República Paz e Amor – No dia 2 de fevereiro, Gustavo de Almeida postou, no blog Falando de Flamengo, um supertexto em que misturava os conceitos de “esforço de guerra” e “oceano azul”, citava o Papa Paulo VI, Carl Jung, Franklin Roosevelt, Complexo do Alemão, Pink Floyd, The Police e, o que mais nos interessa aqui, sincronicidade. Vale muito a pena conferir neste link.
Na verdade, a coincidência – ou sincronicidade, como preferem Gustavo, Jung e Sting – havia começado em 21 de janeiro, quando O Globo publicou um artigo do grande rubro-negro Francisco Bosco elogiando o livro Zelota, que eu acabara de ler na noite anterior e tinha gostado bastante. Logo no começo de Zelota, o autor iraniano Reza Aslan reproduz a famosa palavra de ordem dos sicários em sua revolta contra o domínio romano: “Nenhum senhor senão Deus”. Belo slogan para uma guerra de guerrilhas e perfeitamente adaptável ao que sentimos todos nós, rubro-negros, a respeito do aniversariante de hoje.
Para ampliar a sincronia, entre uma data e outra revi o ótimo documentário FlaxFlu – 40 Minutos Antes do Nada, dirigido por Renato Terra. Nele, o jornalista Roberto Assaf dá um depoimento primoroso sobre o tema, invertendo os papéis e perguntando ao diretor do filme, que o entrevistava: “Você sabia que tudo isso que tá aí – céu, terra, mar, fogo – foi ele que criou?” O entrevistador se espanta: “Quem?” E Assaf emenda de prima: “Zico.” O tricolor Renato Terra não se dá por satisfeito: “Como assim?” Mas Roberto Assaf reafirma, convicto: “Tudo isso foi ele que criou. Ele é Deus, todo-poderoso, superior a todos no céu e na terra.”
Logo depois, o acima citado Francisco Bosco encara a câmera e declara que “Zico é o maior ídolo da minha vida, e é o único homem que eu já achei bonito.” Concordo. Se bem que, nesse mesmo documentário, o Muhlenberg tá um gato.
O República Paz & Amor é uma aula de tolerância e sincretismo. Aqui tem católico, evangélico, judeu, agnóstico, todo mundo convivendo em harmonia. E quando o assunto é Flamengo, todos rezam pela mesma cartilha e seguem com zelo o ensinamento de Roberto Assaf.
Zico é essencial na vida de qualquer rubro-negro, mas ainda mais para aqueles com a mesma idade que eu e Assaf. Fomos colegas de turma por muitos anos no Colégio Padre Antônio Vieira e eram tempos difíceis, não somente por mérito de adversários como Paulo Borges e Cabralzinho, Gérson e Jairzinho, mas também pelo fogo amigo de Zélio, Berico, Néviton e afins. O salvador veio para nos redimir e levar o Flamengo ao lugar de honra que lhe está reservado desde os tais quarenta minutos antes do nada.
Três de março é dia de, humildemente vestidos e verdadeiramente abençoados, homenagear e agradecer por tanta glória alcançada.
Jorge Murtinho