Nesta sexta-feira (10), foi anunciada a “grandiosa” entrada do Flamengo no esports. Grandiosa entre aspas, porque os 11 milhões de entusiastas brasileiros do esports esperavam muito mais de um dos grandes clubes de futebol não apenas do Brasil, mas do mundo.

Desde o anúncio de que entraria no esports, o Flamengo fez um belo plano de comunicação envolvendo Twitter, Facebook e a principal plataforma de transmissão de competições de esports, a Twitch. Tanta comunicação atraiu a atenção dos fãs em todas as redas sociais apontadas e, nesta semana, muito se falou sobre quais seriam os jogos e jogadores a serem anunciados pelo time.

Com especulações de todos os lados e “novidades em breve” pipocando e se tornando um meme, a expectativa era de um investimento inicial pesado, mas o que vimos foi uma entrada tímida, quase de coadjuvante, sem nenhum protagonismo no cenário.

Anunciando dois times de League of Legends e peneiras tanto para seu “time B” quanto para o principal, que jogará a segunda divisão do jogo, o clube mostra que não tem confiança ainda sobre a contratação de grandes medalhões no cenário do game, como o atirador carioca Felipe “brTT” Golçalves e o caçador, também carioca, Gabriel “Revolta” Henud. Além disso, quem são as pessoas que vão selecionar os jogadores nessa peneira e que posteriormente treinarão esses “escolhidos” para transformar esse time de novatos em elite?

Se compararmos o projeto do Flamengo ao dos demais clubes de futebol do Brasil, Santos e Remo, ele claramente parece melhor estruturado, planejado, pensado e mais promissor. Entretanto, é importante ressaltar – novamente – que muito mais era esperado de um clube com o tamanho e com a história esportiva que Flamengo carrega em suas costas. E mesmo que o vice-presidente de marketing do Rubro-Negro, Daniel Orlean, tenha utilizado as palavras e expressões certas como “aprender” e “criar uma história”, não acredito que esse discurso se encaixe nas ambições do time durante muito tempo.

Batendo nesse ponto, que envolve a grandeza e a referência nacional, o Mengão poderia ter muito mais visibilidade e conquistas se escolhesse DOTA 2 como seu jogo de debute. Além do investimento inicial ser menor, o game possui um cenário fragmentado e um time forte poderia garantir vagas internacionais e unir os brasileiros ao redor da equipe, dando à palavra “nação” mais sentido dentro do esports para o Clube de Regatas e, a partir daí, o time poderia se estruturar melhor para alçar voos mais altos.

Mesmo esperando mais protagonismo desse projeto, nem tudo está perdido. Algumas ideias da Cursor eSports para o Flamengo são muito boas, começando pelo gaming office. Não é de hoje que questiono o modelo de gaming house copiado das equipes sul-coreanas. Acredito que cada região precisa encontrar seu próprio direcionamento e estilo de trabalho, entendendo que nem sempre o que funciona lá fora pode funcionar aqui. Morar no trabalho é algo que acaba com a individualidade dos jogadores e pode prejudicar a relação da equipe.

Um profissional precisa ter sua casa, seu canto e sua vida pessoal separada do seu trabalho, caso contrário as duas coisas podem se misturar e gerar casos problemáticos, muitos deles já vividos e sabidos nos bastidores do esports. Portanto, ter um centro de treinamento em que os jogadores cheguem para trabalhar e vão embora depois é uma bela ideia.

Os próprios jogadores anseiam por isso, e já houve casos como o do próprio brTT que conseguiu sair da gaming house da paiN e se sustentar com seu trabalho. Porém, isso pode não ter sido bem-visto por seus companheiros de trabalho, já que logo depois de sair do QG da paiN, brTT foi para o banco.

Outro ponto interessante é a formação de um time secundário, porém até o momento a única equipe que conseguiu fazer jogadores de base se transformarem em elite foi a INTZ – e isso não foi feito da noite para o dia. A ideia é boa, mas ela traz consigo um risco muito grande de ser esquecida e revelar apenas talentos brutos, como foi o caso do Preparando Campeões do CNB, que por mais que tenha descoberto talentos, apenas alguns conseguiram se estabelecer – o mais recente foi Yan Petermann, o Yampi, atual caçador da OPK.

Para isso dar certo, o Flamengo precisa investir em uma comissão técnica forte e preparada para transformar jogadores comuns em jogadores profissionais. Não basta encontrar 10 jovens com vontade de viver de LoL, é preciso moldá-los com espírito vencedor e analítico para entender como funciona o cenário competitivo.


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Palavras ao vento e promessa de um futuro

O projeto do Flamengo não teve um início promissor. Pensando no curto prazo, ele é inexistente e me parece apenas um recurso para vender mais camisetas e flâmulas, quem sabe até bonés. Comprar uma vaga de desafiante por 50 ou 40 mil reais não é um investimento alto – e vamos reforçar que esta é apenas uma vaga para a segunda divisão, não o CBLoL. Faltou apresentar ao menos uma comissão técnica para dar um “cheirinho de time” a sua divisão de LoL.

Além disso, apresentar streamers antes do time me causou uma impressão estranha. Justificar a falta de atletas devido ao calendário é válido, por mais que seja apenas uma desculpa, mas não dá para justificar porque o projeto tem streamers antes mesmo de se ter um técnico, principalmente quando existem alguns muito bons sem contrato e que adorariam a oportunidade de transformar o Flamengo eSports em uma potência real. O Flamengo poderia estar começando uma história vencedora como foi a história da Team oNe, ou da Origen, mas escolheu iniciar do jeito mais fácil.

No fim das contas, o anúncio não foi condizente com a hype, nem ao tamanho do Flamengo – e acredito que nem mesmo foi satisfatório para os envolvidos. Esperamos que o futuro deste projeto seja maior e mais ambicioso, que transforme o Flamengo em uma equipe de elite e mostre que realmente se importa com esse cenário sem ser apenas uma bravata como aconteceu até agora com times como Remo e Santos.

Fonte: ESPN