Postado em: 19 de mar de 2013.
Há menos de um mês, André Lazaroni, advogado especializado em direito ambiental e deputado estadual pelo PMDB, assumiu a Secretaria de Esportes e Lazer do Estado do Rio de Janeiro no lugar de Márcia Lins, que estava no cargo desde 2008. Sua primeira missão será entregar o Maracanã, palco das finais da Copa das Confederações deste ano e da Copa do Mundo de 2014. André revelou que o primeiro evento-teste, no dia 27 de abril, será uma “pelada” entre times de amigos de dois grandes ex-jogadores brasileiros, com 30% da capacidade do estádio e acesso apenas para operários e seus familiares. A presença de Ronaldo como uma das estrelas não está descartada.
Primo do técnico da seleção brasileira no Mundial de 1990, Sebastião Lazaroni, André não mostrou medo de expor convicções polêmicas, da retirada dos índios de um terreno nas proximidades do Maracanã ao sonho de ver o Flamengo vendido a um bilionário árabe. O governo do Rio desistiu da demolição do prédio do Museu do Índio e vai transformá-lo Museu Olímpico do COB, apesar de protestos dos habitantes da “Aldeia Maracanã”.
– Eles têm de sair. Estão ali ilegais. Aquilo ali é um Museu do Índio, não é uma aldeia. Esses índios que estão aqui, será que têm a mesma legitimidade que têm os índios… Porque índio mesmo mora na floresta, não é? Índio mesmo a gente está protegendo na Amazônia. Eles estão lá gerando riqueza para a sua tribo. Os índios que estão aqui na verdade hoje são instrumentos políticos de partidos de oposição – disse o secretário.
As cores do Flamengo decoram a parede do gabinete de André, no qual há duas camisas rubro-negras em molduras. Ele fala em plantar a “sementinha americana” do modelo de esporte universitário e afirma que a Lei Pelé “arrebentou” os clubes, alegando que o fim do passe deixou as instituições desprotegidas.
Cita especificamente o caso do jovem Matheus, filho do ex-atacante e também deputado estadual Bebeto, que está deixando a Gávea rumo ao Juventus, da Itália, em negociação na qual o Flamengo se viu obrigado a aceitar a transferência por R$ 5 milhões para não deixar que o jogador fosse de graça para o exterior. Anunciando-se um liberal, André também defendeu a venda de bebidas nos estádios, sustentando que a proibição não impede brigas e que essa questão é de segurança pública. Confira os principais trechos da entrevista:
Evento teste no dia 27 de abril
Fica pronto dia 24 de abril, dia 27 é o primeiro evento-teste. Vamos usar 30% da capacidade do estádio, pegar dois times, não clubes, provavelmente de duas grandes celebridades do mundo do futebol. Pode ser o Ronaldo Fenômeno, não está definido, mas serão dois grandes atletas que fizeram muito pelo futebol. E vamos dar a honra a esses dois de serem os primeiros a pisar nesse gramado bonito e jogar a primeira partida no Maracanã. Só operários e familiares terão acesso. Serão 25 mil pessoas.
Em 8 de maio teremos outro evento, para 50%, 60% da capacidade. Vai ser um jogo maior, ainda não definimos. Pode ser que de clubes, ou não. Esses dois primeiros são para ajustes de operação. Provavelmente teremos algumas falhas, é normal, então não vamos fazer aberto porque falha a gente corrige em casa. Queremos chegar, em junho, com o Maracanã operando na sua plenitude. O acesso à imprensa também está em discussão. Quem define é o governador. Eu sou favorável.
