Neste domingo, o maior ídolo do Flamengo faz aniversário: Zico, o Galinho de Quintino, completa 60 anos. Se por todos os cantos do Brasil milhares de rubro-negros preparam homenagens ao camisa 10, do outro lado do oceano a história não vai ser diferente. Na Itália, onde ele atuou pela Udinese entre 1983 e 1985, a torcida organizada “Udinese Club Arthur Zico d’Orsaria”, que leva uma faixa de 36 metros com o nome do brasileiro a todos os jogos do time, planeja mostrar ao mundo o quão grata é – e sempre será – ao craque, protagonista de momentos memoráveis com a camisa bianconera.
– Vamos fazer uma homenagem muito bonita ao nosso ídolo Zico. Será um dia muito especial. Com a colaboração da TV Udinese, faremos uma transmissão neste domingo que contará a participação do Galinho via Skype. Entre os convidados da programação, que terá passagens importantes da trajetória dele na Udinese, estão ex-jogadores do clube, amigos e associados da “Arthur Zico d’Orsaria” – afirmou Alessandro Scarbolo, fundador e presidente da torcida organizada.
Nem mesmo os gols do capitão Di Natale fazem um pequeno grupo de torcedores da Udinese (nona colocada no Campeonato Italiano 2012/13) esquecerem Zico. Quem acompanha as transmissões do Calcio pela televisão volta e meia se depara com uma enorme faixa com o nome do Galinho: trata-se de uma deferência da “Arthur Zico d’Orsaria”, fundada no dia 21 de dezembro de 1984, para cultuar a figura daquele que praticamente foi alçado à condição de “Deus” vestindo o manto alvinegro nas temporadas 1983/84 e 1984/85.
De acordo com Alessandro Scarbolo, após um jantar com o camisa 10, os fundadores do grupo decidiram usar o termo “Arthur Zico” para construir um laço eterno com o craque. Além disso, também acharam importante citar e estampar na extensa peça de tecido a cidade de Orsaria (a 17 quilômetros de Udine), onde fica a sede da “Udinese Club Arthur Zico d’Orsaria”, a primeira torcida organizada dedicada a um jogador do clube bianconero.
– Esta é a nossa admiração por ele. Mesmo falando com o Galo a cada 15 ou 20 dias por telefone ou e-mail, temos muitas saudades e esperamos que ele venha nos visitar. A última vez que ele esteve por aqui foi no dia do 25º aniversário de fundação da nossa torcida (em 2009).
Com a sensação do dever cumprido, Zico agradece a idolatria de seus fãs italianos.
– Essa manifestação é digna de respeito porque sei que não tem nenhum interesse político por trás disso tudo. Por isso, faço questão de retribuir sempre esse carinho que eles têm comigo. Foi uma época muito bonita que eles fazem questão de relembrar. Tenho certeza que esse reconhecimento e carinho existem principalmente porque fiz o que eu tinha que fazer dentro de campo – afirmou.
A relação de estima e amizade que se estabeleceu entre o camisa 10 e a “Arthur Zico d’Orsaria” trouxe ao Brasil uma grande delegação de fãs italianos para assistir a despedida de Zico, no dia 6 de fevereiro 1990, no Maracanã, palco de 333 gols do craque em 435 jogos. No amistoso entre estrelas do Flamengo e a seleção do mundo, 89.622 espectadores viram um empate de 2 a 2, mas sem gols do Galinho.
– Essa noite mágica está guardada na minha memória até hoje. Zico deu a volta olímpica escoltado por um coro emocionado e em seguida fez um discurso de agradecimento destacando as alegrias vividas em sua vitoriosa carreira. Depois da partida, nós ainda fomos encontrar com ele, sua esposa e filhos em um restaurante da Barra de Tijuca para um jantar muito especial.
