Fernando diz que ter sido autor do gol do título da Copa do Brasil de 1990 foi um ‘divisor de águas’ na carreira
Por: Marcos Vinicius Cabral
Vivendo dias agitados pela demissão de Vítor Pereira e à procura por um ‘novo’ técnico, o Flamengo começa a disputar a Copa do Brasil nesta quinta-feira (13), às 20h (horário de Brasília), no Estádio Willie Davids. Diante do Maringá-PR, os olhos dos torcedores rubro-negros estarão voltados para a TV na estreia da competição. Um deles, vive na pacata cidade de Santos e vai torcer pela vitória do time comandado pelo interino Mário Jorge: trata-se do ex-zagueiro Fernando, autor do gol heroico no primeiro título do torneio, em 1990.
— O Flamengo entrou na minha vida em 1989. Quando aconteceu, não pensei duas vezes e mesmo tendo atuado pelo Vasco, em nenhum momento percebi se agradaria torcedores rubro-negros ou despertaria a ira dos cruzmaltinos (risos). Trabalhei duro e construí uma história difícil de ser apagada em São Januário, sei disso, mas precisava jogar no Flamengo. E foi o que fiz. Fomos campeões invictos da primeira Copa do Brasil, em 1990, acabei fazendo o gol do título no primeiro jogo contra o Goiás, em Juiz de Fora, já que o Maracanã estava em reforma. No jogo decisivo, não pude estar em campo porque havia sido expulso antes. No entanto, viajei com a delegação e comemoramos muito a conquista. Sou feliz por isso – contou Fernando, de 61 anos, com exclusividade ao Coluna do Fla.
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Felicidade que não se resume apenas à inédita e primeira conquista da Copa do Brasil de 1990. Para o ex-camisa 6 da Gávea, que formou dupla de zaga com Vitor Hugo no torneio nacional, tão difícil como jogar em um clube da grandeza do Flamengo foi conquistar o carinho e o respeito do torcedor rubro-negro. O segredo, segundo Fernando, é o trabalho.
— Lembro que a minha chegada coincidiu com a transferência do Bebeto para o Vasco. Mesmo vindo de Portugal e com uma certa bagagem com a conquistas de alguns títulos, nunca quis me promover ou brincar com o sentimento do torcedor. Sei o que é essa paixão que muitos deles nutrem por nós, jogadores. Por onde passei, me dediquei, busquei com a seriedade do trabalho, o espaço para estar entre os 11 titulares. Graças a Deus, consegui – confessou e disse que, à época, os salários atrasados nunca foram empecilho para que ele e os companheiros deixassem de trabalhar.
E foi o trabalho que fez Fernando ser considerado um dos melhores zagueiros na segunda metade da década de 1980 no Brasil. Bicampeão pelo Vasco e com pretensão de disputar a Copa do Mundo de 1990, na Itália, o ‘Xerifão’ do time comandado por Roberto Dinamite e pelo jovem Romário, foi se aventurar no Louletano (POR). Porém, uma contusão no reto femoral da perna esquerda, ‘sepultou’ o sonho de poder vestir a ‘Amarelinha’. Quis o destino que o defensor viesse para escrever o nome na história no Clube de Regatas do Flamengo.
— Sou minha história, isso me faz e fez ser respeitado. O meu amor e carinho por todas equipes em que joguei, ainda que isso não me torne ídolo de A, B ou C, não me deixa triste. Muito pelo contrário, desde o começo no futebol, aos 18 anos, na Portuguesa Santista, passando pelo Santos, Vasco da Gama, Louletano, Atlético-MG, Guarani, Portuguesa Desportos, até encerrar no clube que me projetou, não faltou nada – contou emocionado.
Sobre o trabalho desempenhado por Vítor Pereira no comando do Flamengo nesses quase quatro meses, o ex-jogador se diz preocupado. Isso porque, o ex-zagueiro acredita que os próximos dias nos bastidores políticos do clube e na escolha do ‘novo’ treinador serão turbulentos. Mesmo tendo nomes como dos ‘Jorges’ Jesus e Sampaoli, a possível volta de Dorival Júnior e o especulado Tite, ex-treinador da Seleção Brasileira na últimas duas Copas do Mundo, Fernando não acredita em facilidade no trabalho do profissional contratado. Fato que o preocupa, pela cobrança excessiva que se faz pelo mágico ano de 2019.
— O Vítor Pereira, assim como todos os técnicos que vieram pós-Jorge Jesus, vão ter um grande problema para dirigir o Flamengo. Ainda é muito vivo no coração rubro-negro, o elenco e as conquistas de 2019. Penso que se faz necessário uma reformulação para descaracterizar essa formação. Não acho que é problema de técnico e, na minha opinião, é de gestão – afirmou e disse que favoritismo não é sinônimo de conquista, referindo-se às recentes competições disputadas.
De volta ao passado, em 1995, antes de pendurar as chuteiras, conseguiu realizar outra proeza no futebol: levou a Portuguesa Santista, clube que o revelara, à primeira divisão do Campeonato Paulista daquele ano. O feito só foi possível, graças a um golaço marcado por Fernando, em uma partida emocionante na casa do adversário, contra o São José.
Diferentemente do herói da Copa do Brasil de 1990 e do Campeonato Paulista de 1995, Fernando enfrentou um marcador implacável no jogo mais difícil na vida: a depressão. Com garra e persistência, contou com a ajuda de três filhos, dois netos e do amigo de infância chamado Mauro para reverter o placar dessa partida quase perdida. A vitória veio há dois anos, quando conheceu a promotora de eventos Adriana Piva D’Antônio: “Ela foi um caminho que encontrei”, comemorou.
Vc é um ídolo sim, Fernando.
É meu ídolo. Sempre sério e profissional, honrou nossas cores. Sempre firme nas jogadas. Zagueiro difícil de ser driblado.
Bom na marcação mano a mano e pelo alto.
Ahh… e muito obrigado por ter quebrado o Márcio Nunes do Bangu, e encerrar a carreira daquele maldito que quase tirou Zico do futebol.