Apesar de já ter sido inaugurado para a Copa das Confederações, o Maracanã para os clubes cariocas ainda é uma realidade distante. Dificuldades nas negociações entre as entidades e o Consórcio Maracanã S.A – formado por Odebrecht, IMX e AEG – emperram, por ora, uma chance de acordo.
A demora para se fechar o contrato, é em razão de a proposta inicial por parte do consórcio ter sido considerada ruim pelos clubes. Três executivos, um de cada empresa participante, têm se encontrado separadamente com diretores e presidentes de Flamengo e Fluminense. A negociação está sendo feita de acordo com a média histórica de público de cada um no estádio.
A primeira oferta prevê que os clubes não pagariam aluguel pelo uso. Porém, a carga de ingresso foi considerada baixa por ambos.
No caso do Flu, que já tem um memorando de intenções assinado, o Consórcio cedeu e aumentou o número de bilhetes e espaços de publicidade para comercialização, além de um prêmio que envolve a construção do sonhado CT. Porém, a diretoria do Flu acredita que pode conseguir camarotes para negociar.
O Flamengo segue pedida parecida, porém o clube não tem intenção de ceder. Apesar da proposta de investimento na revitalização da Gávea, incluindo a construção de uma arena, a diretoria pede mais propriedades no estádio.
O governo do estado, apesar de já ter anunciado o vencedor, ainda não marcou uma data para assinar a concessão da gestão por 35 anos com o Consórcio. No momento que isso acontecer, passa a valer o prazo de 90 dias para que o gestor apresente um contrato com pelo menos dois grandes clubes do Rio para atuarem no estádio por 35 anos.
Por meio da assessoria, o Consórcio confirmou que está negociando com os clubes, mas não irá se pronunciar mais detalhadamente enquanto o contrato com o governo do Rio ainda não for assinado.
Botafogo quer o Maracanã
O Botafogo quer o Maracanã para mandar seus jogos no Rio enquanto a interdição do Engenhão persistir. Para o clube, esta interdição não deve durar mais que dois anos, por causa do prazo para o estádio ser usado em 2016.
Assim, após ser liberado pela prefeitura para negociar outro estádio para jogar no Rio, já que a concessão pelo Engenhão é de uso exclusivo, a diretoria procurou o Consórcio com a proposta de jogar no estádio por um período de até dois anos. Porém, as negociações ainda não avançaram.
PROJETO DO FLAMENGO
Geral
O Flamengo deseja uma revitalização de toda a Gávea. Apesar de a nova diretoria ter reconhecido algumas melhorias feitas pela gestão anterior, o clube quer ter uma estrutura semelhante a do Minas Tênis Clube, de Belo Horizonte, e do Pinheiros, de São Paulo, referências no Brasil.
A vedete
A construção de uma arena multiuso é o primeiro passo e o mais vislumbrado pelos dirigentes dentro desse contexto. A ideia é ter um espaço com até oito mil lugares para receber shows e eventos esportivos, entre eles jogos de basquete e partidas da equipe de futebol. As referências são as arenas americanas. Um projeto deve ser encaminhado à prefeitura.
CT do Flu quase na mão
Edifício
Pelo acordo alinhavado entre Flu e Odebrecht, a construtora pagará ao clube cerca de R$ 11 milhões pelas luvas contratuais. O dinheiro será usado exclusivamente para a construção do centro de treinamento profissional, no terreno da Barra da Tijuca. O valor é 80% do necessário para construir o CT.
Pelo acordo alinhavado entre Flu e Odebrecht, a construtora pagará ao clube cerca de R$ 11 milhões pelas luvas contratuais. O dinheiro será usado exclusivamente para a construção do centro de treinamento profissional, no terreno da Barra da Tijuca. O valor é 80% do necessário para construir o CT.
Entrave
Para não sofrer com penhoras, o Flu estuda criar uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) para a construção do CT. A segunda hipótese é que a Odebrecht faça o pagamento diretamente à empreiteira que fará a obras. O Flu já terminou o estudo do solo do terreno e descobriu ele não é pantanoso, o que deixa a obra mais barata do que se imaginava a princípio.
Para não sofrer com penhoras, o Flu estuda criar uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) para a construção do CT. A segunda hipótese é que a Odebrecht faça o pagamento diretamente à empreiteira que fará a obras. O Flu já terminou o estudo do solo do terreno e descobriu ele não é pantanoso, o que deixa a obra mais barata do que se imaginava a princípio.