Saída do cargo antes da Copa do Mundo
Provavelmente serei candidato à reeleição como deputado. O jogo é aberto, eu sou político, eu gosto do parlamento, adoro. Vim para cá como uma experiência. Encaro a secretaria como a grande oportunidade da minha vida de mostrar às pessoas que posso ser um bom gestor. Todo brasileiro conhece um pouco de esporte. Posso não ser formado em Educação Física, mas todos nós sabemos o quanto o esporte foi importante nas nossas vidas. Fico feliz quando sou criticado por ser um ambientalista, é sinal que consegui passar a minha mensagem nesses dez anos de parlamento. Agora, qual a minha meta na secretaria? Sair daqui reconhecido como um bom gestor. Quero dar uma nova cara e que as pessoas conheçam os projetos sociais. A cara da secretaria não pode ser só cara de evento.
Troca de comando na secretaria
Ela (Márcia Lins) não saiu por incompetência. Fez um grande trabalho. Ficou seis anos no cargo, mas não é uma pessoa política. Houve um entendimento que precisava dar uma mexida. A Secretaria de Esportes tem tido um papel atuante, porém a Casa Civil é que tem tocado os eventos. No meu entendimento, precisava de uma maior articulação política. Aqui é muito mais gestão do que entendimento. Colocar as pessoas certas no lugar certo. Vim porque tive a confiança do governador. Ele é um homem de projetos. Estamos querendo dar mais visibilidade à pasta. Qual é o grande projeto da secretaria? As pessoas não conheciam nem o nome do secretário. Não estou criticando a Márcia, mas talvez ela não tenha esse sentimento que eu tenho. Estou aqui porque gosto de ter esse relacionamento com as pessoas. A secretaria não pode ser somente do Maracanã. Não é só isso. O esporte é muito mais do que uma Copa ou Olimpíada, é diminuição de preconceito é aceitação. Queremos criar um grande projeto para apresentar para a sociedade.
Concessão do Maracanã
Temos uma licitação em progresso. No mundo moderno, o Estado não deve ser um agente empresarial. A gente entende que esse é o melhor caminho até porque é um custo elevado. Vai ser melhor para o cidadão, e o Estado não perde o Maracanã. A concessão é benéfica e visa ao lucro. Se ficar na mão da gente não vai dar retorno. Você pode ter melhores salários. O brasileiro precisa perder a vergonha de ser capitalista. Quem defende o atraso defende a não concessão dos aeroportos. Dia 11 de abril se abrem os envelopes. Acho que até lá já teremos um concessionário.
Operação do estádio
A Suderj está montando um plano para operar até quando o consórcio ou empresa que vencer a concessão do Maracanã começar a operar. O intuito é que já comece a ser operado por essa empresa ou consórcio antes da Copa do Mundo, mas pode acontecer de tudo. A gente espera que sim, o processo está todo bem feito, mas a gente nunca sabe se a Justiça vai dar uma liminar, ou não, enfim… É um novo Maracanã, é 100% diferente do antigo, ninguém nunca operou.
Clubes fora da licitação
A Lei Pelé deu uma arrebentada nos clubes. O que a gente achou que era bom, acabou sendo ruim para os clubes. Não estou criticando o Pelé, mas estamos perdendo nosso plantel com 9, 10 anos de idade. Os clubes não têm condições de segurar. O maior exemplo é esse filho do Bebeto (Matheus, que está trocando o Flamengo pelo Juventus da Itália). Sai com 17 anos porque aos 15 faz um contrato, aos 18 necessariamente o contrato vence. O Flamengo investiu nele o tempo inteiro e acabou, ele vai para onde ele quiser. Se o Flamengo não vendesse, perderia o dinheiro, então isso é ruim. Se o clube é dono do passe, tem uma possibilidade melhor de negociar.
‘Fatores de corrupção’ nos clubes
Se está num modelo de gestão profissional, no qual os dirigentes recebem… Mas são organizações não governamentais, ninguém pode receber, e você acaba criando fatores de corrupção em cima. Aí é o empresário que começa a dar as cartas, aí você não sabe porque um dirigente se envolve demais com um empresário. Se fosse um modelo privado, essas coisas estariam muito claras: ‘Eu sou uma empresa privada e preciso dar satisfação para os meus acionistas’. Pronto. Um cara que tem um título do Flamengo poderia estar recebendo dividendos, como no mundo inteiro.