Zico, o camisa 10 da Udinese
O caso de amor da torcida com o ídolo brasileiro começou um ano antes de sua fundação, quando Zico trocou o Flamengo pela Udinese por US$ 4 milhões, o maior valor pago até então na Itália por um jogador. A federação de futebol local chegou a suspender a compra do atleta por causa do alto valor, mas os moradores da pequena Udine, revoltados, ameaçaram pedir o separatismo do país. O lema era: “Ou Zico ou Áustria!”, alusão à época em que a região pertencia ao império austríaco.
A ameaça foi levada a sério pelo presidente da Itália, Sandro Pertini, que enfim autorizou a contratação. Apesar do tropeço com a seleção brasileira na Copa do Mundo de 1982, o Galinho de Quintino já havia conquistado o tricampeonato brasileiro com o Flamengo (1980, 1982 e 1983), além de ter vencido a Libertadores e o Mundial em 1981.
Zico desembarcou no aeroporto Ronchi dei Legionari, em Udine, com o status de “craque”. Uma multidão de torcedores do clube alvinegro passou a ver nele a esperança de dias melhores.
– A comoção em relação à minha chegada se deu muito em função da proibição que ocorreu por causa dos altos valores da minha transferência. E isso acabou ajudando na construção de uma relação de confiança com eles por eu ser também já um jogador consagrado, digamos assim. Eu estava chegando em um novo clube, em um novo país e sabia que tinha de fazer alguma coisa por lá. Afinal, os caras acreditavam muito em mim justamente por eu ser já um jogador famoso. Então, tinha lógico uma certa carga de responsabilidade.
– A contratação do Zico tinha como objetivo marcar o início de um grande projeto. O presidente da Udinese queria formar um time forte e capaz de levar o clube a um outro patamar para brigar por títulos. Com a chegada do Galinho, nosso time começou a obter bons resultados, conquistamos respeito e a partir daí passamos a ser temidos pelas outras equipes – completou Edinho, jogador da Udinese entre 1982 e 1987.
Dedicado a ajudar o clube, Zico entrou em campo muitas vezes machucado, sabendo da dependência que o time tinha em relação a ele. Com a camisa da Udinese, o Galinho de Quintino marcou 57 gols em 79 jogos e não deixou de reproduzir na Itália sua jogada característica: as cobranças de falta, que geraram até acirrados debates nos programas esportivos do país: “Como evitar os gols de falta de Zico?”, discutiam.
– Naquela época, no futebol italiano, criou-se o costume de bater faltas em dois toques. E quando o Zico chegou tudo mudou. Com sua qualidade característica, ele cobrava direto para o gol, criando muitas dificuldades para os goleiros adversários, que obviamente ficavam bem preocupados quando enfrentavam a nossa equipe e rezavam para não ter nenhuma próximo da área – analisou Edinho.
Sua chegada deu status e vida a uma pacata cidade.
– Independentemente do futebol, Udine tem uma população muito grata em função da minha ida para lá. A cidade passou a ser conhecida e ser notícia no mundo inteiro. Isso aí tem um valor muito grande para eles. Então, se for parar para pensar, muita gente só conhece ou ouviu falar de Udine por causa do Zico. Nem na própria Itália, o pessoal gostava muito de lá. Udine está localizada na região norte e esteve algumas vezes para se separar do próprio país – disse Zico.
Logo em sua primeira temporada, o camisa 10 liderou o modesto time a uma honrosa nona colocação no Campeonato Italiano, ficando a quatro pontos da classificação para a Liga Europa. Neste período, foi vice-artilheiro do Calcio, com 19 gols, um a menos do que Platini, da campeã Juventus. Na segunda, se desencantou com os dirigentes do clube, que haviam prometido formar uma equipe forte. Em seguida, um problema com a justiça local despertou o desejo de Zico retornar ao Brasil.
Fonte: Lancenet
O que vocês acharam Nação? Comentem sem precisar de cadastro (Nome/URL ou Anônimo)!