A LICITAÇÃO
Janeiro de 2012 – Governo estadual lança edital de manifestação de interesse pelo Maracanã para estudo de viabilidade financeira. Dois meses depois, IMX é a única a apresentar o documento.
Outubro de 2012 – Governo lança minuta do edital.
Fevereiro de 2013 – Edital de concessão definitivo lançado.
9 de maio de 2013 – Depois de questionamentos do MP e guerra de liminares para suspender a concessão, governo anuncia vencedor.
NÚMEROS
1,4 bilhão de reais
É o lucro estimado do Consórcio Maracanã S.A. pelos 35 anos de concessão.
1,049 bilhão de reais
Foi o custo oficial da reforma para a Copa das Confederações e Copa do Mundo.
Foi o custo oficial da reforma para a Copa das Confederações e Copa do Mundo.
110 camarotes
Novos com capacidade média para 25 pessoas, que são fontes de receita.
Novos com capacidade média para 25 pessoas, que são fontes de receita.
78 mil
Assentos é a capacidade atual. Destes, 10 mil são da área premium, perto do gramado.
Assentos é a capacidade atual. Destes, 10 mil são da área premium, perto do gramado.
Pedro Trengrouse, especialista em gestão do esporte (FGV-RJ)
“Exitem casos no mundo de estádios compartilhados. Talvez o mais emblemático seja o estádio do Inter e do Milan, na Itália. Para se ter uma ideia da dificuldade de compartilhamento do estádio, para o Inter ele se chama San Siro e para o Milan, Giuseppe Meazza. Ou seja, eles não concordam nem no nome do estádio. Então, começa por aí a dificuldade. É verdade que o estádio não representa uma renda significativa para esses clubes, poque eles não conseguem desenvolver negócios.
No Maracanã, qualquer que seja a proposta que essas empresas façam, a única possibilidade de elas oferecerem bons negócios para os clubes seria se elas tivessem condições de desenvolver vários outros negócios além do futebol, porque para desenvolver o futebol os clubes não precisam de empresa alguma, não precisam da Odebrecht para ficar com 90%, a IMX com 5% e a AEG com 5%.
Então, a única forma de desenvolver o futebol seria se essas empresas estivessem agregando valor ao estádio que os clubes não tivessem condições de agregar. Não é o caso, porque dois clubes grandes jogando ali deixam pouquíssimas datas para que se realizem outros eventos, que não sacrifiquem o futebol.
Como o calendário brasileiro sobrecarrega os clubes da Primeira Divisão, de maior poder de investimento, sobra pouco espaço para o valor que essas empresas poderiam agregar. Como elas têm que se remunerar, acabam se remunerando em cima dos clubes. Então, é difícil que elas ofereçam bons negócios para os clubes.
O modelo de negócio pode variar. O ideal para os clubes é que eles tenham condições de explorar tudo o que tiver relação com o seu jogo: o camarote, o estacionamento, alimentos e bebidas. Então, todas as propriedades relativas à atividade dos clubes têm de ser dos clubes. Eles são o principal motivo da atividade. Se não estivessem lá, não haveria ninguém no estádio. Quem traz o conteúdo tem de ter direito sobre tudo o que este conteúdo tiver condições de gerar.
As placas de publicidade, por exemplo, têm de ser divididas. A publicidade de campo é a publicidade móvel, que não pertence ao estádio. Ela pertence ao jogo. Um exemplo disso é a Arena Fonte Nova, que também pertence à Odebrecht. Enquanto a Itaipava pagou R$ 10 milhões pelos naming rights da arena, quem aparece na beira do campo é a Nova Schin e a Brahma. A primeira porque patrocina o Campeonato Baiano e a segunda porque patrocina os clubes. O estádio possui placas de publicidade, sim, mas são placas de segunda linha. Só quem vê essas placas são as pessoas que vão ao estádio.
Esse consórcio não fez nenhum investimento no Maracanã. O investimento da obra do estádio foi pago pelo povo, quem pagou foi o governo. Eles estão pegando o estádio do zero, o que quer dizer que não há um investimento passado deles naquela conta. Só tem uma operação futura. E essa operação futura os clubes poderiam pagar, não precisariam deles. Até agora, as empresas não ofereceram nada que os clubes não tivessem.”
Fonte: Lancenet