FOTO: GILVAN DE SOUZA/FLAMENGO
Por: Carla Araújo
O fim do Campeonato Brasileiro significa também o início das férias para a maioria dos jogadores de futebol. Segundo a Lei nº 9.615/1998, é garantido um período de 30 dias, que deve ocorrer junto ao recesso das atividades desportivas. No caso dos que atuam pelo Flamengo, começou no último domingo (02). Com o fim da temporada 2018, o foco agora se volta para 2019. Pensando em um melhor condicionamento dos atletas, o Fla faz, desde 2017, um planejamento de férias. Com bom resultado este ano, Dr. Márcio Tannure, chefe do departamento médico do clube, explica um pouco mais sobre o trabalho.
— É feito quando a gente vai planejando a pré-temporada. O nome é “férias”, então, teoricamente, é pra eles descansarem, ficarem com suas famílias, é o momento de cada um. Não é uma obrigatoriedade. O que a gente faz é uma orientação pra que eles sigam. Esse ano, quando eles se reapresentaram, foi uma surpresa positiva pra gente, porque chegaram melhor do que o esperado. Todos eles recebem uma cartilha com uma sugestão de atividades físicas. Isso faz parte da preparação para que a gente possa aumentar a carga na pré-temporada.
Ainda segundo Dr. Tannure, o planejamento das férias é individualizado. Isso porque, alguns atletas podem estar vindo de alguma lesão ou tenham tendência maior a ganho de peso. Dessa forma, cada trabalho é feito de forma diferente, acompanhado pela área específica. Ele explica que as orientações são gerais, mas, que cada um tem seu programa personalizado. Em entrevista ao Coluna do Flamengo, o médico do Rubro-Negro falou de todo o processo e sobre como será com a ida para a Florida Cup. Confira abaixo a entrevista completa.
Áreas envolvidas no planejamento
Todas são envolvidas, nosso trabalho é interdisciplinar. Como é individualizado, cada um tem sua demanda. Tem atletas com exigência maior na parte física. Vão ter os lesionados, em que a participação do médico e do fisioterapeuta vai ser importante. Tem aqueles com tendência maior a ganho de peso, então o nutricionista vai ser essencial. A gente discute diariamente sobre todos os atletas. Temos reuniões com as áreas sempre antes e após os treinos. Isso é só uma extensão, sentamos juntos para elaborar o conceito geral para todos eles. Em função da demanda de cada um, criamos sua planilha individualizada.
Acompanhamento durante as férias
Hoje, a gente tem esse canal aberto. Não é uma coisa obrigatória. Mas, o que é muito interessante é que muitos deles buscam isso da gente, eles que nos procuram, pedindo uma orientação. Por exemplo, enviam vídeos do que têm feito, isso aconteceu muito ano passado. Isso deixa a gente feliz. Mostra que todo esse processo que temos feito no Flamengo, nos últimos anos, tem dado resultado de alguma maneira.
Receptividade dos atletas ao planejamento
Existe uma diferença grande entre jogador e atleta. Normalmente, digo que jogadores todos são, atletas alguns. A gente vem, de um tempo pra cá, nesse processo de educação continuada, tentando buscar atletas de excelência. E isso tem acontecido. São férias, então, eles vão sair da rotina, e é para isso mesmo. O que não queremos é que seja algo exagerado, que traga algum maleficio na pré-temporada. Do ano passado pra esse, tivemos um resultado superpositivo. Eles voltaram melhores do que a gente esperava, sabendo que não da mesma maneira como terminaram. Mas, não teve nenhum excesso que tenha saído da curva.
Casos de jogadores com lesão
Dependendo do tipo de lesão, o jogador tem até que ficar aqui (no Ninho do Urubu) tratando. Quando acontece de ter uma lesão, no caso do Réver ano passado, ele volta antes e trata aqui com os nossos fisioterapeutas. Tem esse acompanhamento o tempo todo. É o que vai acontecer com o Juan também. Vamos ver como ele estará até lá.
Casos de jogadores que chegam no meio do ano
A gente espera que a pré-temporada seja o momento para igualar um pouco, em termos de treinamento, todos eles. Mas, é óbvio que é um desafio. Para alguns, o meio do ano seria início de temporada. Além disso, no futebol brasileiro, o número de jogos, viagens e intensidade é diferente. Jogadores como o Uribe, por exemplo, que são estrangeiros, têm ainda outras questões: adaptação familiar, clima, etc. Tem toda uma adaptação: físico, técnico, tático, mental e emocional. Quem vem de fora, perdemos essa janela de oportunidades de estar junto na pré-temporada. A gente não consegue fazer a periodização. Dentro do possível, tentamos coloca-los da melhor forma. Mas, eles vêm de calendários diferentes, então, o impossível a gente não consegue fazer.
Casos de jogadores que vêm da base
A gente sabe quais são os jogadores do juniores que já estão no último ano e que ano que vem, pela idade, viram profissionais obrigatoriamente. Temos outros que a comissão conversa e acha que seria válida essa aproximação, enxergar mais próximo, uma carência em alguma posição, por exemplo. Então, tudo isso é discutido antes, sabendo que existem situações pontuais. Mas, normalmente, sabemos antes quem vem da base para participar dessa pré-temporada. Quando fazemos esse planejamento, já temos os nomes, até para termos ideia do número de atletas que estarão participando. Isso tem que ser sabido, porque envolve número de quartos, passagens, então, nem poderia ser algo em cima da hora.
Pré-temporada com a Florida Cup
Não posso afirmar exatamente como será, só vivendo lá, porque vai ser uma coisa nova pra gente também. Mas, o planejamento é o mesmo. Vamos começar aqui fazendo as avaliações físicas, fisiológicas, como sempre fizemos. Óbvio que tem o deslocamento, que interfere. Mas, uma vez que você está instalado lá, não muda muito do que seria aqui. Tentamos fazer a rotina bem parecida da que temos aqui. A maior diferença mesmo seria a questão da viagem, uma de ida e uma de volta, que estando aqui não teríamos. Mas, talvez tivessem amistosos, por exemplo, e poderia perder esse tempo também em traslado.
Exames feitos na reapresentação
A gente tem uma agenda na pré-temporada, em que fazemos avaliações clínica, cardiológica, oftalmológica, exame dentário e avaliação ortopédica, além dos exames clínicos de sangue e laboratoriais. Passado isso, são feitas as avaliações físicas e fisiológicas, em que testamos força, potência, resistência e velocidade dos atletas, para sabermos em que nível estão. A gente sabe o nível que eles pararam no ano anterior e o que esperamos. Montamos a carga de trabalho individual de cada um a partir daí.