Irritados com ação da Adidas, rubro-negros protestam em redes sociais

A questão não é se o Sport tem direito ou não de se considerar campeão. Se eu patrocino dois times que disputam na justiça o reconhecimento de um título, é lógico que lançar uma camisa em alusão a esse título vai desagradar o outro lado. E quando o outro lado é o clube que eu patrocinava na época desse campeonato que virou motivo discórdia, soa como provocação. É algo tão básico que mal dá pra acreditar que não pensaram nisso. Quem não gostou está no seu direito, pois a atitude da adidas não foi a que se espera de um parceiro, menos ainda pelo fato do Flamengo ser o clube que mais vende camisas na América. Quem lucra (e muito) com a paixão do torcedor, e quer continuar lucrando, tem que respeitar essa paixão.

Vendo tudo isso eu fico mais impressionado com a ingenuidade da adidas. Péssima estratégia e pior ainda a gestão da repercussão negativa. No fim, ao tentar consertar a besteira que fizeram, conseguiram irritar até o Sport.

A questão aqui não é opinião. A adidas patrocinava o Flamengo em 87, publicou anúncios comemorando o título, eles também sabem quem ganhou. O ponto da discussão, e que gerou insatisfação nos torcedores, é que a adidas também patrocina o Flamengo hoje. É um parceiro do clube. E como parceiro, sabendo que há uma disputa na justiça com o Sport para o reconhecimento dessa conquista, é uma bola fora criar uma camisa celebrando o título que eles ganharam no tribunal. Se não fizeram nenhuma alusão a 87 na nova camisa do Flamengo (e faria até mais sentido “puxar saco” do Flamengo, que é o o seu principal contrato na América e o clube que mais vende camisas no continente), por que fazer isso com o Sport? Se tivessem o mínimo de noção, não teriam feito para nenhum dos dois. Como falei, soa como provocação.

A título de comparação, a adidas chegou a soltar nota oficial criticando o Mario Gotze por ter usado uma camisa da Nike na apresentação dele no Bayern. Alguém poderia dizer “ah, besteira, é o patrocinador do cara, depois ele vestiu a camisa do time”. Não no nível de profissionalismo do futebol atual. Gerou um tremendo mal estar. Mais recentemente o Aubameyang comemorou um gol colocando uma máscara da Nike, onde nem aparecia a marca da empresa, e a Puma exigiu do Borussia que o jogador fosse multado. Se as empresas não aceitam que a marca de um concorrente apareça, por mais rápido e menor que seja, por que o clube não pode criticar a criação de uma camisa em alusão a um título disputado na justiça com um adversário, lançada pelo seu próprio fornecedor de material, que também era o fornecedor na época da conquista? E nesse caso não se trata de uma aparição rápida, mas de uma camisa que será comercializada em larga escala durante um ano. Fora a campanha de lançamento, que parece ter sido planejada pelo Diego Souza. Porque, sinceramente, é difícil acreditar que tenha partido de um profissional que conhece toda a história. E não falo isso como torcedor, mas como quem trabalha com marketing. Toda a estratégia da adidas e a maneira como lidou com a repercussão foi uma sucessão de erros, a ponto de conseguirem irritar as duas torcidas.

Na verdade não acabou, a diretoria avisou que ia recorrer da decisão. E ainda que não fosse, isso não encerraria a questão. A torcida do Flamengo e o clube vão sempre contar com o título da Copa União, assim como o Sport vai sempre considerar que ganhou. Se eu patrocino as duas equipes, trinta anos depois dessa disputa, o que eu faço? Nada. Se fizessem muita questão de uma camisa comemorativa, proponho o lançamento de uma camisa retrô para a torcida. Ou no mínimo não faço o lançamento dando ênfase a um título pra lá de questionável e motivo de discórdia até hoje. Porque, como você mencionou, a empresa é parceira dos dois times. Não dá pra separar as ações.

“Ah, mas só querem saber de vender camisa”. Quem em sã consciência arrisca deteriorar a relação com o principal público consumidor, o que mais compra produtos licenciados, pra vender umas camisas a mais? Como se a camisa não fosse vender se não fizesse alusão a 87. Erraram feio na avaliação, tanto que tiveram que voltar atrás. E não foi a primeira vez, teve também o lançamento da camisa pelo Desimpedidos. A falta de noção da adidas no Brasil é inacreditável e não vem de agora.

Declaração do Flávio Willeman, vice-presidente jurídico do Flamengo, após o julgamento do STF:

– Vamos aguardar a publicação da decisão para analisar a possibilidade de recurso. Claro que cabe recurso, embargo de declaração… O Flamengo vai aguardar o conteúdo da decisão para avaliar. Talvez não caiba recurso que permita a modificação imediata, cabe recurso para aclarar a decisão.

Se vão ou não recorrer, como falei antes, não muda o fato de que a divergência vai continuar existindo. Nem minimiza o equívoco da adidas.