesse autonomia, eu não ficaria. Ao longo desse período todo, não posso falar em nenhum momento que não tive autonomia. Agora, pela experiência e maturidade, você vai evoluindo. Não podemos esquecer que o clube possui um regime presidencialista. O presidente tem a sua participação e a sua voz. A minha opinião é sempre respeitada e ouvida. Acho que nós, no futebol, temos muita autonomia para decidir os rumos que vamos tomar.
Durante esse período como vice-presidente, qual foi o maior acerto?
– Eu acho que a gente acertou em estabelecer metodologia em processos internos, como contratação de jogadores. Claro que não estamos em um estágio ideal, mas estamos evoluindo. Houve um momento que foi duro, mas uma coisa precisava ser feita, que foi naquele episódio que desgastou bastante, na situação com o Botafogo (Lomba, após a eliminação, deu fortes declarações pedindo mudanças no departamento de futebol). Ali demos uma guinada. Fizemos uma primeira parte do Brasileiro muito boa, ficando na liderança por várias rodadas. Então, acho que são dois pontos que podemos ressaltar como os mais positivos.
E se pudesse voltar atrás, o que você não faria?
– Eu acho que temos sempre que reavaliar tudo o que estamos falando. Eu não lembro de nenhum ponto que me arrependa. Eu não me arrependo de nada. Claro que alguns movimentos não deram certo como a gente esperava. Até com relação a elenco e resultado. Mas não me arrependo de nenhum episódio específico.
Sobre a saída do Rueda. Ele disse que foi de forma amigável. Você também analisa dessa maneira? E quando o Flamengo soube que Reinaldo Rueda sairia do Flamengo?
– Durante todo o período em que Rueda esteve de férias, ele manteve o discurso que continuaria no Flamengo, mesmo com todos os boatos de que iria para a seleção chilena, ele manteve o discurso de que ficaria. Rodrigo Caetano falava com ele diariamente, e ele dizia que ficaria no Flamengo. Quando ele se apresentou aqui, falou que gostaria de sair. Não aconteceu nenhum tipo de briga, o que aconteceu é que o contrato foi cumprido. Ou seja, aquele que deu causa ao distrato que arcasse com a despesa. E foi o que ele fez. Ele pagou a multa e rescindiu o contrato.
Rueda pediu para sair do Flamengo menos de seis meses após sua chegada ao clube (Foto: Gilvan de Souza/Flamengo)
Com a saída de Rueda, Carpegiani foi contratado para ser o treinador. Hoje você considera como um erro essa decisão, já que ele viria para o Flamengo para ser coordenador técnico?
– De fato, a gente imaginava que ele viesse para ser coordenador, mas, pelas circunstâncias, ele acabou se tornando o treinador. Mas não deu certo. A gente não conseguiu ter um desempenho interessante dos jogadores. Você precisa tomar uma provicência. Como diz no futebol: ‘Não dá para se desfazer do elenco’. Então a gente mudou o treinador para haver aquela retomada. Eu acho que, naquele momento, tivemos uma decisão correta, já que tivemos uma melhoria. Isso é passado. Ele chegou e cumpriu o papel dele.
E quem decidiu botar Carpegiani como treinador?
– É covardia querer atribuir a responsabilidade apenas a uma pessoa. Foi o departamento de futebol. Comum acordo.
Após a eliminação no Carioca, você deu uma entrevista pedindo mudanças, e elas aconteceram. Você se considera o “culpado”?
– Não me considero o culpado. Eu sempre quero ser responsabilizado em agir em prol do Flamengo. Eu jamais pecarei por omissão. Naquele momento, alguns movimentos já estavam sendo analisados. Foi uma questão de “time”. Não foi nada planejado.
Como ficou a sua relação com Rodrigo Caetano?
– Rodrigo é uma figura que gosto demais. Considero o Rodrigo um amigo. Encontrei com ele no Sul, mas tenho certeza que ele ficou chateado com o que aconteceu. Mas, tenho um carinho enorme por ele. Espero que não abale a nossa relação.
E o presidente Eduardo Bandeira de Mello desaprovou a sua atitude na frente das câmeras?
– Se eu permaneci no cargo é porque nada mudou. A conclusão que se chega é que ele apoiou as minhas declarações.
Sem Carpegiani, Barbieri ficou como interino, fez um bom trabalho e foi efetivado. Você foi a favor da efetivação ou queria um treinador mais experiente?
– Fui a favor da efetivação dele. Barbieri, quando veio para fazer parte da comissão técnica, foi por méritos. Ele é um excelente profissional. Eu só tenho elogios a Barbieri. A relação que eu tive com ele sempre foi de honestidade. O problema é que quando você chega na situação que o treinador não consegue mais retirar o melhor do atleta, você precisa dar uma sacudida naquele ambiente. Eu falei isso quando fui me despedir dele. Enquanto eu tiver a certeza que estou agindo levando em consideração que o Flamengo é maior que todo mundo, eu ficarei tranquilo. Espero encontrar o Barbieri futuramente.
