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O Flamengo anunciou Domènec Torrent nesta sexta-feira (31). O treinador chega ao Brasil na segunda (03) para início ao trabalho junto ao elenco. Enquanto muitos criticam a inexperiência do técnico, que comandou apenas o New York City – embora tenha passado 11 anos na comissão técnica de Pep Guardiola -, o jornalista Ricardo Gonzalez, dos canais SporTV, foi na contramão e elogiou a contratação de “Dome“, como costuma ser chamado.
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“Em 17 de julho de 2018, há mais de dois anos, já exaltávamos a capacidade do espanhol Domenec Torrent, que recém iniciara um trabalho excelente no New York. Agora que o Flamengo o anuncia como substituto de Jorge Jesus ratifica-se que o clube se mantém na trilha da excelência“, escreveu o jornalista em seu blog no site do Globo Esporte, antes de prosseguir e apontar um dos desafios que Domènec Torrent encontrará no Fla:
“No Flamengo, quais serão seus desafios? Primeiro, o de todos: administrar o vestiário. Ele precisará mostrar que o trabalho de campo é tão bom quanto o currículo, ou que se assemelha ao de seu guru Pep Guardiola. Precisa conquistar o respeito e fazer o time correr para ele como corria para Jesus. Sem isso…“, ponderou o comentarista.
Domènec Torrent obteve a melhor temporada da história do New York City, mas não ganhou títulos. Muitos criticam o fato de o treinador ser inexperiente, mas Ricardo Gonzalez não vê dessa maneira. Multicampeão como auxiliar, o técnico sabe muito bem a importância de conquistar um troféu, opinou o jornalista.
“Fala-se que ele não aprendeu o que é pressão por resultado na Major League. Ora, quem trabalhou por décadas em clubes que são obrigados a ser campeões, como Barcelona, Bayern de Munique e Manchester City, é capaz de entender rápido o que é o Flamengo. Fala-se que ele não sabe as diferenças dos campeonatos do Brasil – o que é Estadual, a importância da Libertadores… Ora, ou ele vai aprender ou fará como fez Jesus: trará e vai impor os seus conceitos“, concluiu.
Leia a coluna do jornalista na íntegra:
“Não sei se tenho tantos leitores fieis, mas quem acompanha este fórum de discussão de futebol e de construção de amizades talvez lembre que em 17 de julho de 2018, há mais de dois anos portanto, já exaltávamos a capacidade do espanhol Domenec Torrent, que recém iniciara um trabalho excelente no New York. Agora que o Flamengo o anuncia como substituto de Jorge Jesus ratifica-se que o clube se mantém na trilha da excelência. Evidentemente que pode dar tudo errado – como, de resto, ele pode ter melhores resultados do que o português, aí só a bola de cristal pode antecipar. Entendo que isso vai depender menos do comprovado conhecimento do espanhol do que da maneira como ele conduzirá a transição para o estilo de jogo que mais lhe agrada – e que é diferente do que aquele adotado pelo Flamengo hoje. E, óbvio, de como isso repercutirá no elenco que se acostumou a só ganhar.
Dizíamos lá: “(…) uma nova atração na MLS, no New York City. A franquia escolheu como substituto ninguém menos do que o espanhol Domenec Torrent, que nos últimos 11 anos foi o auxiliar-técnico do mítico Pep Guardiola (no Barça, Bayern e Manchester City). Torrent aceitou por entender que está maduro para seguir carreira solo. Não poderia escolher melhor caminho, estreando numa liga competitiva mas sem pressão, e tendo um conterrâneo como o cara do time (o astro David Villa).
O espanhol já começou a apresentar resultados. Em cinco partidas, venceu 4 e perdeu 1. Nas últimas três, claramente reorganizou o sistema defensivo e o time não levou gol nesses 270 minutos (com Vieira, o NYC tinha um estilo mais ofensivo).Com essa sequência, o time da Big Apple chegou ao G-2 da Conferência Leste, e somadas as conferências tem a segunda melhor campanha – a apenas 1 pontinho do antes inalcançável Atlanta de Gerardo Tata Martino. (…)”
Torrent daria, sim, um excelente técnico para a Seleção espanhola, não fosse catalão – o que lá é caso muito sério. E no Flamengo, quais serão seus desafios? Primeiro, o de todos: administrar o vestiário. Ele precisará mostrar que o trabalho de campo é tão bom quanto o currículo, ou que se assemelha ao de seu guru Pep Guardiola. Precisa conquistar o respeito e fazer o time correr para ele como corria para Jesus. Sem isso…
Segundo, terá de ser cirurgico na transição de estilos. O Flamengo de Jesus é brilhante e ganhou quase tudo jogando em velocidade, verticalmente, e com enorme movimentação do quarteto mais adiantado (Arrascaeta, Éverton Ribeiro, Bruno Henrique e Gabigol), para confundir a marcação e facilitar a vida de Arão, Gerson e os laterais. O jogo de Domenec Torrent é de preenchimento de espaços. Ele divide o campo e em cada fatia o time precisa ter mais jogadores do que o adversário – nem importa tanto quem sejam, ele estimula o movimento, desde que sejam em maior número – e as “fatias” não podem estar muito distantes. A partir dessas premissas, o time vai evoluindo com a bola. E sem ela, a lógica é a mesma.
Ou seja, é um jogo mais cerebral do que a intensidade atual. Evidente que pode funcionar porque a qualidade do time é enorme, e os jogadores aprenderam com Jesus a pensar o jogo e entendê-lo. Mas não se ganha essa sincronia da noite para o dia, e o Brasileiro começa em uma semana.
Fala-se que ele não aprendeu o que é pressão por resultado na Major League. Ora, quem trabalhou por décadas em clubes que são obrigados a ser campeões, como Barcelona, Bayern de Munique e Manchester City, é capaz de entender rápido o que é o Flamengo. Fala-se que ele não sabe as diferenças dos campeonatos do Brasil – o que é Estadual, a importância da Libertadores… Ora, ou ele vai aprender ou fará com fez Jesus: trará e vai impor os seus conceitos.
O que parece fundamental – e aí saímos de Flamengo e ampliamos para futebol brasileiro – é que ao final da passagem de Domenec Torrent, ele deixe legados como deixou Jesus – que se seguidos podem recolocar o Brasil no trilho do protagonismo. Acredito de coração que alguns de seus colegas brasileiros terão aprendido – mas os mais vaidosos jogarão os conceitos no lixo. Por isso torço muito pelo sucesso do espanhol, no parâmetro do que teve o português: para que o Brasil entre no roteiro de treinadores do primeiro mundo; e para que os nacionais, com humildade e por proximidade, cresçam, aprimorem-se e virem referência internacional como ainda são os nosso jogadores – jamais para apenas restringir o mercado dos nacionais.
Bien venido, pués, Domenec!”