Finalista da Copa do Brasil, o Flamengo acabou premiado depois de decidir abertamente lidar com a escassez de recursos para a montagem de um time de ponta em 2013, em troca de um reequilíbrio de suas contas.
O clube se antecipou ao chamado “fair play” financeiro, que é discussão pelo mundo, e vê com bons olhos o debate que prevê benefícios aos times que cumprem as obrigações pagando seus impostos.
O vice de finanças Rodrigo Tostes lembra o Flamengo, como bom pagador, aparece bem nas conversas com o governo sobre a renegociação da dívida no longo prazo, abrindo a possibilidade de um maior investimento.
— Seria importante, pagando em dia, e dando oxigênio para investir. O que o Flamengo fez esse ano foi ousado, duro. Reduzindo o valor e e postergando a dívida poderíamos fazer investimento maior. O problema é que os clubes renegociavam e num primeiro momento de risco tira m dinheiro pra contratar jogado r. Não vamos fazer isso — garante o dirigente.
Tostes informou que o Flamengo não conta mais com os R$ 5 milhões prometidos pela Prefeitura para reforma do Centro de Treinamento. Mas vai cobrar do Grêmio os R$ 10 milhões da dívida pela compra de Rodrigo Mendes.
— Agora somos bons pagadores e bons cobradores — ironiza Rodrigo Tostes.
CONFIRA A ENTREVISTA COM O DIRIGENTE
A diretoria assumiu falando que havia 100 milhões em penhoras por causa de ações por falta de pagamento de imposto, ações civis e trabalhistas. Em quanto conseguiram reduzir a dívida este ano?
– Dos R$ 750 milhões que pegamos, chegaremos no fim do ano pagando R$ 100 milhões .
E quanto o clube arrecadou de fato com novos parceiros. Deu para equilibrar a conta?
– O trabalho foi dividido em cinco passos: o primeiro ver o tamanho do buraco, com a auditoria. A segunda tarefa foi trazer credibilidade. Retirar as penhoras para poder obter as certidões negativas. O terceiro foi aumentar a receita. Não dá pra fazer trabalho nenhum sem aumentar a receita. Aumentamos através de patrocinadores e sócio-torcedor. O quarto foi negociar as dívidas. E o quinto que começou agora e vai durar por bastante tempo, que é a redução de despesa. Ano que vem vamos olhar mais a fundo a redução das despesas no clube. Esse ano foi aumentar a receita. Mas a gente fez muito pouco na redução de despesas.
JOGO EXTRA – A preocupação em conter gastos durante a temporada não foi levada a sério?
– Quando você manda gente embora, dispensa atletas, você tem despesa. Tivemos os casos do Ibson, Renato Abreu, e outros atletas. O grande ponto é reduzir isso a longo prazo. Isso a gente tentou fazer. Mas o clube ainda não é eficiente do ponto de vista administrativo. Não tem como ser em um ano. A folha CLT está em dia. Nós não encontramos dessa forma. Mas temos processos em aprovação. Um sistema que funciona. Transparência nas operações. Balanço trimestral. Orçamento plurianual para os próximos anos. Não dá para consertar vários anos em um só. Também não dará ano que vem. Vamos começar um trabalho agora em dezembro para olhar onde podemos reduzir despesas.
O clube se desfez de jogadores, mas trouxe outros também caros. Qual a economia real? Quanto reduziu a folha?
– Se comparar, ano passado, todos os custos, a maior economia foi não aumentar a despesa do futebol. Futebol é a galinha dos ovos de ouro. Se quiser começar a reduzir por ele o risco é grande. O plano para o ano que vem, com foco no futebol, vai ser fazer a redução em algumas áreas e aumentar em outras. No futebol não teve redução significativa, mas não teve aumento.
Por que o clube jogou fora o que já tinha pago pelo Vagner Love?
– Exatamente para não deixar aumentar. Os contratos tinham trampolins que impossibilitavam que estivesse tudo em dia, os salários. Não posso em função de um ou dois comprometer toda a estrutura.
O clube recebeu a multa do Mano?
– Sim, foi regularizado.
Já há uma projeção de gastos e investimentos para 2014? O que esperar se ganhar ou perder a Copa do Brasil?
– Hoje temos planejamento perdendo ou ganhando. Se ganhar vamos readequar. Mas quando falo na redução de custo não falo do futebol, apenas. O clube tem que ser mais eficiente. Não podemos matar o futebol. Vamos ter que aumentar o investimento, ganhando ou perdendo a Copa do Brasil, porque queremos um time mais forte. Mas tem que gastar com inteligência.
O time é esse mesmo para 2014? Ou haverá dinheiro em caixa para buscar reforços? Quantos? O Mano comentou que a folha era de 8 milhões e dos concorrentes 12, 14 milhões
– Vamos fortalecer o time. É o que posso prometer.
Se o Flamengo se classificar para a Libertadores, qual vai ser a faixa de preços dos ingressos?
– Não temos os preços. Mas se classificar a ideia é dar o privilégio do sócio-torcedor comprar os três primeiros jogos num pacote.
Dá pra concorrer com o Corinthians em termos de receita sem um estádio próprio?
– Hoje, como foi estruturado o contrato do Maracanã, é bom, mas pode ser melhor com um estádio próprio. O Corinthians negociou e o Flamengo perdeu essa oportunidade lá atrás. Agora é difícil. Para fazer estádio precisa de terreno, investidor, mas não é uma situação que a gente tira da frente, não. Mas a conta tem que ser melhor que o Maracanã; Não dá é para ter contrato de longo prazo com Maracanã e um estádio próprio.
JOGO EXTRA – Onde está o dinheiro da Adidas e da Caixa hoje? Acabou? Pode vir mais receita de onde? Marketing, bilheteria?
– Não está tudo comprometido. Mas o Flamengo tem grandes oportunidades de receita ainda. Vamos buscar de todos os lugares. Projetos de lei de incentivo. A gente precisa captar. É uma grande oportunidade. Esse trabalho já começou, mas não tem um número. A gente aprovou R$ 75 milhões. Para esportes olímpicos, reformar o CT. Fora a questão ética e moral foi um dos grandes objetivos por pagar R$ 7 milhões de imposto por mês. Captar é uma outra tarefa. Ainda estamos tentando reunião com o prefeito para tratar do CT. Mas não conto mais com isso. O orçamento tem que ser conservador. Se a Prefeitura encontrar um solução, ótimo.
Fonte: Extra Globo