Secretário sonha com venda do Fla a bilionário árabe
Se chegar um árabe aqui e quiser comprar, não compra. E você que tem um título patrimonial, não vê o seu time jogando bem, a estrutura como clube não é boa, a piscina é ruim, tudo inviabiliza. Acho que a torcida gostaria muito (que um bilionário árabe comprasse o clube), mas a maioria da torcida não é sócia do Flamengo. Como torcedor, eu gostaria de ver uma gestão profissional no Flamengo, porque quero ser campeão. Como secretário, vou ajudar todos os clubes, mas não nego, sou torcedor rubro-negro, quero ver o Flamengo campeão, a verdade é essa.
A polêmica do Museu do Índio, que vai virar Museu Olímpico
Aí é o meu lado cultural, sou sempre a favor de termos museus. E temos de arrumar outro local para o Museu do Índio. Acho que foi sábia a decisão do governador em não demolir. Eles (índios da “Aldeia Maracanã”) têm de sair. Estão ali ilegais. Aquilo ali é um Museu do Índio, não é uma aldeia. Esses índios que estão aqui, será que têm a mesma legitimidade que têm os índios… Porque índio mesmo mora na floresta, não é? Índio mesmo a gente está protegendo na Amazônia. Eles estão lá gerando riqueza para a sua tribo. Os índios que estão aqui na verdade hoje são instrumentos políticos de partidos de oposição. Talvez eles nem saibam, talvez sejam até inocentes úteis. E faltou até uma conversa com os índios. Se eu estivesse aqui no momento da discussão, provavelmente os teria recebido e achado uma solução, porque nós que somos políticos temos de achar solução para os conflitos sociais. Agora vem uma meia dúzia que estão lá no meu parlamento, ficam aqui abanando os índios e eles ficam aqui sendo utilizados como inocentes úteis. Ou não. Ali não funciona o Museu do Índio há muito tempo. Se alguém tem culpa desse museu não estar funcionando não é o governo do estado. Aquilo ali veio para a mão do governo do estado agora como uma contrapartida para um grande complexo. Isso aqui vai ser um grande complexo esportivo, sócio-esportivo, cultural e de lazer. Nós vamos ter aqui o Museu de Futebol, vamos ter aqui o COB, vamos ter aqui restaurantes, vamos ter aqui um grande Maracanã.
Bebida nos estádios
Eu sou liberal, não é? (risos) Os meus pensamentos são muito polêmicos. Sou favorável à venda de bebidas. Mas aí é o seguinte, decisão de governo. Nunca discuti isso com o governador, eu tenho um chefe. Hoje há uma proibição que é da época do Eduardo Paes, então o governo sendo contra essa venda de bebida, eu continuo sendo contra. Mas eu, André Lazaroni… A bebida pode potencializar a agressividade. Mas nem todo mundo bebe e o agressivo já é agressivo por natureza. Tem bandidos em algumas torcidas organizadas, mas não pode chamar todo torcedor de organizada de bandido, todo maconheiro de surfista e todo surfista de maconheiro, quando eu era garoto a gente brincava com isso. Não pode generalizar, o grande erro é quando você generaliza. Isso é questão de segurança pública. Quebrou o estádio? Vai preso. Matou? Tem de ir preso. Brigou? Preso. Agora, o grande problema é quando generaliza, aí comete excessos, equívocos. Vai lá no Engenhão, uma bagunça do lado de fora. Não tem lugar para vender cerveja, ficam os ambulantes e o cara fica até a hora do jogo, já entra bêbado. E não impede a briga, não é a cerveja que cria a briga.
Novos espaços para atletas
Quem terá que construir será o consórcio. O atletismo está treinando no Engenhão, e a piscina do Mara Lenk será para projetos sociais. Queremos fazer um convênio com o CEFAN (Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes/ Marinha) para jogar algumas modalidades para lá.
Fonte: GE
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