Sei que pode soar um pouco autocentrado, algumas pessoas até confundem com alguma tentativa de desmerecer o time que está do outro lado, mas a grande verdade é que em qualquer jogo, qualquer atividade, qualquer desafio, o seu primeiro adversário não é o outro, mas sim você mesmo. Numa disputa de pênaltis, antes de pensar em superar o goleiro adversário, você precisa conseguir mirar na direção do gol. Num jogo de videogame, antes de bater no chefão de fase, você precisa saber usar os controles. Numa entrevista de emprego, antes de ser melhor que os concorrentes, você precisa chegar ao local certo, na hora certa, usando seu melhor terno, e não sua camisa que diz “salva-gatas: Cabo Frio 2012”.
Por mais que o outro possa ser o adversário, é vencendo a sua disputa pessoal com você mesmo em busca da perfeição naquilo que você faz que você reduz as possibilidades daquele competidor de te vencer. Se você não erra passes, você reduz a chance do adversário roubar a bola. Se você chuta com precisão, você torna mais complicada a tarefa do seu rival de não tomar gols. Se você realiza a sua parte da melhor maneira possível, você torna muito menor a chance de que o seu adversário consiga realizar a parte dele com a perfeição que ele deseja. Ou seja, quanto melhor você for na luta contra você mesmo, maiores as suas chances de conseguir vencer qualquer outra pessoa.
E ontem, mais uma vez, ficou clara o quão complicada está se tornando a rivalidade entre o Flamengo e o Flamengo.
Isso porque novamente jogando contra um time que não tinha nenhuma expectativa ou projeto de jogo – Mano Menezes é um treinador movido a covardia e sorte e monta suas equipes para atuarem da mesma forma, o Flamengo decidiu derrotar a si mesmo – mesmo em forma de empate. O espaço que o jogador do Cruzeiro tinha para chutar, a falha de Thiago ao defender, a ausência completa de qualquer um para tentar impedir o gol, tudo isso foi menos mérito da vontade de vencer do Cruzeiro, que parecia já um tanto quanto conformado com a derrota, e mais sintoma de uma certa incapacidade do Flamengo 2017 de se posicionar de maneira decisiva nos momentos em que precisa decidir, quase como uma espécie de encosto esportivo, que te faz se questionar se essa equipe nesse momento precisa mais de treinamentos ou talvez de um exorcismo, algumas sessões de terapia, quem sabe.
Nada está perdido, claro. Sem o fator gol fora de casa nas finais, o Flamengo vai para Belo Horizonte da mesma maneira que começou a decisão no Rio: precisando apenas de uma vitória simples para ser campeão e indo para os pênaltis com qualquer empate. E com o retorno de Guerrero e provavelmente a titularidade de Cuellar, tende a ser um Flamengo até mais forte do que esse que vimos ontem no Maracanã, voltando a ter um homem de referência na área e ganhando mais capacidade de saída de bola.
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Mas, para trazer essa taça para o Rio de Janeiro de dentro de um Mineirão lotado, o Flamengo vai, mais do que superar o Cruzeiro na bola, o que já mostrou na partida dessa quinta-feira que é capaz de fazer, ter que vencer a si mesmo, a própria tendência ao erro, a própria capacidade de transformar partidas que poderiam ser vencidas com certa segurança em jogos complicados. Vamos precisar de um Thiago mais seguro, de um Diego mais decisivo, de um Gabriel mais distante do campo, se possível nem mesmo na região onde será disputada a partida. Mas se o Flamengo conseguir superar os próprios erros, e ser a equipe que sabemos que ele pode ser, com certeza não vai ser o Cruzeiro que vai conseguir tirar de nós essa Copa do Brasil.
Se der 0 x 0 o proximo jogo é pênaltis ou as marias levam?
Penaltis…
Da no mesmo, nossos goleiros não acertam nem os cantos… Se for penalidades desligo a TV.
Ótimo texto,incrível como esse time do Fla consegue “se perder’ em jogos grandes
Poxa e ainda parece que o Fla não consegue ganhar de time azul em finais…
Com relação a goleiros ainda não entendo o motivo de a direção ter liberado o Paulo Vitor… Mesmo não sendo um ótimo goleiro, ao menos é melhor que Thiago e MURALHA… Essa panela do EBM está atrapalhando o Flamengo.