O Flamengo fez contratações na janela de transferência e não reforçou o setor defensivo. O Flamengo se arrepende de não ter trazido mais jogadores? Laterais, por exemplo.
– O que acontece: o Flamengo tinha um montante de dinheiro para investir em jogadores. Conversamos com o treinador e, diante do que tínhamos nas mãos, e da posição tática, ele citou as necessidades, discriminando as carências. Então, nós fomos ao mercados, discutimos com o treinador com o que mais se adequava e fomos até onde podíamos no ponto de vista financeiro. Se a gente pudesse contratar 11 jogadores, a gente contrataria. Mas eu acho que o elenco do Flamengo seguramente está entre os três melhores do país. Precisamos de lateral? Se a gente for comparar com a seleção brasileira, sim. Comparando com os demais times, eu não sei se os nossos laterais são os piores. Poderíamos melhorar? Poderíamos melhorar tudo. Mas tínhamos um montante a ser gasto e responsabilidade com o dinheiro do Flamengo. Nesse cenário, as laterais não foram contempladas.
Então foi prioridade?
– Sim. Atendermos às prioridades estabelecidas pelo treinador (Mauricio Barbieri).
Por que Paolo Guerrero não ficou no Flamengo?
– Guerrero é um excelente jogador, mas teve um problema de doping, que prejudicou muito o Flamengo. E, quando tivemos a possibilidade de contar com o atleta, eles (representantes do jogador) fizeram uma proposta, nós fizemos uma contraproposta. Ele não aceitou e preferiu sair do Flamengo.
Você acha que, no fim do contrato, Guerrero fez “corpo mole” para não completar os sete jogos no Campeonato Brasileiro?
– Isso é um aspecto subjetivo. Agora não vale fazer esse tipo de avaliação. Ele não renovou e seguiu carreira.
Depois da Copa do Mundo, o Flamengo caiu muito de rendimento e não conseguiu manter o mesmo nível que havia apresentado antes da parada. O que aconteceu, na sua avaliação?
– Eu acho que isso é igual a queda de avião: uma série de problemas pequenos que, quando não ajustados, se tornam uma bola de neve e causam uma tragédia. Temos que considerar que, depois da Copa, perdemos jogadores importantes e tivemos uma sequência alucinante em agosto. Jogamos nove partidas em um mês. Isso é uma estupidez física que se põe ao elenco. Alguns jogadores caíram de produção, talvez até de cansaço. Talvez o nosso estilo de jogo tenha sido muito bem estudado pelos adversários. Uma série de fatores. Fomos eliminados na Libertadores e depois na Copa do Brasil. Esse, sim, foi um golpe muito duro. Isso ainda está entalado na garganta até hoje. A gente estava muito confiante que estaríamos na final. Mas, ainda estamos vivíssimos no Brasileirão.
Aos poucos, a demissão de Barbieri foi entrando em pauta. Por que a troca de comando não aconteceu depois do empate contra o Vasco, no dia 15 de setembro?
– Se eu fosse me pautar apenas pela pressão da torcida, bastava a torcida tomar os rumos do futebol. Se a gente for analisar, a torcida reclamou demais quando perdemos para o Atlético-PR, para o Ceará, que foi um absurdo, e depois (empate) contra o Vasco. Reparamos que uma série de resultados negativos estavam acontecendo e avaliamos que não poderia mais acontecer. Depois disso, a gente não consegue enxergar outro caminho. Ele poderia ter sido demitido antes, só que a gente não tem bola de cristal para chegar nesse nível. Se eu pudesse voltar atrás, eu teria demitido antes? Talvez. Mas agora é fácil falar.
Bateu o arrependimento?
– Não é arrependimento, porque agora que eu vi que o insucesso veio. Mas eu não estava convicto que aquilo ali era um sinal de ladeira abaixo. E depois contra o Vasco, ele teria uma semana cheia para trabalhar e nada evoluiu.
Na reunião depois do empate com o Vasco, vocês deixaram claro ao Barbieri que seria a última chance para ele?
– Eu nunca tive essa conversa com ele. Ele sabia que a gente não estava satisfeito, ele não estava satisfeito e os jogadores também não estavam satisfeitos, que fique bem claro. Eu acho que já era de se supor, para ele, que a coisa não estava ficando bem, mas eu nunca tive essa conversa com ele.
O presidente Eduardo Bandeira de Mello é uma pessoa pragmática e não é a favor da troca de treinadores. Como você fez para convencê-lo?
– Acho que essa pergunta se conecta com respeito à autonomia. Chega um momento que você precisa ir à frente com a sua ideia, expondo as razões e sempre tentando mostrar que é o melhor para o Flamengo. E foi o que aconteceu. A gente conversou com ele. Não só eu, mas os demais dirigentes. Explicamos que seria o melhor.
Em que momento ficou decidido que Barbieri seria demitido?
– Logo após a eliminação na Copa do Brasil. Foi algo que abalou. Você vai para o hotel tentar dormir, mas não consegue. Durante o dia, nos reunimos e conversamos. O clima horroroso. Literalmente, clima de derrota. Não conversamos (com Barbieri) no vestiário.
(Mauricio Barbieri treinou a equipe no dia seguinte já sabendo que seria demitido)
Quem foi o responsável por demitir Mauricio Barbieri?
– Carlos Noval, diretor de futebol do Flamengo. Foi em uma madrugada em que eles se encontraram e conversaram. No dia seguinte falei com ele no café da manhã. Ele é um cara muito educado. É triste demais. Não é uma situação fácil demitir um treinador que você confia e acredita. Foi duro. Não foi fácil.
Teve algum jogador pedindo para Barbieri permanecer?
– Não. Não teve nada disso.
Com a demissão de Barbieri, quais nomes vocês pensaram? Abel Braga estava em pauta?
– Pensamos em nomes disponíveis no mercado. Abel Braga é um nome que sempre agradou, mas ele é um cara que tem as suas convicções. Olhamos os nomes, e pensamos naqueles que poderiam se encaixar no nosso perfil. Vamos ver até que pontos podemos reverter o quadro para conseguir o título Brasileiro.
Por que Dorival Júnior?
– Ele tem duas características que se aproximam muito com as do Flamengo. Ele é um técnico acostumado com jogadores jovens. Teve experiência nessa ordem. É um técnico que gosta de jogar com a posse de bola. É um treinador mais enérgico e que pode dar uma sacudida boa nesse elenco.
Ano passado, o Flamengo chegou às finais da Copa do Brasil e Sul-Americana, além de conquistar o Carioca. Em 2018, o cenário é diferente. Vocês não se cobram por isso?
– Eu acho muito ruim. No Carioca, aconteceu aquilo. Foi horrível. Essa sequência de jogos na Libertadores, na Copa do Brasil e no Brasileiro nos trouxe eliminações. Na Copa do Brasil, regredimos mesmo, de fato. Esse ano vai ser difícil engolir essa eliminação. A expectativa é conseguir esse título Brasileiro. Acho que a torcida merece muito esse título. Acho que a torcida merecia um final de ano melhor. Vamos ver se isso acontece de fato.
Você, como vice de futebol, já prepara a barca de jogadores que vão sair do Flamengo?
– Ano passado perguntaram a mesma coisa, mas não sou fã desse termo. As reuniões já começaram, as análises para a montagem de elenco já começaram, já tivemos reuniões, mas ainda não tivemos nenhuma definição nesse cenário.
Lucas Paquetá é um jogador que começa a despertar interesse de clubes do exterior. O Flamengo já trabalha com a saída dele?
– A gente trabalha com essa expectativa porque a gente sabe dessa possibilidade. Não há uma proposta concreta, mas é um jogador que desperta essa preocupação. Até a parada para a Copa, principalmente, ele estava destruindo. Se algum clube vier para contratar, a gente não vai poder fazer nada. Temos esses receios, mas já estamos no mercado em busca de reposição e já temos alvos possíveis para uma eventual saída dele.
Qual é o valor mínimo que o Flamengo estabelece para vender Paquetá?
– A multa dele é de 50 milhões de euros. Menos que isso, vamos negociar e analisar.
O Flamengo já iniciou a reestruturação do Centro de Inteligência. Essas mudanças são porque vocês acreditam que tiveram falhas nas contratações?
– Pegar um culpado seria muito cruel. Temos que avaliar o todo. O todo não foi bom como deveria ser. O CIM (Centro de Inteligência e Mercado) faz parte do todo e será reestruturado, mas não por conta de resultados no futebol, mas porque o Flamengo busca sempre evoluir. Temos que fazer análises de jogadores e estamos incorporando o CIM. Temos uma consultoria internacional para nos ajudar e trazer resultados melhores.
*Conforme publicado pelo Coluna do Flamengo, nesta semana, o Flamengo contratou o scouter Sandro Orlandelli, que presta serviço ao Manchester United, da Inglaterra. O profissional trabalha como consultor para o Rubro-Negro
um Centro de inteligência que mapeia o mercado e divulga praticamente todas as negociações antecipadamente, todos os outros clubes tem a possibilidade de usar nosso centro de inteligência
Agora é facil falar .está falando isto por ser ano de politica e quer ganhar votinhos
Excelente entrevista, Venê e equipe!!! Infelizmente, algumas respostas do personagem não foram bem aquelas que esperávamos rs Mas a peça jornalística é fantástica
E precisa de bola de cristal pra ver que o estagiário não tinha condições de comandar o time do Flamengo?
Ainda bem que não vai conseguir se eleger, senão seriam mais três anos de fracassos.
Prá nós torcedores que tivemos: Toninho Baiano, Leandro, Jorginho, Nei Dias, Zé Maria, Léo Moura (arrebentando no Grêmio), ter hoje Rodnei e Pará, é um desrespeito às tradições de excelentes laterais no Mais Querido.
Saudações Rubro Negras!